“Habemus Papa”
Hoje, quarta-feira, quando escrevo,
ainda não há Papa mas não tardará muito. Aquela situação, ali fechados, sabendo
que todo o mundo ou uma parte dele, com os grandes líderes mundiais de agendas
suspensas, anseia um desfecho - o já badalado “fumo branco” - deve provocar um
acentuado stress a que pessoas de idade, todos já com as suas mazelas, não
obstante a ajuda do “espírito santo” de que se dizem, inspiradas, têm necessariamente que sentir.
A Igreja de Roma não tem tido vida fácil
nestes últimos tempos. Não, porque ela se tenha portado pior que em anos
anteriores mas apenas porque o que era possível silenciar ontem já não pode calar
hoje… e o estrépito foi enorme!
A doutrina forçou a natureza humana
obrigando a um celibato com raízes históricas, muito antigas, para defender o
património dos representantes de Deus das inevitáveis heranças, e se havia que
herdar nos primeiros tempos das grandes doações...
A doutrina também excluiu a mulher do
sacerdócio em pé de igualdade com os homens porque preferiu ver nelas a “fonte
do pecado”, a perdição dos homens.
A riqueza, opulência, sinais exteriores
de ostentação herdados do Imperador Constantino de Roma que depois de perseguir
os cristãos, sobreviventes de Jesus, decidiu, numa jogada política de mestre,
converter-se e criar uma Igreja a partir dos seus seguidores e de uma mensagem
tão sedutora e, acima de tudo, capaz de mobilizar as pessoas até ao sacrifício
das suas próprias vidas.
Que melhor poderia haver para dar
cimento a um Império que se desagregava?
Jesus, não criou nenhuma Igreja. Foi
Constantino, negociando com os representantes mais evidentes dos seguidores de Jesus que aceitaram as propostas do Imperador desejosos de passarem de perseguidos a perseguidores.
Escamoteia-se este nascimento mas nem os sinais exteriores de riqueza herdados directamente do Imperador: o seu palácio, o seu cadeirão, as suas vestes, não tiveram coragem de fazer desaparecer ao longo dos tempos.
Escamoteia-se este nascimento mas nem os sinais exteriores de riqueza herdados directamente do Imperador: o seu palácio, o seu cadeirão, as suas vestes, não tiveram coragem de fazer desaparecer ao longo dos tempos.
A Igreja de Roma, nos últimos mil anos,
dizem alguns teólogos especialistas, foi a Igreja do Poder e só a força da fé
que não se explica, não se justifica e se respeita de uma forma irracional, tem
permitido, embora com muitas perdas na sua inserção no tecido social onde
nasceu, a sobrevivência. Não por mérito dela quando os exemplos dados são
idênticos aos de um outro qualquer “aparelho” de poder.
Neste momento, repousa, fechado numa
gaveta, um Relatório elaborado por três Bispos escolhidos pelo Papa que
resignou e que constitui uma espécie de herança maldita do novo Papa.
E, nessas trezentas páginas, divididas
por dois volumes, lêem-se palavras tais como sexo, corrupção e tráfico de
influências, uma trilogia que tem pouco de santo e onde se fala até de uma rede
transversal unida pela orientação sexual.
Um lobby gay, dizem os jornais (La República ), que se move
no Vaticano e que é o mais influente e ramificado de quantos existem na Cúria
Romana.
Um grupo de bispos e religiosos
pertencentes à rede de que se fala terá criado uma espécie de rede de
prostituição de seminaristas e até de imigrantes para servir o alto escalão da
igreja. Os encontros ilícitos aconteciam em Roma numa sauna de um bairro dos
subúrbios, numa vila privada dos arredores, num salão de beleza e ainda num
edifício que foi residência universitária…
Neste momento, em que ainda não houve
fumo branco, seja qual for o cardeal que saia Papa, se a Igreja não se abrir às
mulheres e ao matrimónio dos sacerdotes que possam escolher o casamento como
opção de vida, estes problemas continuarão inevitavelmente.
O mundo está entregue ao capital
financeiro especulativo que despreza as pessoas numa oposição total à mensagem
de Jesus que a Igreja Católica prega há séculos sem a praticar.
Se alguém tem obrigação de lutar contra esse
mundo obscuro de interesses é a Igreja Católica. Em vez disso, enreda-se nestes
escândalos que lhe retiram credibilidade e a fragilizam.
Espere-se pelo próximo Papa… e que ele
se alie, com todo o peso da instituição da sua Igreja, às forças do bem e da
justiça… com determinação, coragem, dando o exemplo.
PS - Chegou da Argentina... é bom augúrio!
<< Home