sexta-feira, janeiro 25, 2013


O PAÍS
DO
CARNAVAL

Episódio Nº 5


A bordo, os passageiros saudosos elogiavam o Brasil. E ele falara mal. Agora queria fazer uma ideia do Brasil. Às vezes, na Europa, caía a sua máscara de cerebral e pensava em quando voltasse à Pátria meter-se-ia na política. Fundaria um jornal. Elevaria o nome do Brasil…

Pilheriavam os amigos com ele e com seu patriotismo de momento. Desculpava-se dizendo que tudo aquilo era egoísmo. Queria elevar o nome da Pátria para assim elevar o dele, Paulo Rigger. Um meio… No fundo, o egoísmo predominava…

Os amigos concordavam. A Pátria era com certeza o fim…

Os jornais só falavam da campanha política que agitava o país. De um lado, o então Presidente da República que queria, apoiado por um certo número de Estados, impor um candidato da sua confiança para sucedê-lo no Poder. Do outro lado, oposicionistas que queriam eleger um Presidente seu.

Paulo Rigger leu um jornal: “Ainda há brasileiros que sabem morrer pela liberdade”. Essas palavras sobressaíam em grandes caracteres. Era um trecho do discurso de um deputado da oposição.

Rigger riu:

 - Que morte estúpida, a morte em luta pela liberdade da Pátria…

O criado do hotel, que entrara com o café, murmurou:

 - Esse sujeito é pretista…

E ao servir-lhe (soava-lhe aos ouvidos o amassar das notas da gorjeta) gabou, para espanto de Rigger, as virtudes do Dr. Júlio Prestes.


Paulo Rigger andava na rua, ao léu. Sentia-se um estranho na sua pátria. Achava tudo diferente… Se aquilo lhe acontecia no Rio, que seria na Bahia, para onde iria residir na companhia da sua velha mãe?... Poderia, conseguiria viver? E tinha uma grande nostalgia de Paris…

Teria que viver burguesmente… Não teria mais camaradas intelectuais… Ficaria com o espírito obtuso… Talvez se casasse… Talvez fosse mesmo morar na fazenda… Que fim para ele, degenerado, viciado, doente da Civilização… Enfim…

Paulo Rigger parou em frente de uma casa de discos. Uma marcha bem cantada enchia o espaço com uma música estranha, nostálgica, cheia de um sentimento que Paulo não compreendia.

A marcha rugia:

Essa mulher há muito tempo me provoca…

Dá nela…
Dá nela…

 - Isso deve ser a música brasileira – pensou Rigger – a grande música do Brasil.

E ficou a escutar, enlevado pela barbaria do ritmo. A alma do povo devia estar ali… E como era diferente da sua… Ele não bateria nunca numa mulher. A música bradava:

Dá nela…
Dá nela…

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