Baiana |
O PAÍS
DO
CARNAVAL
Episódio 43
Quando Maria de Lourdes
leu a crónica de Paulo ficou encostada à mesa, olhos a fitarem o jornal,
lágrimas caindo.
- Vou contar-lhe tudo. É o jeito. Sei que ele
não me perdoará, mas conto tudo. É preciso.
Logo depois, desanimava.
Ele era tão ciumento… Bastava que ela olhasse qualquer outro homem, mesmo sem
interesse nenhum, para que ele se pusesse a reclamar. E ela o amava tanto, meu
Deus! Se ele não a perdoasse (ele tinha tanto ciúme do passado!) ela morreria
de dor. Não resistiria.
- Em que pensa Lourdinha?
- Oh, Jardelina! É você?
Uma irmã (nunca se
lembrara dela antes do seu noivado com Paulo Rigger que era, afinal, um rapaz
rico. Visitava-a agora constantemente) de Lourdinha, que se formava esse ano, em professora. Gabou
os livros de Maria de Lourdes, as revistas.
Jardelina se admirava de
Paulo Rigger não ter querido que Maria de Lourdes se mudasse daquele sótão
infecto.
- Ele qui s.
Queria que nós fossemos para uma casa. Dindinha é que é cheia de escrúpulos e
não qui s…
- Naturalmente. O que não haveriam de dizer?
Quando ele se casar, então, sim. Por ora quem sustenta a casa sou eu. Ele aliás
reconhece que eu tenho razão.
- E quando é esse casamento?
- Por estes dois meses. Paulo quer casar de
repente, sem cerimónia, sem avisar ninguém…
- Que homem excêntrico? E depois, onde vão
passar a lua-de-mel?
- Também não sabemos. Talvez Paris, talvez
roça…
- Com licença.
Paulo Rigger beijou a mão
de Lourdinha, de D. Pombinha e cumprimentou Jardelina.
- Como vai, Dr. Paulo?
- Bem. E a senhora?
Paulo não tolerava a irmã
de Maria de Lourdes. Achava que ela tinha cara de intrigante. Um nariz de
papagaio. Pessoa que tem nariz de papagaio não presta, explicava à noiva.
- Falávamos a respeito do casamento. Quando é?
- Qualquer dia destes. A senhora saberá no dia
em que nos casarmos.
- E não me convida para a cerimónia?
- Não, mesmo porque não há festa. Logo depois
de casados pelo juiz embarcaremos.
- Que homem, meu Deus! E aonde vão, depois?
- Aos Estados Unidos, dar um passeio… Eu não
conheço os Estados Unidos. Aproveito.
- Eu prefiro a Europa –
intrigou Jardelina. – E você Lourdinha?
- Eu? O que o Paulo qui ser.
Olharam-se. Nos olhos dela
uma grande tristeza. Nos dele uma grande alegria…
Tão longe a Felicidade…
Tão perto a Felicidade…
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