DO
CARNAVAL
Episódio Nº 20
- Olá, Algemiro!
- Olha o patrão! Como cresceu! Outro dia, um
menino… Ninguém diria… Mas lá nas Oropa se cresce depressa.
- Diga, Algemiro, as montadas estão aí?
- Nós trouxe, patrão. Parece que nós estava
adivinhando que o senhor trazia mais alguém. Trouxemos dois burros… O senhor
podia trazer um amigo…
- Trouxe uma amiga…
Apresentou-os:
- Mademoiselle Júlia.
- Algemiro, o capataz da fazenda.
Algemiro, muito activo,
foi buscar um silhão para o burro de Julie.
Montaram. Acompanhava-os
um negro gigantesco, musculoso, despido da cintura para cima.
Atrás da sela, a
espingarda dormia um sono inocente…
- Honório – gritou Algemiro – Passe em frente. Eu vou atrás
com o patrão.
E durante toda a viagem
Julie ia admirando os músculos das costas de Honório que marchava em frente,
mascando um pedaço de fumo negro entre os dentes alvíssimos.
Os animais, acostumados a
andarem aquele caminho todos os dias, carregando sacos de cacau, estacaram ante
a casa alva. No terreiro, galinhas e perus catavam iscas descuidadamente.
Algemiro ajudava Paulo a
descer. Honório tomou Julie nos braços e a colocou no chão. Ela chegara bem a
sua cabeça loura ao peito musculoso do trabalhador. Sentiu um cheiro sadio de
macho.
Naquela noite, quando
Rigger a apertou nos seus braços fracos de supercivilizado, ela pensou
voluptuosamente nos músculos de Honório e na sua estatura agigantada. E Rigger
achou um sabor novo nos seus beijos e um sentimento maior nos seus braços.
Dormiu feliz.
- Paulo Rigger apaixonou-se por uma francesa
e, como ela não o ama, apenas dorme com ele, o rapaz quer se convencer de que o
amor é apenas a Carne… Coitado! Coitado! Não quer ter uma desilusão…
- As desilusões são
necessárias – afirmou José Lopes.
- Você fala do alto da sua
serenidade.
- Braz, essa serenidade minha é filha das
desilusões. Eu fiquei sereno porque nada mais de bom espero da vida. Nada.
Enquanto não vierem coisas piores do que as que têm vindo, eu não me queixarei.
- Isso não é Serenidade, então.
- E o que é senão isso? A Serenidade é uma
falsificação da Felicidade…
- E é o fim da gente?
- Talvez. Olhe, eu acho
que sim. Conformar-se com a vida. Ir vivendo. Vivendo.
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