quarta-feira, janeiro 16, 2013

O País do Carnaval

O PAÍS DO

CARNAVAL

Episódio Nº 1


Entre o azul do céu e o verde do mar, o navio ruma o verde-amarelo-pátrio.

Três horas da tarde. Ar parado. Calor.

No tombadilho, entre franceses, ingleses, argentinos e ianques está todo o Brasil (Evoé, Varnaval!).

Fazendeiros ricos de volta da Europa, onde correram igrejas e museus. Diplomatas a dar ideia de manequins de uma casa de modas masculinas… Políticos imbecis e gordos, suas magras e imbecis filhas e seus imbecis filhos doutores.

Lá no fundo, namorando o mistério das águas, uma francesa linda como as coisas caras, aventureira viajada, da qual se dizia conhecer todos os países e todas as raças, o que equivale a dizer que conhecia toda a espécie de homem, tolera, com um sorriso condescendente, o galanteio juliodantesco de uma dúzia de filhos-família brasileiros e argentinos:

 - A senhora é linda…

 - Minha vida pela sua vida…

 - Faça um sinal e me atirarei à agua!

 - Eu queria que o navio naufragasse para poder provar quanto a amo…

Tudo isso era dito em mau francês, num mau francês de causar inveja aos rapazes que lêem Dekobrá e têm por Tiradentes uma grande paixão patriótica.

Toda essa gente sua muito debaixo da elegância das suas roupas quentes, feitas em Londres e Paris a preços elevados.

Toda a gente, menos a francesa que trazia um vestido simples de musselina branca. É, em verdade bela. Olhos verdes como o mar e pele alva. Não admira que aqueles tropicais brasileiros e argentinos gastem com ela sua retórica, tão precisa à Pátria.

Adiante, um senador, um fazendeiro, um bispo, um diplomata e a senhora do senador conversam na boa paz burguesa dos que têm o reino da terra e a certeza de comprarem o do céu.

 - Sim -  diz o fazendeiro – foi regular a safra. Mas os preços…

 - Ora, coronel, o senhor quer dizer a mim?... Mesmo pelo preço em que está, o café continua a dar um lucro fabuloso… É a riqueza de São Paulo e do Brasil.

Mesmo porque o Brasil é São Paulo! – fez a senhora do senador, bairrista de irritar.

 - Oh, minha senhora! Perdoe-me se discordo de V.ª Ex.ª  mas…

Era o diplomata que falava. Primeiro-Secretário de Embaixada em Paris, ainda estava inédito o seu primeiro serviço à Pátria. Nascera na Baía, e trazia no sangue e no cabelo a marca dos deboches dos avós portugueses com avós africanas.

 - …mas há outros grandes Estados… Olhe a Bahia, minha senhora. A Bahia, veja Vª Exª, produz tudo… cacau, Fumo, Feijão. E produz homens, minha senhora, grandes génios, Rui Barbosa era baiano…

 - Mas hoje, doutor…

 - Oh! Minha senhora, não diga… Ainda hoje grandes talentos…

E o Bispo conciliador.

 - O doutor mesmo é uma prova…

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