A Fotografia da despedida... |
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 187 e último.
Foi depois da sesta. Antes
da hora do aperitivo da tarde, naquele tempo vazio entre as três e as quatro e
meia. Quando Nacib aproveitava para fazer as contas da caixa, separar o
dinheiro, calcular os lucros. Foi quando Gabriela, terminado serviço, partia
para casa. O marinheiro sueco, um loiro de quase dois metros, entrou no bar,
soltou um bafo pesado de álcool na cara de Nacib e apontou com o dedo as
garrafas de «Cana de Ilhéus».
Um olhar suplicante, umas
palavras em língua impossível. Já cumprira Nacib, na véspera, seu dever de
cidadão, servira cachaça de graça aos marinheiros.
Passou o dedo indicador no
polegar, a perguntar pelo dinheiro. Vasculhou os bolsos, o loiro sueco, nem
sinal de dinheiro. Mas descobriu um broche engraçado, uma sereia dourada. No
balcão colocou a nórdica mãe-d’água, Iemanjá de Estocolmo.
Os olhos do árabe fitavam
Gabriela a dobrar a esqui na, por
detrás da Igreja. Mirou a sereia, seu rabo de peixe. Assim era a anca de
Gabriela. Mulher tão de fogo no mundo não havia, com aquele calor, aquela
ternura, aqueles suspiros, aquele langor. Quanto mais dormia com ela, mais
tinha vontade.
Parecia feita de canto e
dança, de sol e luar, era de cravo e canela. Tomou da garrafa de cachaça encheu
um copo grosso de vidro, o marinheiro suspendeu o braço, saudou em sueco,
emborcou em dois tragos, cuspiu. Nacib guardou no bolso a sereia dourada,
sorrindo.
Gabriela riria contente,
diria a gemer: «Precisava não, moço bonito…».
E aqui
termina a história de Nacib e Gabriela quando renasce a chama do amor de uma
brasa dormida nas cinzas do peito.
Do « Post- Scriptum»
Algum tempo depois, o
coronel Jesuíno Mendonça foi levado a júri acusado de haver morto a tiros sua
esposa, Dª Sinhàzinha Guedes Mendonça e o cirurgião dentista Osmundo Pimentel
por questões de ciúmes.
Vinte e oito horas duraram
os debates, agitados, por vezes sarcásticos e violentos. Houve réplica e
tréplica. Dr. Maurício Caíres citou a Bíblia, recordou as escandalosas meias
pretas, moral e devassidão. Esteve patético.
Dr. Ezequi el Prado, emocionante: já não era Ilhéus terra de
bandidos, paraíso de assassinos. Com um gesto e um soluço, apontou o pai e a
mãe de Osmundo em luto e em
lágrimas. Seu tema foi a civilização e o progresso. Pela
primeira vez, na história de Ilhéus, um coronel do cacau viu-se condenado à
prisão por haver assassinado a mulher adúltera e o seu amante.
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