sábado, março 09, 2013


O PAÍS
DO
CARNAVAL

Episódio Nº 42


O filho não queria que ele escrevesse mais. Devia deixar daquela vida. Recolher-se à casa, não sair, abandonar as conversinhas diárias.

Para que estava ele a escrever diariamente um artigo e ainda notas? E demais, mal pago… Gomes roubava-os. Pagava mal a todos eles, que o serviam como amigos, e enriquecia.

E Ticiano queixava-se:

 - Quando eu tinha dezoito anos, meu pai perseguia-me por causa das minhas veleidades literárias. Agora persegue-me o filho…

Ricardo Braz juntou-se ao grupo. Acabara de levar a bordo o tal político da sua terra. O homem seguia encantado. A nota “do Estado da Bahia”, com cliché, então… Um sucesso!

 - Prometeu-me tudo, o homem1 A Ruth vai ficar contentíssima…

 - Você e Rigger são uns imbecis! Vão casar. Vão meter-se na mais completa mediocridade. Vocês casam, vamos ser sinceros, para possuir as respectivas noivas. Depois que saciarem o sexo…

 - Mas você engana-se redondamente quando pensa que nós casamos unicamente para poder dormir com as nossas noivas. Casamos porque temos necessidade de carinho. Queremos sexo e coração…

 - E antes de vocês se saciarem do sexo, se sacarão do coração. Eu já fui casado…

 - Qual nada! Nós sentimos que esse amor é a nossa finalidade.

José Lopes bateu na testa. Uma coisa que trouxera para lhes mostrar. Afinando a voz, leu:

“Mademoiselle Sentimento – Mademoiselle Sentimento, eu te amo tanto… Eu te adoro. Por que é que os teus olhos fogem dos meus olhos, quando conversamos? Por que essa tristeza que às vezes faz pálida a tua face? Por que não me contas tudo, não me abres inteiramente a alma, Mademoiselle Sentimento? Bem sabes que eu te amo tanto…”

 - Quem é que escreveu esse amontoado de besteiras?

 - De lugares comuns…

 - É a crónica social de amanhã.

 - Você escreveu isto, Ricardo?

 - Não. Rigger pediu-me para eu fazer a crónica amanhã.

 - Paulo Rigger, tão panfletário… tão violento…

 - Sim. Paulo Rigger que, noutros tempos, escrevia o “Poema da Mulata Desconhecida”…

 - Coitado!

 - Está perdido o rapaz… 

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