sábado, fevereiro 16, 2013


O PAÍS
DO
CARNAVAL

Episódio Nº 24

No único quarto da casa havia um a única cama. Julie deitou-se. Rigger achou que seria desaforo passar a noite em claro por causa de uma rameira. E deitou-se também.

Ela, no canto encolhida, deixava transparecer, de propósito, o seio. Ele sentiu que o seu pé tocava no de Julie. Um arrepio correu-lhe o corpo. Quis levantar-se, mas não pôde. Ela virou-se na cama e encostou-se a ele. Paulo acariciou-a. Abraçaram-se. Possuíram-se.

E, no grande momento, ela pediu:

- Perdoe-me…

 - Não!

Empurrou-a. Apertou-lhe a garganta. Ela gritou. Soltou. Soltou-a. Tinha uma vontade louca de esmagá-la. Disse-lhe nomes feios. Ela sorriu. Ele deu-lhe um soco. Julie gritou:

 - Covarde!

E ele bateu-lhe até cansar-se. Depois, deixou-a chorando na cama. Saiu. Aspirou com força o ar da noite. A lua, no alto, escondeu-se atrás de uma nuvem.

E o vento parecia cantar-lhe nos ouvidos a marcha carnavalesca.

Dá nela…
Dá nela…

VI

Meses de intenso trabalho. O “Estado da Bahia” tirava-lhe todo o tempo. Deveria aparecer por aqueles dias. Paulo Rigger e José Lopes não saíam da redacção, em longas conversas.

Aqueles dois homens extremamente diferentes se entendiam. Ambos não estavam satisfeitos com a própria vida. Ambos sentiam a necessidade de algo que não sabiam o que fosse., algo que lhes faltava.

Eles chegaram à conclusão de que se vive para qualquer coisa superior. Qual seria ela? Ricardo Braz afirmava que a finalidade da vida, isto é, a Felicidade, só se encontra no amor.

 Jerónimo Soares insinuava a medo que talvez a religião satisfizesse essa ânsia de finalidade de todos os homens.

Paulo Rigger inclinava-se para o que dizia Ricardo. José Lopes não duvidava que Jerónimo tivesse razão, mas não chegavam nunca àquela certeza a que os outros tinham chegado. Entre eles, Pedro Ticiano, agora com uma terrível doença nos olhos que lhe ia roubando a vista, jurava sobre a experiência dos seus sessenta e cinco anos, que o homem superior não tem finalidade. Vive por viver…

- Mas Ricardo Braz é superior e entretanto garante que o amor, o casamento, a vida burguesa trazem a Felicidade.

 - Mas ele já amou? Já casou? Quando amar, quando se casar, se decepcionará…

José Lopes estava com Ticiano. O amor não podia dar a Felicidade…

E, vitorioso:

 - E a saciedade? E a tragédia da saciedade?

Agora podia ser que o sobrenatural – Deus, a religião – consolasse.

Site Meter