De há muito que aprecio António Costa, actual Presidente da Câmara de Lisboa e candidato a um novo mandato. Tal como António Vitorino, que voltou as costas à política partidária sem praticamente dar o seu contributo ao partido e ao país com um argumento de somenos, abandonando o cargo de Vice- Primeiro Ministro e Ministro dos Negócios Estrangeiros em 1995, no XIII Governo Constitucional. Seguiu então para Bruxelas como Comissário Europeu responsável pelos Assuntos Internos e a Justiça que desempenhou com um mérito indiscutível reconhecido por toda a Europa.
Foi-se embora, abandonou a política activa, regressou à privada...
Eles são, indiscutivelmente, os políticos
de melhor qualidade do Partido Socialista Português e do país e foi com uma
certa tristeza que assisti às cenas a que Costa se sujeitou na noite de
ante-ontem com o seu colega António José Seguro, Secretário-Geral do Partido.
Seguro é um político formatado na escola
do Partido onde sempre viveu mais ou menos na sombra e silencioso, cultivando
afectos na estrutura do aparelho, Concelhias e Distritais, com um discurso de
cassete, à espera do seu momento que surgiu com a derrota de Sócrates e a sua
vitória sobre Francisco Assis nas eleições para Secretário Geral.
Os portugueses, cada vez mais em
dificuldades, desesperados com a crise, olhavam para António Costa com
esperança de que talvez ele se atrevesse a desafiar Seguro e viesse a liderar o
Partido e o país como a mais válida alternativa ao governo de direita de Passos
Coelho.
António Costa é um político experiente,
com muitas provas dadas no Governo e fora dele, nomeadamente como Presidente da
Câmara de Lisboa. O seu discurso tem substância, pensado, bem pensado, sem
recurso a cassetes, lugares comuns, a promessas demagógicas e, no entanto… fazendo uma avaliação
defeituosa da situação partidária e das suas possibilidades de vencer Seguro,
entrou no Largo do Rato como adversário de José Seguro e saiu, horas depois,
aos apertos de mão, esquecido o desafio, para grande desespero dos seus
apoiantes que o tinham incentivado à luta.
Desafiar, neste momento, José Seguro era
arriscar uma derrota quase certa e comprometer a reeleição a Presidente da Câmara
de Lisboa.
Ficou um combate adiado dependente de um
unir de Partido, dentro de dez dias, por parte do Secretário-Geral que saiu
reforçado deste encontro frustrante.
Como é que António Costa não percebeu
que não era este o momento e que os muitos e bons apoiantes não se podem
substituir aos militantes do Partido, aqueles que votam e que há ano e meio
deram uma vitória conclusiva a José Seguro sobre Francisco Assis?
O que é que Seguro fez de decepcionante
na oposição para perder todos os apoios que os militantes, acarinhados durante
anos por ele, lhe deram?
Todos esses apoios vão ser cobrados
quando Seguro for o próximo Chefe de Governo e os militantes que o apoiam, que
são o seu suporte, não esquecem que são credores de um lugarzinho e vão apostar
nele até ao fim, aguardando…
Têm que acontecer coisas mais graves na
situação política actual para alterar esta correlação de forças, sem esquecer
que Seguro é perito em tácticas defensivas.
…E o país precisava de um António Costa…
da sua capacidade de gestão, da sua sensibilidade social, da sua experiência,
conhecimentos, do seu jeito e competência quase ilimitada de negociação, tudo o que faz dele um político credível.
Este país está com azar!
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