quarta-feira, fevereiro 06, 2013


O PAÍS
DO
CARNAVAL

Episódio Nº 15


Depois de colocar Julie num hotel (porque Julie viera com ele, agarrada, numa fúria de gozo, de sensações que o enlouqueciam), foi para casa. A sua mãe morava no Garcia, numa chácara. Não o esperavam.

Querendo fazer surpresa não avisara. Bateu à porta. Uma criada ainda nova atendeu-o. Ele mirava-a de alto a baixo, sorrindo. O coração batia-lhe no peito. Depois de sete anos de ausência, ia rever a sua velha mãe, que o adorava. Sentia-se emocionado.

E olhava a criada sorrindo, enleado. Ele era o filho pródigo que voltava à casa paterna. Quem sabe se ele não iria viver agora? Paris nunca lhe mostrara o sentido da vida. Saciara-lhe apenas a carne. E ele duvidara que o instinto fosse o único motivo de uma existência.

E na porta, sorrindo para a empregada, ele pensava que talvez na serenidade da sua casa encontrasse a felicidade. Pensou em Julie. Julie representava-se-lhe como uma ligação a Paris… Abandoná-la-ia.

- Que deseja, senhor?

 Paulo Rigger despertou.

 - A viúva do sr. Godofredo mora aqui?

 - Sim, senhor.

Paulo afastou a empregada. Entrou. Atravessou toda a casa, seguido pela criada espantada.

No quintal, a sua mãe dava milho a uma galinha amarela. (Rigger pensou que havia de criar galinhas). A mãe olhou-o. Reconheceu-o:

 - Meu filho!
 - Mamãe!

E no fim da tarde, após contar detalhadamente a vida em Paris à mãe e a algumas amigas que vieram visitá-la, já sentia saudades de Julie.

 IV

 A carne arrastava-o vencedora para Julie. A carne, somente a carne. Mesmo porque Julie só sabia ser instinto. Não se tratava de outra coisa. Não ligava para mais nada. Bastava satisfazer o corpo…

E Paulo Rigger compreendia perfeitamente o que se passava. Apesar disso não se afastava de Julie. Ainda mais, dava-lhe razão. Se ela o queria, sinal que o amava. O amor não passava da satisfação dos desejos… Um caso fisiológico, somente. Obrigação da natureza. Esse negócio de sentimentalismo? Puro arranjo de homens que procuraram assim encobrir e fazer mais cobiçado o amor.


Às vezes, entretanto, vinham-lhe pensamentos estranhos. Nessas horas vislumbrara verdades nas afirmações de Ricardo Braz. Talvez houvesse no amor qualquer coisa que não fosse a carne. O amor não era apenas o acto de deitar-se na cama, lado a lado, cabeça junto com cabeça, numa confusão de braços e de sentimentos.

O remendar uma meia, coçar um gato preto (muito aristocrático, que só dormisse sobre almofadas e não comesse feijão), dizer coisas agradáveis, ter ciúmes de sorrisos gastos com as pilhérias dos transeuntes, brigar a propósito do primeiro filho, também era amor, afirmava aos gritos, Ricardo, muito corado, as lunetas a balançarem no alto do nariz.

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