terça-feira, janeiro 15, 2013


EXPLICAÇÃO


Diante da grandiosidade da natureza, o brasileiro pensou que isto fosse um circo. E virou palhaço…

Este livro pretende contar a história de um homem que, tendo vivido na velha França muito tempo, voltou à pátria disposto a encontrar o sentido da sua vida. Conta a sua luta, o seu fracasso. Conta a luta dos seus amigos, rapazes de talento, que falharam na existência.

Este livro é um grito. Quase um pedido de socorro. É toda uma geração insatisfeita que procura a sua finalidade. Nós já começamos a luta contra a dúvida. A geração que chega combate as atitudes cépticas.

Este livro narra a vida de homens cépticos que, entretanto procuraram uma finalidade. Tentaram alcança-la. Uns no amor, outros na religião. O fracasso das tentativas não é prova da sua inutilidade.

Este livro pretende ser humano. Por mais que pareçam artificiais os seus heróis, eles vivem. Porque, procurando bem, até homens inteligentes se encontram no Brasil.

Mais do que humanos, este livro tem veleidades de humanitário.

Cristo disse que se devia amar o próximo.

Acho que se deve ter amor aos semelhantes e uma grande indiferença, feita de desprezo e perdão, aos que não nos são semelhantes…

Eu não tenho veleidades literárias. Não pretendo fazer público com este romance. Não sou pornógrafo, nem jornalista de sensação.

Este livro tem um cenário triste: o Brasil. Natureza grandiosa que faz o homem de uma pequenez clássica.

A sátira, no Brasil, só a praticam os papagaios.

No norte, terra da promissão, há uma grande confusão de raças e de sentimentos. É a formação do povo. E dessa confusão está saindo uma raça doente e indolente. E todo o dia a natureza surra, com o chicote do sol, o nortista tragicamente vencido.

Este livro é como o Brasil de hoje. Sem um princípio filosófico, sem se bater por um partido. Nem comunista, nem fascista. Nem materialista, nem espiritualista. Dirão talvez que assim fiz para agradar a toda a crítica por mais diversa que fosse o seu modo de pensar.

Mas afirmo que tal não se deu. Não me preocupa o que diga do meu livro a crítica. Este romance relata apenas a vida de homens que seguiram os mais diversos caminhos em busca do sentido da existência. Não posso bater-me por uma causa. Eu ainda sou um que procura…

Eu quisera intitular este romance de Os homens que eram infelizes sem saber porquê, mas a gente tem vergonha de certas confissões. E fica-se vivendo a tragédia de fazer ironias.

Os defeitos deste livro são a minha maior honra.


                                                                           Jorge Amado
                                                                               1930

Nota


Para muitos críticos, esta obra é considerada um retrato geracional porque Jorge Amado tinha 18 anos, estudava Direito e relata a juventude ansiosa da época. Haveria de ser considerado um livro subversivo e queimado em praça pública em 1937 durante o regime do Estado Novo.
Não obstante, foi publicado em Portugal e traduzido para o Espanhol, francês e italiano.

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