domingo, dezembro 30, 2012


HOJE É 
DOMINGO

(O Último do Ano – Das Muralhas Da Minha Cidade de Santarém)

Não … o mundo, afinal, não acabou e o evento que poderia ter posto termo à agonia do meu país e do meu clube, o grande e enfermo Sporting Clube de Portugal, não aconteceu.

Passos Coelho, 1º classificado na Escola da Juventude Partidária do PSD, assessorado pelo colega inseparável Miguel Relvas, alcandorou-se a Chefe de Governo depois do estampanço do Sócrates, sem que eu consiga ver nele, para além de um aceitável namorado das “Doce”, maturidade política e pessoal para o desempenho das funções que exerce numa situação tão crítica para o país. Se dúvidas houvessem tudo ficou claro com aquela história da Taxa Social Única, comunicada ao país pouco antes de se ir exibir a cantar a Nini durante o Concerto dos 50 anos de carreira de Paulo de Carvalho, imagem captada e mostrada pela televisão.

A população, com raiva contida, veio para rua na maior e mais espontânea das manifestações de protesto já vistas no país e que fez abortar uma medida que era, isso mesmo, um autêntico aborto.

Agora, num processo de infantilização, paralelamente ao discurso oficial e formal de Natal, no Facebook, ele e a Laura vieram, num tom intimista de “meus amigos”, desejar-nos Bom Natal e fazer um choradinho qualquer de nos condoer o coração.

Diz ele que o 2012 foi o pior, o mais difícil de todos os anos desde 1974 para cá e eu estou de acordo com ele porque, com mais de 16% de taxa de desemprego, não podia deixar de o ser.

O que ele não diz é que o 2013 será ainda pior porque os dados vão todos nesse sentido: o desemprego vai agravar-se, as falências aumentarem, o poder de compra diminuir numa espiral sem fim à vista.

Não vou culpar o Pedro por toda esta desgraça. Sozinho e em tão pouco tempo não teria conseguido fazer tanto mal nem com um exército de Gaspares.

É verdade que ajudou a atirar o Sócrates pela borda fora a que se seguiram os discursos demagógicos e as vãs promessas da campanha eleitoral mas, de então para cá, as condições de vida dos portugueses não param de piorar.

Com o inevitável fim do subsídio de desemprego as pessoas acabam entregues a si próprias sem perspectivas de novos empregos, amparadas pela família, à mercê de alguns trabalhos precários a qualquer preço, de uma aventura no estrangeiro e tudo isto num Estado Social que emagrece para sobreviver e assiste a um Estado Assistencial que aumenta como solução de recurso abrindo discussões entre solidariedade e caridade.

Quando se abriram as portas ao comércio dos países asiáticos decretou-se o fim de milhares de pequenas empresas muitas de âmbito familiar, especialmente no norte do país. Era impossível competir… Apesar de tudo, alguns empresários do calçado e das confecções, poucos mas muito bons, conseguiram ultrapassar a situação e hoje são competitivos a nível europeu numa demonstração da capacidade dos portugueses.

Depois foi o alargamento da Comunidade Europeia aos países de Leste e a vantagem dos baixos salários portugueses terminou em definitivo. Para agravar as coisas a Política Agrícola Europeia “mandou-nos” abandonar as terras à custa de mais subsídios para os agricultores.

A moeda forte do euro e os juros baixos eram um convite ao consumo e endividamento. Os Apoios Comunitários negociados em Bruxelas entravam no país à razão de um milhão de euros por dia. A dificuldade não era dinheiro eram projectos para justificar tanto dinheiro…

Esta crise que agora estamos a viver foi desencadeada em 1986 com a entrada no euro, “moeda de ricos, “fatiota” que não era para a corpo da nossa economia…

Faltaram-nos os políticos avisados, aqueles que são capazes de ver para alem do cintilar do dinheiro e do brilho das auto- estradas e de outras grandes obras.

Daí até à actual dívida soberana do país foi um pequeno passo de meia dúzia de anos. Agora, ninguém arrisca o tempo necessário para a pagar mas o Pedro está muito confortado com o acesso para breve aos mercados a 7% de juro…

 Há quem esteja optimista, moderadamente, mas optimista. Acreditam na Europa que depois das eleições na Alemanha, a Srª Merkel com novos aliados, já cansada da austeridade, com os países do Sul a praguejarem, que não o bem comportado do Pedro, abrir-se-á ao investimento e ao emprego.

Há dias, um reputado economista, professor desta disciplina na Universidade, chamava a 2013 o «Annus Horribilis» e para isso, lembrava apenas os 7.500 milhões de euros que vamos ter de pagar no próximo ano, só de juros da dívida…

Este nosso ajuste de contas com um passado de muitos anos lança as suas esperanças, em termos de futuro, na forma como evoluir a política europeia, as eleições na Alemanha, o partido que vier a coligar-se com a Srª Merkel influenciando-a nas suas decisões, enfim, factores e circunstâncias às quais somos completamente alheios e nas quais não podemos interferir.

Dizia a minha avó que «quem boa cama fizer em boa cama se deitará» e eu pergunto se aquilo que fizemos no passado em termos políticos poderia ter tido desfecho diferente que não a bancarrota e a chamada à pressa das instituições internacionais para viabilizarem a entrada de dinheiro que permitisse manter o país a funcionar.

