E A SUA CRUZADA A
ALCÁCER KIBIR
(continuação)
Os dois exércitos
puseram-se em marcha quase ao mesmo tempo de face um para o outro e
reconheceu-se logo a superioridade numérica dos mouros que, convergindo em meia
lua, ameaçavam só com os ginetes fechar os portugueses nas suas pontas, e ainda
não se via a infantaria, a desdobrar-se por detrás das lombas do terreno.
Quando D. Sebastião mandou
tocar a Ave-Maria, dispararam os mouros as suas bombardas, a última palavra em balística. O estrago
não foi grande mas o alarme foi indescritível que se baralharam desde logo as
fileiras da peonagem.
Esta, formada por gente
das aldeias, tosca, sem o necessário traquejo de armas, enrodilhou-se uma
contra a outra como um bando de ovelhas sobre que deu uma alcateia de lobos.
Entretanto a cavalaria
atacava a manga dos portugueses a quem D. Sebastião dera instruções rigorosas.
– “Daqui ninguém move até nova
ordem”.
De modo que aventureiros e
mercenários tiveram por assim dizer que aguentar a pé quedo o embate do
inimigo.
Um oficial às ordens.
Pedro Peixoto, recebeu entretanto esta voz do rei, louca de todo:
- “Ide dizer a Duarte de Menezes que comece a
pegar com os mouros devagar…”
- “Não direi senão que muito depressa” – retorqui u Peixoto.
Já os portugueses iam ser
envolvidos, apareceu Aldana a dizer ao príncipe.
- “Hombre, ponha-se a salvo. Para que quer a
cavalaria? Não vê que vamos morrer aqui
todos!...”
- “Diferente confiança tenho eu na graça de
Deus.”
- “Ora! Ora!
El - rei não se
determinava de acometer e um dos fronteiros exclamou de voz turva , apeando-se
do cavalo:
- “sejam todos testemunhas como me apeio para
morrer, porque hoje não é dia de outra coisa.
Dado que a ordem de atacar
nunca mais soasse, arrojaram-se como entenderam contra o inimigo. Era fora de
tempo. Pequena resistência encontravam já os mouros por toda a parte.
O Crescente, fora raros e
singulares actos de bravura, levava a Cruz de roldão. À voz de Sebastião de Sá
mais se atirou par o monte de inimigos:
- “O meu cavalo não sabe voltar.”
Breve a batalha se tornou
em debandada e carnificina cruel e despiedosa. Segundo os autores árabes, os
portugueses tiveram 6.000 mortos, quase todos em fuga, como coelhos, e o quase
restante do exército aprisionado. Os mouros teriam perdido 18 homens!
É possível tal
desproporção? E o Rei? O rei ficara paralisado, como pretende Bento de Sousa no
“Doutor Minerva”?
Que papel foi o seu que
nunca mais ninguém o enxergou na batalha? Um seu antigo criado da câmara,
Fernando Góis de Loureiro, abade que foi de São Martinho de Soalhães, que
assistiu à batalha, no livro que compôs, editado em Mântua:
“Breve suma y relacion de
ias vidas e hechos de los Reys de Portugal”, narra deste jeito o destino do
príncipe:
(continua)
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