Acarajé, caruru, moqueca, cuscus... |
O PAÍS
DO
CARNAVAL
Episódio Nº 18
E lá estava:
- A minha vida, finalmente, há-de se resumir
nisso: trabalhar, trabalhar?... Nunca passarei de um fazendeiro rico?... Não
haverá na vida outra coisa que não seja o trabalho de todo o dia e o descanso
de todo o dia no seio da família?...
- Até meu pai, até meu pai… - resmungava
Rigger, entre dentes.
Julie, recostada na cama,
lia um romance de Willy, fumando um cigarro fino. Abandonou o livro, um enjoo.
O relógio pulseira marcava dez horas da noite. Paulo Rigger estava a chegar.
Pensou quase com aborrecimento nele.
Quando chegasse começariam
logo aquelas cenas de todos os dias. Ciumadas sem motivo. Queria saber como ela
passara o dia. O que fizera. Onde fora…
Ela errara em se juntar a
ele. Pensara que Rigger fosse um cerebral que não se importasse com o que ela
fizesse. Um parisiense requi ntado
que só qui sesse gozar. E mais nada.
Em vez disso, em vez de um homem requi ntado
apenas um viciado mestre de volúpias, saíra-lhe um romântico apaixonado E ela
lhe dizia rindo:
- Amorzinho, você está inteiramente
brasileiro! Romântico como os seus patrícios de quem você fala tanto. Você só é
parisiense na boca…
E repetia um ditado que
ouvira de uma preta gorda, na porta do hotel:
- Quem não te conheça que te compre…
Julie acordou de
sobressalto. Paulo Rigger entrara e beijava-lhe os lábios carnudos. E como ela
não acordasse mordeu-os.
- Oh! Você me mordeu… E que tarde você vem!
Meia-noite!
- Ah!, meu amor, uma notícia… Segunda-feira
iremos à fazenda, lá no Sul do Estado. Nós dois somente. Ficaremos sós. Na mais
completa felicidade…
- Sexta, sábado, domingo,
segunda… Daqui a três dias. É bonita
a fazenda? Tem onças. Leões?
- Não, querida - riu ele Nada disso, mas tem cobras…
- Não vou. Tenho medo das cobras…
Foi um custo para
convencê-la de que nem veria as cobras que viviam no mato, coitadas!
- E se uma me picasse… e eu morresse?
Rigger exultou. Afinal,
Julie não era somente carne. Era sentimentos também. Temia a morte porque não
queria deixá-lo sozinho.
Beijou-a sofregamente.
- Se você morresse, querida, eu ficaria
infeliz, desesperado…
- Eu é que ficaria desesperada, nem podia
voltar para França…
Paulo suspendeu a cabeça,
irritado. Apanhou o chapéu e precipitou-se fora do quarto. E murmurava:
- Cachorra! Não nega o que foi…
Julie no quarto pensava:
- Enlouqueceu, não há dúvida…
Deu um muxoxo. Virou-se
para o outro lado e foi dormir.
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