segunda-feira, novembro 26, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 148

O juiz divertiu-se imensamente com tudo aquilo:

 - Então, seu Tonico, tão amigo do árabe e, por trás a botar-lhe os cornos? Eu também andei interessado por ela mas, depois que casou nem pensei mais. Mulher casada eu respeito.

No fundo, como se passava com Ezequiel, era um pouco a contragosto que concordava em conceder a anulação discretamente sem processar Tonico, deixando-o como funcionário honesto e de boa fé, enganado por Gabriela, aparecendo como vítima.

Não simpatizava com ele, desconfiado de haver-lhe o galante tabelião ornamentando também a cabeça, nos tempos de Prudência, quase dois anos manceba do magistrado.

Em compensação gostava de Nacib, e queria ajudá-lo. Quando estavam saindo, o juiz indagou:

 - E ela, que irá fazer, hem? Agora está livre e sem compromisso. Se eu não estivesse tão bem servido… Aliás, ela deve vir me falar. Agora tudo depende dela. Porque se ela não concordar…

João Fulgêncio antes de voltar para casa, foi procurar Gabriela. Dª Arminda a recolhera. Ela concordava com tudo, nada queria, sem sequer se queixar das pancadas, elogiando Nacib:

 - Seu Nacib é tão bom, eu não queria ofender seu Nacib.

Foi assim que, com um processo de anulação de casamento cujos trâmites correram velozes, da petição inicial à sentença, em pouquíssimo tempo, o árabe Nacib encontrou-se novamente solteiro, tendo sido casado sem o ser realmente, tendo pertencido à Confraria de São Cornélio sem realmente a ela pertencer, ludibriada a benemérita sociedade dos maridos conformados.

Foi assim que a Srª Saad voltou a ser Gabriela.


Amor de Gabriela

Na Papelaria Modelo comentavam o caso. Nhô – Galo dizia:

 - Solução genial. Quem podia imaginar que Nacib era um génio? Eu já gostava dele, gosto ainda mais. Ilhéus possui, finalmente, um homem civilizado.

O Capitão perguntava:

 - Como você explica, João Fulgêncio, o carácter de Gabriela? Pelo que você conta, ela gosta mesmo de Nacib. Gostava e continua a gostar. Você diz que a separação para ela é muito mais dura do que para ele. Que o facto de botar os chifres não significa nada. Como assim? Se gostava dele porque o enganava? Que explicação você me dá?

João Fulgêncio olhava a rua movimentada, via as irmãs Dos Reis envoltas em mantilhas, sorria:

 - Para quê explicar? Nada desejo explicar. Explicar é limitar. É impossível limitar Gabriela, dissecar sua alma.

 - Corpo formoso, alma de passarinho. Será que tem alma? – Josué pensava em Glória.

 - Alma de criança, talvez – O Capitão queria entender.

 - De criança? Pode ser. De passarinho? Besteira, Josué.

Gabriela é boa generosa, impulsiva, pura. Dela podem enumerar-se qualidades e defeitos, explicá-la jamais. Faz o que ama, recusa-se ao que não lhe agrada. Não quero explicá-la. Para mim basta vê-la, saber que existe.

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