sexta-feira, fevereiro 15, 2013


O PAÍS
DO
CARNAVAL

Episódio Nº 23


Havia dez dias que estavam na roça. Paulo Rigger sentia-se feliz. Tinha a certeza que Julie lhe pertencia inteiramente. E quem teria a coragem de deitar os olhos para a amante do patrão. Também, Julie não iria dar ousadia a nenhum daqueles brutos, mais animais que homens.

Toda a manhã, Rigger montava e dava um pulo ao povoado. Trazia jornais e revistas que lia à noite, à luz do candeeiro, antes de deitar-se. Julie nunca o acompanhava. Pretextava não gostar de andar a cavalo.

Naquela sexta-feira, Rigger saíra cedo. O céu, um pouco nublado, ameaçava chuva. Assim mesmo, ele seguiu. Pôs o burro a trote. No meio da estrada, porém, as nuvens se faziam mais carregadas. Paulo resolveu voltar.

Quando chegou não encontrou Julie em casa. Saiu a procurá-la pela roça. Que teria ela ido fazer? Talvez colher tangerinas…

Rigger ia descendo despreocupadamente o atalho que levava à fonte quando, olhando por acaso para um lado, empalideceu.

Debaixo de uma jaqueira, Julie e Honório, abraçados, sorriam. Ela tinha as saias suspensas, deixando à mostra as coxas alvas.

Rigger não fez escândalos. Voltou para casa 3e esperou…
Julie chegou ao meio-dia. Notou a cara zangado de Rigger. Temeu que ele houvesse descoberto tudo mas, treinadíssima naquelas situações, não se embaraçou:

 - Chegou há muito tempo, meu amor?

 - Há muito já.

- Eu andava passeando por aí, pela roça.

- Já sei. Prepare as malas. Nós viajaremos amanhã.

Ela não discutiu. Entrou para o quarto. Ele saíu a procurar Algemiro.

Encontrou-o junto a uma “barcaça” vendo secar o cacau.

 - Algemiro, despeça Honório.

 - Mas, patrão, ele deve 600$000 à casa!

 - Arranje um meio de ele pagar e despeça-o. Se ele não tiver dinheiro mande prendê-lo.

Ele tem uma casa no povoado. Com o aluguel sustenta uma filha no colégio. Em Ilhéus.

 - Quanto vale a casa?

 - Uns 500$000.

 - Tome a casa.

 - E foi saindo.

Algemiro acompanhou-o. Falou baixinho:

 - Patrão, se quiser pode liquidar-se o homem… Ou dar uma surra. Afinal, ele não devia olhar para o “jirau” do patrão…

 - Não, tome a casa, somente.


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