sábado, fevereiro 09, 2013

Acarajé, caruru, moqueca, cuscus...

O PAÍS
DO
CARNAVAL

Episódio Nº 18



E lá estava:

 - A minha vida, finalmente, há-de se resumir nisso: trabalhar, trabalhar?... Nunca passarei de um fazendeiro rico?... Não haverá na vida outra coisa que não seja o trabalho de todo o dia e o descanso de todo o dia no seio da família?...

 - Até meu pai, até meu pai… - resmungava Rigger, entre dentes.


Julie, recostada na cama, lia um romance de Willy, fumando um cigarro fino. Abandonou o livro, um enjoo. O relógio pulseira marcava dez horas da noite. Paulo Rigger estava a chegar. Pensou quase com aborrecimento nele.

Quando chegasse começariam logo aquelas cenas de todos os dias. Ciumadas sem motivo. Queria saber como ela passara o dia. O que fizera. Onde fora…

Ela errara em se juntar a ele. Pensara que Rigger fosse um cerebral que não se importasse com o que ela fizesse. Um parisiense requintado que só quisesse gozar. E mais nada. Em vez disso, em vez de um homem requintado apenas um viciado mestre de volúpias, saíra-lhe um romântico apaixonado E ela lhe dizia rindo:

 - Amorzinho, você está inteiramente brasileiro! Romântico como os seus patrícios de quem você fala tanto. Você só é parisiense na boca…

E repetia um ditado que ouvira de uma preta gorda, na porta do hotel:

 - Quem não te conheça que te compre…

Julie acordou de sobressalto. Paulo Rigger entrara e beijava-lhe os lábios carnudos. E como ela não acordasse mordeu-os.

 - Oh! Você me mordeu… E que tarde você vem! Meia-noite!

 - Ah!, meu amor, uma notícia… Segunda-feira iremos à fazenda, lá no Sul do Estado. Nós dois somente. Ficaremos sós. Na mais completa felicidade…

- Sexta, sábado, domingo, segunda… Daqui a três dias. É bonita a fazenda? Tem onças. Leões?

 - Não, querida -  riu ele Nada disso, mas tem cobras…

 - Não vou. Tenho medo das cobras…

Foi um custo para convencê-la de que nem veria as cobras que viviam no mato, coitadas!

 - E se uma me picasse… e eu morresse?

Rigger exultou. Afinal, Julie não era somente carne. Era sentimentos também. Temia a morte porque não queria deixá-lo sozinho.

Beijou-a sofregamente.

 - Se você morresse, querida, eu ficaria infeliz, desesperado…

 - Eu é que ficaria desesperada, nem podia voltar para França…

Paulo suspendeu a cabeça, irritado. Apanhou o chapéu e precipitou-se fora do quarto. E murmurava:

 - Cachorra! Não nega o que foi…

Julie no quarto pensava:

 - Enlouqueceu, não há dúvida…

Deu um muxoxo. Virou-se para o outro lado e foi dormir.
  

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