quarta-feira, março 13, 2013


As Raízes da Moralidade


PRECISAREMOS DE DEUS PARA SERMOS BONS OU MAUS?



Será que existe uma consciência moral embutida nos nossos cérebros tal como temos o instinto sexual ou o medo das alturas?

Sobre esta questão o biólogo Marc Hauser, biólogo da Universidade de Harvard, realizou estudos estatísticos e experiências do domínio psicológico recorrendo a questionários colocados na Internet para investigar a consciência moral de pessoas reais.

A forma como as pessoas reagiram a estes testes de moral e a sua incapacidade para expressarem as razões que as levaram a reagir dessa forma parecem ser, em grande medida, independentes das crenças religiosas ou da falta delas.

Mas vejamos, textualmente, o que nos diz o autor destes estudos, Marc Hauser:

“Por detrás dos nossos juízos morais há uma gramática moral universal, uma faculdade da mente que foi evoluindo ao longo de milhões de anos de maneira a incluir um conjunto de princípios que construísse um leque de sistemas.”

Eis o dilema que foi colocado:

- Uma pessoa tem ao seu alcance o comando das agulhas que pode desviar o carro eléctrico para uma via de resguardo de forma a salvar 5 pessoas que estão presas na via principal, um pouco mais à frente.

Infelizmente há um homem preso na via de resguardo mas, como é só um a maior parte das pessoas concorda que é moralmente admissível senão mesmo obrigatório a mudança de agulha matando uma mas salvando cinco.

Mas, numa outra variante da situação, o carro eléctrico só pode ser parado pondo-lhe no caminho um peso grande largado de uma ponte situada por cima da via. É obvio que temos de largar o peso mas, se o único peso disponível for um homem muito gordo sentado na ponte a admirar o pôr-do-sol?

Quase toda a gente concorda que, neste caso, é imoral empurrar o homem gordo da ponte, embora de um certo ponto de vista, o dilema possa parecer semelhante ao anterior no qual se mata uma pessoa para salvar cinco.

A maior parte das pessoas tem uma forte intuição que existe uma diferença crucial nos dois casos, embora não consiga exprimi-la.

Vejamos um caso idêntico:

- Num Hospital há cinco doentes a morrerem cada um por falha de um órgão diferente e todos eles seriam salvos se fosse encontrado dador disponível para cada um deles.

- O cirurgião repara que na sala de espera está um homem saudável cujos cinco órgãos em questão se encontram em boas condições de funcionamento e são adequados para transplante.

Neste caso não há quase ninguém capaz de dizer que a acção moralmente indicada seria matar esse homem para salvar os outros cinco.

Tal como no caso do homem gordo sentado na ponte a ver o pôr-do-sol, a intuição que a maior parte de nós partilha é que um espectador inocente não deve ser arrastado para uma situação problemática e usado para salvar outras pessoas sem o seu consentimento.

Immanuel Kant, filósofo alemão, expressou de forma admirável o princípio segundo o qual um ser racional que não haja dado o respectivo consentimento nunca deverá ser usado como simples meio para atingir um fim, mesmo que esse fim seja o benefício de outras pessoas.

A pessoa que se encontrava presa na via de resguardo do carro eléctrico não estava a ser usada para salvar a vida das cinco pessoas presas na linha principal, é a via de resguardo que, propriamente, está em causa, sucedendo apenas que o homem tem o azar de se encontrar nessa via.

Enquanto isto, o homem gordo sentado na ponte e o homem saudável na sala de espera do hospital estavam nitidamente a serem utilizados e isso é que viola o princípio de Kant, para quem, não fazer esta distinção seria um absurdo moral. Para Hauser essa distinção foi-nos embutida ao longo da nossa evolução.

Numa sugestiva aventura no domínio da Antropologia, o Dr. Hauser e colegas seus adaptaram as suas experiências morais aos Kunas, uma tribo da América Central que tem poucos contactos com os ocidentais e não possuem uma religião formal.

Os investigadores fizeram as respectivas adaptações à realidade local com crocodilos a nadarem na direcção de canoas e os Kunas, mostraram ter, com pequenas diferenças, juízos morais semelhantes aos nossos.

Hauser também se interrogou sobre se as pessoas religiosas diferem dos ateus quanto às suas intuições morais.

Será evidente que, se é certo que é à religião que vamos buscar a nossa moralidade, elas devem ser diferentes mas parece que o não são.

Trabalhando em conjunto com o filósofo de moral Peter Singer, Hauser centrou-se em três modelos hipotéticos comparando depois as respostas dos ateus e das pessoas religiosas:

1º No dilema do carro eléctrico 90 % das pessoas disseram que era admissível desvia-lo, matando uma pessoa para salvar cinco.

2º Vê uma criança a afogar-se num pequeno lago e não há mais ninguém por perto para ajudar. Você pode salvar mas, se o fizer, estraga as calças: 97 % das pessoas concordaram que se deve salvar a criança (surpreendentemente, parece que 3% preferiam salvar as calças).

3º No dilema do transplante de órgãos já descrito: 97% dos sujeitos concordaram que é moralmente condenável pegar na pessoa saudável da sala de espera e matá-la para lhe retirar os órgãos, salvando com isso cinco outras pessoas.

A principal conclusão deste estudo é que não existe diferença estatisticamente significativa entre ateus e crentes religiosos quanto à formação destes juízos o que é compatível com o ponto de vista segundo o qual não precisamos de Deus para sermos bons – ou maus.

No entanto, Steven Weinberg, físico norte-americano galardoado com o Prémio Nobel é mais pessimista:

- “A religião é um insulto à dignidade humana. Com ou sem ela, haveria sempre gente boa a fazer o bem e gente má a fazer o mal. Mas é preciso a religião para pôr gente boa a fazer o mal.”

Blaise Pascal (1623-1662), filósofo, físico e matemático francês disse algo semelhante:

- “Os homens nunca fazem o mal tão completa e alegremente quando o fazem por convicção religiosa.”


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