Será que vai ter uma 2ª oportunidade? |
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 176
- Tu vai fazer? De
verdade?
- Junto de mim mulher é para rir, não para
chorar.
Gabriela sorriu. O
camarada do campo de batalha semicerrou os olhos de brasa e pensou ser melhor
assim. Podia partir, continuar seu caminho, sua liberdade no peito, seu livre
coração.
Melhor que ela morresse
por outro, essa única no mundo capaz de prendê-lo, de amarrá-lo àquele porto
pequeno, àquele cais de cacau, de dobrá-lo e domá-lo.
Nessa noite pensava
dizer-lhe, contar-lhe, entregar-se rendido de amor. Melhor assim, suspirando e
chorando por outro, por outro morrendo de amor. Sete Voltas podia ir-se embora.
Camarada do campo da batalha, vamos embora pelo mundo afora.
Ela puxou-lhe a mão,
abriu-se a agradecer. Barca em mar sereno, navegação de recôncavo, ilha
plantada de canaviais e pimenteiras. Navegava na barca de proa altaneira o
camarada do campo de batalha. Eh!, camarada, ardia seu peito, a dor de perdê-la.
Mas era um deus de terreiro, na mão direita o orgulho, a liberdade na esquerda.
Do benemérito cidadão.
Naquele sábado, véspera da
solene inauguração do Restaurante do Comércio, o seu proprietário, o árabe
Nacib, podia ser visto, em mangas de camisa, correndo como um louco pela rua, o
volumoso ventre a balançar sobre o cinto, os olhos esbugalhados, em direcção à
casa exportadora de Mundinho Falcão.
Na porta da colectoria
federal, o Capitão conseguiu frear a carreira ansiosa, segurando o dono do bar
pelo braço:
- O que é isso, homem, onde vai com tanta
pressa?
Nascido amável e
amigueiro, requi ntava o Capitão em
gentileza desde a proclamação da sua candidatura a Intendente:
- Sucedeu alguma coisa? Em que posso lhe
servir?
- Sumiu! Sumiu! - arfava Nacib.
- Sumiu, o quê?
- O cozinheiro, o tal de Fernand.
Não tardou e toda a cidade
estava a par do intricado mistério: desde a véspera à noite o cozinheiro vindo
do Rio, o espectacular “chefe de cuisine”, Monsieur Fernand (como gostava de
ser chamado), desaparecera de Ilhéus.
Combinara com dois garçons
contratados para o restaurante e com os ajudantes de cozinha um encontro pela
manhã para assegurarem as últimas disposições para o dia seguinte. Não aparecera,
ninguém o vira.
Mundinho Falcão mandou
chamar o delegado, explicou o caso, recomendou-lhe investigações meticulosas. Era
aquele mesmo tenente que o secretário da Intendência de Itabuna botara a
correr. Agora todo humilde e servil junto de Mundinho, a tratá-lo de doutor.
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