quarta-feira, março 13, 2013


“Habemus Papa”

Hoje, quarta-feira, quando escrevo, ainda não há Papa mas não tardará muito. Aquela situação, ali fechados, sabendo que todo o mundo ou uma parte dele, com os grandes líderes mundiais de agendas suspensas, anseia um desfecho - o já badalado “fumo branco” - deve provocar um acentuado stress a que pessoas de idade, todos já com as suas mazelas, não obstante a ajuda do “espírito santo” de que se dizem, inspiradas, têm necessariamente que sentir.

A Igreja de Roma não tem tido vida fácil nestes últimos tempos. Não, porque ela se tenha portado pior que em anos anteriores mas apenas porque o que era possível silenciar ontem já não pode calar hoje… e o estrépito foi enorme!

A doutrina forçou a natureza humana obrigando a um celibato com raízes históricas, muito antigas, para defender o património dos representantes de Deus das inevitáveis heranças, e se havia que herdar nos primeiros tempos das grandes doações...

A doutrina também excluiu a mulher do sacerdócio em pé de igualdade com os homens porque preferiu ver nelas a “fonte do pecado”, a perdição dos homens.

A riqueza, opulência, sinais exteriores de ostentação herdados do Imperador Constantino de Roma que depois de perseguir os cristãos, sobreviventes de Jesus, decidiu, numa jogada política de mestre, converter-se e criar uma Igreja a partir dos seus seguidores e de uma mensagem tão sedutora e, acima de tudo, capaz de mobilizar as pessoas até ao sacrifício das suas próprias vidas.

Que melhor poderia haver para dar cimento a um Império que se desagregava?

Jesus, não criou nenhuma Igreja. Foi Constantino, negociando com os representantes mais evidentes dos seguidores de Jesus que aceitaram as propostas do Imperador desejosos de passarem de perseguidos a perseguidores.

Escamoteia-se este nascimento mas nem os sinais exteriores de riqueza herdados directamente do Imperador: o seu palácio, o seu cadeirão, as suas vestes, não tiveram coragem de fazer desaparecer ao longo dos tempos.

A Igreja de Roma, nos últimos mil anos, dizem alguns teólogos especialistas, foi a Igreja do Poder e só a força da fé que não se explica, não se justifica e se respeita de uma forma irracional, tem permitido, embora com muitas perdas na sua inserção no tecido social onde nasceu, a sobrevivência. Não por mérito dela quando os exemplos dados são idênticos aos de um outro qualquer “aparelho” de poder.

Neste momento, repousa, fechado numa gaveta, um Relatório elaborado por três Bispos escolhidos pelo Papa que resignou e que constitui uma espécie de herança maldita do novo Papa.

E, nessas trezentas páginas, divididas por dois volumes, lêem-se palavras tais como sexo, corrupção e tráfico de influências, uma trilogia que tem pouco de santo e onde se fala até de uma rede transversal unida pela orientação sexual.

Um lobby gay, dizem os jornais (La República), que se move no Vaticano e que é o mais influente e ramificado de quantos existem na Cúria Romana.

Um grupo de bispos e religiosos pertencentes à rede de que se fala terá criado uma espécie de rede de prostituição de seminaristas e até de imigrantes para servir o alto escalão da igreja. Os encontros ilícitos aconteciam em Roma numa sauna  de um bairro dos subúrbios, numa vila privada dos arredores, num salão de beleza e ainda num edifício que foi residência universitária… 

Neste momento, em que ainda não houve fumo branco, seja qual for o cardeal que saia Papa, se a Igreja não se abrir às mulheres e ao matrimónio dos sacerdotes que possam escolher o casamento como opção de vida, estes problemas continuarão inevitavelmente.

O mundo está entregue ao capital financeiro especulativo que despreza as pessoas numa oposição total à mensagem de Jesus que a Igreja Católica prega há séculos sem a praticar.

 Se alguém tem obrigação de lutar contra esse mundo obscuro de interesses é a Igreja Católica. Em vez disso, enreda-se nestes escândalos que lhe retiram credibilidade e a fragilizam.

Espere-se pelo próximo Papa… e que ele se alie, com todo o peso da instituição da sua Igreja, às forças do bem e da justiça… com determinação, coragem, dando o exemplo.

PS - Chegou da Argentina... é bom augúrio!  


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