DO
CARNAVAL
Episódio Nº 21
- Isso mesmo – apoiou
Ticiano – viver por viver.
- Mas José Lopes está se contradizendo. Outro
dia ele discutiu com você, Ticiano, dizendo que até a religião pode dar a
felicidade… Agora nega que ela exista…
- Não é bem isso. A Felicidade não existe para
certos homens. Você por exemplo que espera encontrá-la no amor, terá uma
desilusão. A Felicidade não foi feita para você. Agora Jerónimo, não. É outro
caso. Dêem-lhe uma boa esposa e um pouco de religião, o consolo do sobrenatural,
e estará feliz.
- Bem, isso no caso de Jerónimo. Mas, no seu?
Você tem talento pra burro e diz que pode chegar a católico.
- A verdade é que eu sinto às vezes,
necessidade de um consolo. A gente com os amigos, por mais que queira, não pode
ser inteiramente sincero. Precisa-se de um senhor muito bom, que nos escute e
console.
Mas é questão de
sentimento. A razão não me levou ainda até Deus. E não me levará nunca. E ao
sentimento eu vencerei.
- E é esse homem que se diz sereno!
A conversa estancou. O Gomes entrara aos
pulos, arrastando Jerónimo. Sentou-se esbaforido.
- Garçonete, cerveja!
- Hei? – admirou-se Pedro Ticiano – Cerveja?
Olhem, o Gomes paga cerveja. Há qualquer coisa com certeza de muito grave.
Gravíssima.
Gomes explicava:
- Estou entusiasmado!
- O entusiasmo é uma prova de mediocridade –
interrompeu Ticiano.
- Não interrompa o homem!
- Uma ideia, uma grande ideia – bradava o
Gomes apoplégico.
- uma ideia? Você teve uma ideia, Gomes? –
berrou Ricardo
- Guarde a sua ideia, rapaz. É um tesouro.
- Ora, vá para o inferno! Sujeito chato!
Não queria ouvir fosse
embora… Bolas! Ele, afinal, se esforçava por fazer alguma coisa para bem de
todos e Braz ainda vinha chatear…
José Lopes conciliou:
- Deixem de tolices! Eu estou curioso, Gomes…
conte
A garçonete chegou com a
cerveja.
Gomes pediu charutos.
- “Ouro de Cuba”… Não, “Suerdick nº 2”
O espanto de Ticiano não
tinha limites.
O Gomes, já serenado,
lançou a ideia acompanhada de um soco no meio da mesa:
- Um diário, vamos ter um
diário!
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