Um momento de descontracção... |
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 157
O silêncio de Clemente era
uma resposta. As sombras cresciam não iria tardar, e a mula-de-padre, vinda do
inferno, solta na mata, passaria a correr, os cascos batendo nas pedras, em
lugar da cabeça um fogo saindo do pescoço cortado.
- Que tu vai ganhar, que serventia vai ter tu
ver ela outra vez? Tá uma dona casada, mais bonita que nunca, não mudou a
natureza com o casório, fala com a gente da mesma maneira. Pra que tu quer ver?
Num adianta.
- Só pra ver. Pra ver uma vez, espiar a cara
dela, sentir seu cheiro. Pra ver ela rir, aprender outra vez.
- Tu tem ela plantada no teu pensar. Tu só
pensa nela. Eu já arreparei, tu agora só fala em pedaço de terra por falar.
Depois que tu veio saber do casamento. Pra que tu quer ver?
Uma cobra-de-vidro saíu do
mato, correu na estrada. Na sombra difusa seu corpo brilhava, era bela de
ver-se, parecia um milagre na noite da roça.
Avançou Clemente, baixou a
enxada, em três pedaços partiu-se a cobra-de-vidro. Com outra pancada
esmagou-lhe a cabeça.
- Porque tu fez isso? Não é venenosa… Não faz
mal a ninguém.
É bonita de mais, só com isso faz mal. Andaram
em silêncio um pedaço da estrada. O negro Fagundes disse:
- Mulher a gente não deve matar. Mesmo que a
desgraçada desgrace a vida da gente.
- Quem falou em matar?
Jamais o faria, não tinha
coragem, forças não tinha. Mas era capaz de dar dez anos de vida, a esperança
de um pedaço de terra, para vê-la mais uma vez, uma só, seu riso escutar. Era
uma cobra-de-vidro, não tinha veneno mas semeava aflições, só de passar entre
os homens como um mistério, um milagre. Nos tocos de pau, no fundo da mata, o
pio das corujas a chamar Gabriela.
Dos Sinos a Dobrar Finados
Os jagunços não chegaram a
descer das roças. Nem os de Melk, de Jesuíno, de Coriolano, de Amâncio Leal.
Não foi necessário.
Também aquela campanha
eleitoral tomara aspectos novos, inéditos para Ihéus, Itabuna, Pirangi, Água
Preta, para a região cacaueira. Antes, os candidatos, certos da vitória, nem
apareciam. Quando muito visitavam os coronéis mais poderosos, donos de maior
extensão de terra e de maior número de pés de cacau.
Desta vez era diferente.
Ninguém tinha a certeza de ser eleito, era preciso disputar os votos. Antes os
coronéis decidiam, sob as ordens de Ramiro Bastos. Agora estava tudo
atrapalhado, se Ramiro ainda mandava em Ilhéus, dava ordens ao Intendente, em
Itabuna mandava Aristóteles, seu inimigo.
Um e outro apoiavam o
Governo do Estado. E o Governo a quem apoiaria depois das eleições? Mundinho
não permitia que Aristóteles rompesse com o Governador.
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