DO
CARNAVAL
Episódio Nº 2
A amabilidade do Sr.
Bispo… A Igreja sempre caridosa…
O Senador, com o prestígio
que lhe dava a posição, resumiu toda a conversa:
- É o país de mais futuro no mundo!
- Perfeitamente! – falou um rapaz que chegara
no momento.
- O senhor acaba de definir o Brasil. (O
Senador sorriu baboso). O Brasil é o país verde por excelência. Futuroso,
esperançoso… Nunca passou disso… Vocês, brasileiros, velhos que já foram e
rapazes que são a “esperança da Pátria”, sonham o futuro. “Dentro de cem anos o
Brasil será o primeiro do mundo”.
Garanto que aquele
detestável cronista Pêro Vaz de Caminha teve essa mesma frase ao achar Cabral,
por um acaso, o país que viera expressamente descobrir.
- Não! – protestou o diplomata, elevando num
gesto oratório a mão ao peito. – Hoje, todo estrangeiro conhece, graças ao
nosso corpo diplomático, sem modéstia, o grande, o portentoso Brasil!
- Entretanto, aquela francesinha que conhece o
mundo todo, que já teve na casa de rendez-vouz em Pequi m,
já foi amante de pretos na Colónia do Cabo e ganhou dinheiro em Monte Carlo , julga que
viaja para um país chamado Buenos Aires, que tem por capital o Brasil, uma
cidade onde a população anda de tanga.
E posso lhe afirmar,
senhor Bispo, que ela vai até lá exactamente para poder andar de tanga, pois é
primitivista.
- Ela é imoral, isso sim.
- Vai ter uma decepção, coitada!
- Mas, doutor Rigger, pelo menos do ponto de
vista religioso, o Brasil tem progredido muito. Hoje…
- Hoje o feitiço domina. No norte, senhor
bispo, a religião é uma mistura de fetichismo, espiritismo e catolicismo.
Aliás, eu não acredito que Cristo haja pregado religiões. Cristo foi apenas um
romântico judeu revoltoso.
Os senhores, Padres e
Papas, é que fizeram a religião… Mas se senhor pensa que essa religião domina o
Brasil, está enganado. Há uma falsificação africana dessa religião. A macumba,
no Norte, substitui a Igreja que, no Sul, é substituída pelas lojas espíritas.
No Brasil a questão da religião é uma questão de medo.
A senhora do senador
escandalizada, benzia-se. O diplomata sorria por vaidade. O Bispo que era
inteligente, qui s protestar.
Não houve porém tempo. Um
rapaz de bordo agitava uma sineta enorme chamando para o lanche.
E todos obedeceram a Sua
Majestade, O Estômago.
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