CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 178
Tudo pronto, mantimentos
comprados, cabrochas contratadas e treinadas por Fernand, dois garçons a
postos, convites feitos para o almoço solene. Vinha gente de Itabuna, inclusive
Aristóteles, de Água Preta, de Pirangi, vinha Altino Brandão de Rio do Braço.
Onde encontrar cozinheiras
para substituir o desaparecido? Sim, porque nem mesmo a sergipana podia contar.
Fora-se embora, brigada com Fernand, largando o quartinho dos fundos numa imundície
medonha. Com as cabrochas ajudantes?
Só se qui sesse fechar no dia seguinte. Para cozinharem de
verdade não serviam, só para cortar carne, matar galinha, limpar as tripas,
tomar conta do fogo. Onde encontrar cozinheira naquele espaço de tempo?
Tudo isso chorou no peito
amigo do livreiro, no reservado do Pocker onde, ante uma garrafa de conhaque
sem mistura, escondera sua agonia. Os fregueses e amigos comentavam nas mesas
do bar nunca o terem visto antes tão desesperado.
Nem mesmo naqueles dias de
rompimento com Gabriela. Talvez então fosse mais fundo e terrível o desespero,
mas era silencioso, soturno e sombrio, enquanto agora Nacib clamava aos céus, gritava
sua ruína e desmoralização.
Quando vira João Fulgêncio,
arrastara-o para o reservado de pocker:
- Estou perdido João. Que posso fazer? – Desde
que o livreiro o descasara, depositara nele ilimitada confiança.
- Calma, Nacib, busquemos uma solução.
- Qual? – Onde vou buscar cozinheira?
As irmãs Dos Reis, não
aceitam uma encomenda assim, de um dia para o outro. E mesmo que aceitassem
quem ia cozinhar segunda-feira para a freguesia?
- Eu podia lhe emprestar a Marocas por uns
dias. Só que ela cozinha muito bem se minha mulher estiver ao pé dela para o
tempero.
Por uns dias de que serve?
Nacib engolia o conhaque,
tinha vontade de chorar.
- Ninguém me dá solução. Cada conselho mais
sem pés nem cabeça. A maluca da Dª Arminda me propôs contratar Gabriela de
novo. Imagine!
Levantou-se João Fulgêncio
num entusiasmo:
- Está salva a pátria, Nacib! Sabe quem é D.ª
Arminda? Pois é Colombo, o do ovo e da América. Ela resolveu o problema. Veja
você: a, a boa, a justa, a perfeita solução na nossa frente e nós não a víamos.
Tudo resolvido, Nacib.
Nacib perguntava cauteloso
e desconfiado:
- Gabriela, Você acha? Não está brincando?
- E porque não? Não foi já sua cozinheira?
Porque não pode voltar a ser? Que tem de mais?
- Foi minha mulher…
- Amigação, não foi?
Porque o casamento era falso, você sabe… E por isso mesmo. Contratando outra
vez de cozinheira, você liqui da por
completo esse casamento, ainda mais do que com a anulação. Não lhe parece?
- Era uma boa lição… - reflectiu Nacib. –
Voltar de cozinheira depois de ter sido a dona…
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