sábado, janeiro 12, 2013


A GABRIELA

Acabou-se a história e começa a saudade que ela nos deixa. Fosse eu ainda menino e pediria à minha avó: «avozinha, conta-me outra».

As histórias provocam-me encantamento. As de Jorge Amado transportam-me a um mundo de outras pessoas, pessoas como eu, como você, cujas vidas se desenrolam num quadro social que eu conheci porque foi o meu, sem cacau mas com os morgados a chamarem-se de coronéis.

Depois, o amor, o ciúme, os preconceitos, a inveja, os falsos pudores, a prepotência do poder, a hipocrisia da religião, etc... tudo vivido num meio pequeno, a desabrochar, por pessoas que todas elas se conhecem e cujas vidas se entrecruzam.

Tive a sorte de ver esta história representada por actores que nunca mais poderei esquecer. Muitos já morreram mas todos eles, ainda vivos ou já falecidos, continuam a viver na minha memória.

O romance que agora terminou tem a riqueza da palavra escrita, o sabor dos diálogos, o pormenor das situações, e a ausência de “rodriguinhos” e de “efeitos” para telenovela, em que o jovem vitorioso da luta política, recém-chegado à cidade, já não casa com a filha do poderoso coronel entretanto falecido.

Ficam as pistas no romance… Eu diria que eles ainda virão a casar, que diz a leitora? Embora o coração de Mundinho ainda não esteja disponível, segundo ele disse… lá virá o momento em que ele irá ceder, abrir-se e Jerusa vai entrar para lhe dar muitos meninos.

Jorge Amado não manipula os personagens e nos seus romances, ao contrário de Júlio Dinis, as histórias não acabam no meio dos “confettis” das festas de casamento. Desta vez, salvou, à última da hora, o amor na relação de Nacib com Gabriela e eu, que não gosto de me meter nessas coisas, fiquei muito feliz por isso.

Ele realça o amor, o verdadeiro, o carnal, como o da tia, mulher sabida, que vive uma paixão ardente com o jovem sobrinho seminarista. Lembram-se, com certeza, da Tieta do Agreste, mais uma personagem apaixonante de Jorge Amado que aqui desfilou no Memórias Futuras.

Tieta, Tereza Baptista Cansada de Guerra, Dona For e, finalmente, Gabriela, quatro admiráveis mulheres que tiveram que conviver com Zélia, a única, a esposa de sempre de Jorge Amado.

Estava em dívida com Jorge Amado desde que, em 1977, vi a Gabriela com a Sónia Braga na Televisão. Recuso-me a conhecer outra Gabriela -  por mais versões que eles apresentem - que não seja ela, a Sónia Braga, nos seus esplendorosos e selvagens  25 anos. - «Sapato não seu Nacib» -  «Moço bonito!»

Hoje, parte dessa dívida, ficou saldada. Voltaremos a ele como uma fonte inesgotável da vida através dos seus personagens.
JORGE AMADO

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