quinta-feira, janeiro 17, 2013


O PAÍS
DO
CARNAVAL

Episódio Nº 2

A amabilidade do Sr. Bispo… A Igreja sempre caridosa…

O Senador, com o prestígio que lhe dava a posição, resumiu toda a conversa:

 - É o país de mais futuro no mundo!

 - Perfeitamente! – falou um rapaz que chegara no momento.

 - O senhor acaba de definir o Brasil. (O Senador sorriu baboso). O Brasil é o país verde por excelência. Futuroso, esperançoso… Nunca passou disso… Vocês, brasileiros, velhos que já foram e rapazes que são a “esperança da Pátria”, sonham o futuro. “Dentro de cem anos o Brasil será o primeiro do mundo”.

Garanto que aquele detestável cronista Pêro Vaz de Caminha teve essa mesma frase ao achar Cabral, por um acaso, o país que viera expressamente descobrir.

 - Não! – protestou o diplomata, elevando num gesto oratório a mão ao peito. – Hoje, todo estrangeiro conhece, graças ao nosso corpo diplomático, sem modéstia, o grande, o portentoso Brasil!

 - Entretanto, aquela francesinha que conhece o mundo todo, que já teve na casa de rendez-vouz em Pequim, já foi amante de pretos na Colónia do Cabo e ganhou dinheiro em Monte Carlo, julga que viaja para um país chamado Buenos Aires, que tem por capital o Brasil, uma cidade onde a população anda de tanga.

E posso lhe afirmar, senhor Bispo, que ela vai até lá exactamente para poder andar de tanga, pois é primitivista.

 - Ela é imoral, isso sim.

 - Vai ter uma decepção, coitada!

 - Mas, doutor Rigger, pelo menos do ponto de vista religioso, o Brasil tem progredido muito. Hoje…

 - Hoje o feitiço domina. No norte, senhor bispo, a religião é uma mistura de fetichismo, espiritismo e catolicismo. Aliás, eu não acredito que Cristo haja pregado religiões. Cristo foi apenas um romântico judeu revoltoso.

Os senhores, Padres e Papas, é que fizeram a religião… Mas se senhor pensa que essa religião domina o Brasil, está enganado. Há uma falsificação africana dessa religião. A macumba, no Norte, substitui a Igreja que, no Sul, é substituída pelas lojas espíritas. No Brasil a questão da religião é uma questão de medo.

A senhora do senador escandalizada, benzia-se. O diplomata sorria por vaidade. O Bispo que era inteligente, quis protestar.

Não houve porém tempo. Um rapaz de bordo agitava uma sineta enorme chamando para o lanche.

E todos obedeceram a Sua Majestade, O Estômago.

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