quarta-feira, fevereiro 13, 2013


Os Pobres e os Ricos
A Pobreza e a Riqueza

Mais do que os ricos e os pobres, que sempre os houve, falemos da Pobreza e da Riqueza à escala dos países, dos povos, dos continentes para chegar à conclusão que nunca, até agora, qualquer um dos muitos especialistas nestas matérias conseguiu apresentar uma razão ou conjunto de razões que, de uma vez, nos explique porque há nações ricas e outras pobres ou, de outra maneira, porque é que os países ricos continuam ricos e os pobres continuam pobres chegando ao ponto de brincar com a situação dizendo que, “quando chove sopa as pessoas nos países pobres são sempre surpreendidas com garfos na mão”.

Este tema devia pôr toda a gente a pensar porque é intrigante, porque se trata de uma realidade tão persistente que se corre o risco de a aceitar como algo de inelutável, daquelas coisas que fazem parte da natureza, que são hoje assim porque sempre o foram e sempre o serão.

Há duas escolas de pensamento segundo as quais a riqueza não era mais que o triunfo do Bem sobre o Mal ou, vice-versa, do Mal sobre o Bem.

Para uma dessas escolas, os europeus eram mais inteligentes, estavam melhor organizados, eram trabalhadores mais conscienciosos; Os outros, eram ignorantes, arrogantes, indolentes, retrógrados, supersticiosos.

Para a outra escola, invertem-se as categorias: os europeus eram agressivos, cruéis, gananciosos, hipócritas e sem escrúpulos; Os outros, as suas vítimas, eram infelizes, fracas e inocentes.

A primeira corrente de pensamento deve ter feito as delícias dos nazis para quem este tipo de argumentos vinha mesmo ao encontro da supremacia da dita raça ariana…

Mas, brincadeiras à parte, às vezes dou comigo a pensar duas coisas:

-A primeira é, se para alguns, não foi reposta a luta pela sobrevivência dos primórdios da humanidade em que todos os nossos antepassados até ao “homo sapiens sapiens” pura e simplesmente não conseguiram sobreviver e desapareceram da face da terra.

É que, se não é assim parece… milhões de pessoas do continente africano já teriam desaparecido se os alimentos não lhes fossem atirados de avião ou levado em camiões, porque a imagem recolhida por um observador externo, chegado ali de repente e desconhecedor de tudo o resto, era a de uma população que se extingue.

E, no entanto, estes mesmos milhões de pessoas, são “homo sapiens sapiens” como nós, que passaram o grande teste inicial da sobrevivência e correm hoje o risco, não de desaparecer geneticamente, mas de verem os seus efectivos populacionais reduzidos drasticamente pela guerra, fome e doença.

-Em segundo lugar, a pergunta que apetece fazer é: então, em que espécie de armadilha caíram eles para, depois de um tão longo percurso terem voltado ao ponto zero das suas existências, quando a população mundial é hoje de sete biliões de pessoas comparadas com as dezenas de milhar ao tempo em que a sobrevivência da nossa espécie se colocou efectivamente?

Entretanto, uma outra espécie de pobreza, provavelmente respeitante ainda a um maior número de pessoas é aquela que encontramos nos subúrbios das grandes cidades por todo o mundo, que se traduz numa miséria material e, acima de tudo, moral que, não eliminando fisicamente, degrada e desvirtua as pessoas constituindo o mais grave problema social de todos os países quer sejam eles do grupo dos Ricos ou dos Pobres.

Mas, a Riqueza que persiste, em contraposição com a Pobreza que não despega, faz-me lembrar uma espécie de comboio que passou: quem o apanhou, apanhou, os outros ficaram a vê-lo ou então não estavam na Estação onde ele se formou e de onde partiu.

Nós, portugueses, tivemos imensa responsabilidade na formação deste comboio quando abrimos as vias marítimas ao comércio do mundo e proporcionamos a imensa gente que ganhasse dinheiro com esse comércio.

De seguida, toda essa movimentação comercial preparou as condições para que, juntamente com as descobertas científicas e tecnológicas dos séculos XVIII e XIX, o comboio da Riqueza fosse posto em marcha puxado pela máquina do Capitalismo e os europeus, por razões históricas, culturais e geo-estratégicas, estavam lá.

As sociedades Rurais deram lugar à sociedade Industrial, a que esteve na origem dos países Ricos e Pobres, da exploração das matérias primas, da produção em série, da educação em massa e, finalmente, chegamos agora à sociedade do Conhecimento, a do Click, a do ensino diversificado e especializado, aquela em que os filhos, porque nasceram nela, ensinam os pais.

Será que esta nova sociedade do Conhecimento irá contribuir, com a ajuda dos fenómenos da Globalização a mais oportunidades para todos em todo o mundo, ao esbater progressivamente esta realidade do mundo Rico e do mundo Pobre mesmo à custa de algumas convulsões temporárias na sociedade dos ricos?

Eu tenho muitas dúvidas, pois a sociedade do Conhecimento parece-me ser um mundo de Grupos, uma vez que o conhecimento muito especializado e diversificado, mesmo quando se nasce no tempo dele, não se nasce com ele, e se o mesmo não for acessível à generalidade das pessoas teremos ainda mais desigualdades.

Assim, um mundo especializado poderá ser um mundo cada vez mais difícil para a generalidade das pessoas que se confrontarão com dificuldades crescentes numa sociedade de elites.

Por esta razão, qualquer avanço na resolução deste mistério dos Países Ricos que continuam Ricos e dos Países Pobres que continuam Pobres, terá de resultar de políticas.

Exige-se a intervenção de pessoas, determinadas, convictas, suficientemente influentes e poderosas na vida política internacional que consigam desencadear um movimento que tenha a ousadia de ir aos alicerces desta questão.

Aquilo a que estamos a assistir na actual política de Barack Obama, nos EUA - reparemos no seu discurso proferido esta madrugada propondo, entre outras coisas, um aumento de mais de 24% no salário mínimo -  dá-me esperanças de que alguma coisa deste género possa vir a acontecer no futuro.

Não teve já a humanidade líderes políticos que ficaram na história pela coragem de fazerem a guerra para imporem religiões, ideologias políticas e para construírem impérios, então, por que não há-de haver um líder que fique na história por declarar guerra à injustiça e desigualdade que vai no mundo, porque é disto que se trata?

Obama está no início do segundo mandato, em guerra aberta com o Congresso dominado pelos Republicanos defensores e protectores dos ricos e poderosos.

Até que ponto é que ele, descomprometido relativamente a uma próxima eleição a que já não pode concorrer, não vai procurar ficar, por mérito próprio, na história dos Presidentes dos E.U.A?


Não vai ser fácil. A correlação de forças políticas não é linear. O sistema protege os ricos e a democracia pode acrescentar votos mas não poder ou riqueza.
Realisticamente, a batalha dos Pobres é uma batalha perdida. Mesmo agora, na resignação do Papa, será que não lhe pesa na consciência não ter conseguido varrer os vendilhões do Vaticano?
Olhemos à nossa volta… onde vemos nós o triunfo dos pobres? Já o foi no Estado Social, avanço enorme da Europa do pós guerra mas que agora parece estar a atravessar dificuldades porque os ricos não estão com vontade de contribuir para o seu fortalecimento.
Tudo o que se conseguir neste campo vai resultar de uma luta, de uma confrontação que se vai arrastar no tempo, sociedade por sociedade.
Ponhamos os olhos nas sociedades dos Países Nórdicos. Imitemo-los em tudo o que eles fizerem de melhor que nós a começar pelas leis. É aqui que tudo começa…

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