sexta-feira, janeiro 18, 2013

Ao jantar a francesinha sorria-lhe...
O PAÍS


DO

CARNAVAL

Episódio Nº 3



No tombadilho, Paulo Rigger abandonou-se aos seus pensamentos. Estava de volta ao Brasil depois de sete anos de ausência.

Ainda estudante de ginásio morrera-lhe o pai, riquíssimo fazendeiro de cacau no sul do Estado da Bahia. A última vontade do velho Rigger foi que mandassem seu rapaz formar-se na Europa.

E, terminado o curso ginesial, Paulo seguiu para Paris em busca do anel de bacharel. O velho Rigger queria o filho formado mas já estava muito banal a formatura no Brasil. Só podia fazer sucesso um doutor da Europa.

Paulo Rigger, em Paris, como é natural, fez tudo menos estudar Direito. Ao formar-se era um blasé, contaminado de toda a literatura de antes da guerra, um gastador de espírito, que tinha amigos entre os intelectuais e frequentava as rodas jornalísticas, fazendo frases, discutindo, sempre em oposição.

A atitude oposta era sempre a sua atitude. Não chegara, muito francês que era, a fazer uma base para a sua vida. Não tinha filosofias e fazia blagues acerca do espírito de seriedade da geração que surgia.

Dizia que o homem de talento não precisa de filosofia. Aos vinte e seis anos, era o tipo do cerebral, quase indiferente, espectador da vida, tendo perdido há muito o sentido de Deus e não tendo encontrado o sentido da Pátria.

Frio, não se emocionava. Tinha prazeres diferentes: amava ser contra as ideias dos seus vizinhos de mesa e gostava de estudar almas.

Correra toda a cidade de Paris, dos mais aristocráticos salões aos mais sórdidos cabarés, numa volúpia de escalpelar as almas, pôr-lhes à mostra sentimentos, estudá-las…

Assim, pensava, no dia em que houvesse “um caso” na sua vida, estaria preparado para enfrentá-lo, estudá-lo, dissecá-lo.

Usava monólogo porque diziam que já havia caído de moda. Aprendera em Paris a vestir-se com muita elegância e a satisfazer todos os seus desejos.

Sibarita, tinha pelos seus instintos uma quase adoração. Conhecia, assim, todos os vícios. No seu olhar cansado, muito triste, parecia viver a tragédia do homem que esgotou todas as volúpias e não se satisfez.

Nos seus lábios finos bailava sempre um sorriso mau, de escárnio, que irritava. Já descrera da felicidade. No fundo, entretanto, Paulo Rigger sentia que era um insatisfeito. Compreendia que faltava qualquer coisa na sua vida. O quê? Não o sabia. Isso torturava-o. E dedicava toda a sua vida à procura do fim.

“Sim”, murmurava no tombadilho, olhando as ondas “porque toda a vida deve ter, necessariamente um fim… Qual?”

Mas o mar, indiferente, não lhe respondia. O sol que morria desenhava no horizonte paisagens berrantes. O sol foi o primeiro cubista do mundo…

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