Diante da grandiosidade da natureza, o
brasileiro pensou que isto fosse um circo. E virou palhaço…
Este livro pretende contar a história de
um homem que, tendo vivido na velha França muito tempo, voltou à pátria
disposto a encontrar o sentido da sua vida. Conta a sua luta, o seu fracasso.
Conta a luta dos seus amigos, rapazes de talento, que falharam na existência.
Este livro é um grito. Quase um pedido
de socorro. É toda uma geração insatisfeita que procura a sua finalidade. Nós
já começamos a luta contra a dúvida. A geração que chega combate as atitudes
cépticas.
Este livro narra a vida de homens
cépticos que, entretanto procuraram uma finalidade. Tentaram alcança-la. Uns no
amor, outros na religião. O fracasso das tentativas não é prova da sua
inutilidade.
Este livro pretende ser humano. Por mais
que pareçam artificiais os seus heróis, eles vivem. Porque, procurando bem, até
homens inteligentes se encontram no Brasil.
Mais do que humanos, este livro tem
veleidades de humanitário.
Cristo disse que se devia amar o próximo.
Acho que se deve ter amor aos
semelhantes e uma grande indiferença, feita de desprezo e perdão, aos que não
nos são semelhantes…
Eu não tenho veleidades literárias. Não
pretendo fazer público com este romance. Não sou pornógrafo, nem jornalista de
sensação.
Este livro tem um cenário triste: o
Brasil. Natureza grandiosa que faz o homem de uma pequenez clássica.
A sátira, no Brasil, só a praticam os
papagaios.
No norte, terra da promissão, há uma
grande confusão de raças e de sentimentos. É a formação do povo. E dessa
confusão está saindo uma raça doente e indolente. E todo o dia a natureza
surra, com o chicote do sol, o nortista tragicamente vencido.
Este livro é como o Brasil de hoje. Sem
um princípio filosófico, sem se bater por um partido. Nem comunista, nem
fascista. Nem materialista, nem espiritualista. Dirão talvez que assim fiz para
agradar a toda a crítica por mais diversa que fosse o seu modo de pensar.
Mas afirmo que tal não se deu. Não me
preocupa o que diga do meu livro a crítica. Este romance relata apenas a vida
de homens que seguiram os mais diversos caminhos em busca do sentido da
existência. Não posso bater-me por uma causa. Eu ainda sou um que procura…
Eu qui sera
intitular este romance de Os homens que eram infelizes sem saber porquê, mas a
gente tem vergonha de certas confissões. E fica-se vivendo a tragédia de fazer
ironias.
Os defeitos deste livro são a minha
maior honra.
Jorge Amado
1930
Nota
Para muitos críticos, esta obra é considerada um retrato geracional porque Jorge Amado tinha 18 anos, estudava Direito e relata a juventude ansiosa da época. Haveria de ser considerado um livro subversivo e queimado em praça pública em 1937 durante o regime do Estado Novo.
Nota
Para muitos críticos, esta obra é considerada um retrato geracional porque Jorge Amado tinha 18 anos, estudava Direito e relata a juventude ansiosa da época. Haveria de ser considerado um livro subversivo e queimado em praça pública em 1937 durante o regime do Estado Novo.
Não obstante, foi publicado em Portugal e traduzido para o Espanhol, francês e italiano.
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