DO
CARNAVAL
Episódio Nº 10
Na mesa do bar, alguns
rapazes conversavam. A luz das lâmpadas eléctricas, na rua, dava chibatadas na
escuridão envolvente. Pretas gordas, nas esqui nas,
vendiam acarajé e mingau. E nas sombras da noite a Bahia parecia uma grande ruína
de uma civilização que apenas começara a florescer.
Ricardo Vaz pôs o chapéu
na cabeça e convidou:
- Pessoal, vamos dar um fora?
- Não, temos de esperar Ticiano – protestou Jerónimo
Soares.
- Mas já são nove horas. É capaz de Pedro
Ticiano não vir. Ele já está ficando cansado…
- Mas, pelos amigos ainda se faz um
sacrifício! – disse uma voz atrás de Ricardo.
- Oh! Ticiano! Você… Veio somente me
desmentir.
Jerónimo bateu na mesa
chamando a garçonete.
- Traz café, meu amor…
- E água. Um copo d’água… - pediu o Gomes,
director de uma revista de cavação.
Pedro Ticiano tomou um
livro que Jerónimo segurava.
- Ó rapaz! Agora é que você está lendo José
Alencar?
- Relendo, Ticiano. Eu gosto muito de Alencar…
- É bom poeta… Bom poeta…
- Poeta?...
- Sim, poeta. Iracema é um poema de grande
sonoridade. Mas Alencar é um mau romancista…
Ricardo Braz discordou. Achava
que Alencar tinha qualidades. Não era, talvez grande romancista, mas lia-se.
Romancista de garoto de
Colégio interno e de imbecis que se honram de ter sangue índio…
Nesse momento, entrou José
Lopes, acompanhado por dois homens.
Ticiano, quero
apresentar-lhe o dr. José Augusto, primeiro Secretário da Embaixada em Paris. Este é que é o
Pedro Ticiano.
- Prazer…
- Conhecia-o de nome… O Sr. deixou nome no Rio…
- Bondade…
Ticiano detestava as
apresentações. Dizia não saber de coisa mais hipócrita.
- O Dr. Rigger, advogado.
- Pedro Ticiano, jornalista à margem da
imprensa…
Apertaram-se as mãos.
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