terça-feira, fevereiro 26, 2013


MESTRE DE AVIS – D. JOÃO I

E O SEU CONDESTÁVEL (continuação)

Batalha de Valverde



Avançou o Condestável com as suas hostes pelo caminho de Guadalupe, com a intenção de ir ao santuário de Nossa Senhora mas chamaram-lhe a atenção de que era grande pecado pisar a terra santa com cavalos de guerra e, por isso, ele deu meia volta para Maguazela.

Escaramuçando com o Mestre de Alcântara passou a Vila Nova de Serena e daí a Valverde, já todo o peso do inimigo, engrossado das gentes de Sevilha, Córdova e Jaem, se aprontava para lhe dar batalha.

À tardinha, chegou –se um escudeiro ao Condestável e disse-lhe:

 - Senhor, os castelhanos que nos cercam são mais bastos do que as ervas. Mais vos digo que já levaram uma parte do gado que trazíamos na hoste…

Tratava-se de um bravo homem de armas, que não tinha frio nos olhos, e respondeu-lhe Nuno Álvares de bom cenho:

- Afonso Pires, amigo, prouvera a Deus que se tivessem juntado todas as forças do reino de Castela que menos golpes cairiam no chão e maior honra seria a nossa. Quanto ao gado que nos apanharam, deixai. A terra é deles e nos abastecerá.

Com este moral se travou a batalha de Valverde. No preciso instante dos exércitos acometerem um contra o outro, o Condestável ajoelhou à vista de todos os seus homens, na terra nua, à borda do arraial.

Aí permaneceu um grande bocado, choviam em volta dele como saraiva, as setas do inimigo. Gritavam-lhe que saísse dali.

Não ouvia ninguém. Estava como em levitação, fora do Mundo. Viram-no afinal erguer-se com semblante iluminado, cavalgar no corcel que lhe ofereceu o pagem e chamar o alferes da bandeira.

Depois, fazendo sinal à sua gente com a espada, arremessou na vanguarda de todos contra os castelhanos. Atrás deles, galvanizados, os cavaleiros, de seguida, os soldados a pé, lançaram-se todos como uma tromba. E, subindo à carga cerrada o outeiro ocupado pelo inimigo, atiraram com ele de escantilhão, para fora das posições.

Os que não caíram destroçaram e a batalha acabou na debandada e perseguição. Valeu a noite aos castelhanos acossados ainda mais por uma légua pela planície sem fim,

Dentre os caudilhos de Castela, que baquearam para nunca mais, contava-se o Mestre de Santiago.



Quando a rainha se retirou para Alenquer, o Mestre, com medo das responsabilidades, um tanto acovardado por ter dado o primeiro golpe no Conde de Andeiro esteve a ponto de se passar para Inglaterra mas em sua alma que era ambiciosa, falaram mais alto as vozes de Álvaro Pais, antigo almoxarife do Paço, do Prior do Hospital, pai de Nuno Álvares e de João das Regras, o novo chanceler.

Percebendo-lhe a indecisão, na tibieza de se sobrepor aos acontecimentos, disse-lhe a velha raposa que era Álvaro Pais:

 - Senhor, se quereis ouvir o conselho de um tolo, não arredeis pé daqui. Estais à beira do trono. Se largardes, quando é que vos vereis chegar onde estais agora?

Mandai mas é pedir gente a João de Gaunt, Duque de Lencastre, que tem lá os melhores archeiros do mundo, com a isca de que o ajudareis a cobrar o trono de Castela.
(continua)

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