Muitos dos nossos políticos instalaram entre nós, não de ontem mas de há muitos anos atrás, uma cultura de irresponsabilidade e de impunidade que precipitaram a chegada do país a este ponto.

Desde 1974, e eu não estou a absolver o que ficou para trás, bem pelo contrário, Portugal tem sido uma espécie de coutada daqueles que têm mandado nos partidos, nos governos e nos bancos e que explica, por exemplo, o descalabro permanente das Contas Públicas, o incumprimento das despesas orçamentadas, as PPRs e os seus desvios e, finalmente, casos de polícia como os roubos de centenas de milhões no BPN e no BPP com os seus responsáveis, pessoas conhecidas, a passearem-se impunemente por aí sabendo que os cidadãos portugueses, “bem mandados,” irão pagar os seus desmandos ou não foi isso que ficou decidido no dia em que o BPN foi nacionalizado?

Mas, para além da tal cultura, já tradicional, de impunidade e irresponsabilidade, não vivemos nós num Estado de Direito?

Se sim, então, como é possível que tudo isto aconteça e as prisões não registem a presença de certos cavalheiros?

Tudo começa nas leis que são feitas na Assembleia a mando dos partidos que mandam nos deputados que fazem leis falaciosas, que permitem interpretações, omissões, indexações, leis que têm espírito e têm letra e têm vírgulas que mudam de sítio e levam com elas o sentido da lei e fazem as delícias dos juristas que levam milhões para emitirem pareceres que concluem a favor e o seu contrário num mirabolante jogo de palavras… que mergulha em aprofundados estudos de análise do conhecimento político desde a era dos romanos que depois de séculos de barbárie, finalmente e a contragosto, nos civilizaram.

Dizia um deputado há pouco tempo: … “mas, se fui eu próprio que fiz essa lei e afirmo que a minha ideia era a de que, findos 4 mandatos, os Presidentes das Câmaras não podem continuar mais nessas funções…».

 Pois, mas não escreveu que elas, as funções, não podiam ser prosseguidas na autarquia ao lado e, desta forma, por omissão, o Presidente da Câmara mais despesista do país, o que mais nos ajudou a afundar na dívida, pode saltar da Câmara de Gaia para a do Porto.

Na nossa cultura, a que falta sentido de comunidade, governar é ainda uma oportunidade mais que uma responsabilidade. E, como oportunidade que é, há que aproveitá-la, porque é precisamente para isso que se fizeram as oportunidades, e por isso aí temos o compadrio, a promiscuidade, o tráfico de influências, as cunhas, as mensagens, os telefonemas, a promoção dos incompetentes de fidelidade garantida… para tudo terminar (não na 3ª feira) mas em tomadas de decisão claramente a favor de certos grupos de interesses… os mesmos do costume.

 Começa por uma corrupção disfarçada, sofisticada, de acções que se compram e são mandadas vender em momentos estratégicos por homens tão honestos como não existem outros ao cimo da terra, até acabar nos roubos descarados do tipo BPN.

Mas não há Regulamentos que estabelecem procedimentos obrigatórios para os que desempenham os cargos?

  – Claro que há, mas também existem alíneas “escondidas” nos Artigos dos Códigos para conferirem às excepções um arzinho de legalidade e, finalmente, temos a cumplicidade e a fidelidade partidárias, os superiores interesses do partido que, esse sim, com o seu líder, é que sabe o que é bom para o país.

No seio desta cultura em que, na realidade, os interesses do país andam ao sabor de grupos, sejam eles de um partido político ou dos maquinistas da CP ou dos Estivadores - mesmo que as pessoas gritem que precisam de se transportar a si próprias ou de fazerem embarcar as suas mercadorias - o que prevalece é o desprezo pelo colectivo, pelo público, pela comunidade, pelo país.

Portugal precisa de uma armadura legal que o defenda, não na aparência mas na realidade, efectivamente e não um arremedo, um faz de conta em que passamos a vida a prender ladrões e, por outro lado, deixamos que uns quantos (já ouvi falar em cem) nos levem à banca rota e à miséria colectiva.

Temos, entre nós, pessoas inteligentes, competentes e honestas e muitas delas em lugares de responsabilidade mas também existem, mais ou menos invisíveis e disfarçadas, as forças de bloqueio, poderosas, enraizadas, que se encarregam de manter o status quo e estamos nisto… com o Acordo da Troika, sem autonomia política, com uma dívida soberana que vai chegar aos filhos dos nossos filhos e sabemos lá de mais quem…

Com a Troika, já não mandamos no país ou mandamos poucochinho e eu já não sei se isso é bom ou mau porque com as provas de qualidade que temos dado em matéria de governação… provavelmente, até será bom desde que nos integrem cada vez mais na Europa e, até lá, nos deixem sobreviver.

Tenho para mim, como para muito boa gente, que não temos agora alternativa à Europa e ao Euro, mesmo admitindo ter sido errado entrar em 1986.

Se houvesse alternativa, o avisado e intuitivo povo português já teria entregue o governo a pessoas tão respeitáveis e dignas de confiança como o Jerónimo ou o Louça isto … se eles se entendessem entre si.

 Fora da Europa e do Euro é o vazio, o desconhecido, a aventura e ainda não ouvi alguém, com um mínimo de credibilidade, defender essa solução.

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