terça-feira, março 12, 2013


O Respeito imerecido das Religiões

Há na nossa sociedade a ideia generalizada, que quase todos aceitamos - mesmo os não religiosos – de que a fé religiosa é particularmente vulnerável à ofensa e que, por isso deve ser protegida por uma grossa muralha de respeito, respeito este de uma ordem diferente daquele que qualquer ser humano deve ter para com o seu semelhante.

A este tipo de “respeito”, Douglas Adams, pouco antes da sua morte, referiu-se num notável discurso improvisado na Faculdade de Cambridge que a seguir transcrevemos:

 - «A religião… tem no seu âmago algumas ideias a que chamamos sagradas ou santas ou seja o que for. O que significa é o seguinte:

  - “Aqui está uma ideia ou uma noção sobre a qual não nos é permitido falar mal; Pura e simplesmente. Porquê? – porque não.”

Se alguém vota num partido com o qual não concordamos, somos livres de discuti-lo tanto quanto nos apetecer; todos terão algo a dizer, mas ninguém se sentirá agastado por isso.

Se alguém acha que os impostos devem subir ou descer, somos livres de ter uma opinião. Mas, por outro lado, se alguém diz que “não devo rodar sequer o interruptor de uma lâmpada ao sábado” nós diremos: “Respeito isso.”

Por que razão é perfeitamente legítimo apoiar o Partido Trabalhista ou o Partido Conservador; republicanos ou democratas, este ou aquele modelo económico – mas ter uma opinião sobre a origem do universo, sobre quem criou o universo… não, porque é sagrado?... Estamos habituados a não questionar as ideias religiosas, mas é muito interessante o alarido causado por Richard Dawkins quando o faz! (Por exemplo, no seu livro “A Desilusão de Deus”).

Todos perdem a cabeça porque não nos é permitido dizer estas coisas. Mesmo assim, quando olhamos racionalmente para a questão, não há razão para que estas ideias não possam ser discutidas como quais quer outras, só que, de alguma forma, concordámos entre nós que o não devem fazer.»

Aqui está um exemplo notável do respeito pretensioso da nossa sociedade pela religião: a forma mais simples de conseguir um estatuto de objector de consciência em tempo de guerra é alegar motivos religiosos.

Pode ser-se um brilhante filósofo com uma tese de doutoramento premiada e na qual se expõem os males da guerra e ter muita dificuldade em passar pela Comissão de Avaliação como objector de consciência, mas se alegar motivos religiosos, por exemplo, de que os seus pais são “quacres”, passa com a maior das facilidades.

Se os defensores do “apartheid” tivessem tido dois dedos de testa, teriam afirmado – sem mentir, ao que julgo, que permitir a mistura de raças era contra a sua religião e uma grande parte da oposição teria saído, respeitosamente em bicos de pés.

O fundamento da fé religiosa, a sua força e glória residem no facto de não dependerem de uma justificação racional. De todos os outros espera-se que defendam os seus preconceitos mas peça-se a um religioso que justifique a sua fé e logo se está a “infringir a liberdade religiosa”.


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