DO
CARNAVAL
Episódio Nº 39
Maria de Lourdes acordou a
cantar. A sua voz ressoava, fresca, por todo o sótão. Encostou a cabeça á
janelinha que do seu quarto se abria sobre o telhado vizinho. Na janela do
quarto andar, um rapaz lia atento.
Reconheceu-o.
Lourdinha! Não lhe disse
que ia fazer-lhe uma surpresa?
Aluguei um quarto aqui , para estar mais perto de você…
À noite, ela veio até à
escada falar com ele. A escuridão mandava ali. Ele beijou-a muito. A sua mão
resvalou por baixo da blusa e encontrou um seio. Ela deixava, pálida.
Apertaram-se…
- Paulo…
- Minha Lourdinha…
E a vida foi correndo
assim. O quarteirão todo só falava no namoro escandaloso do moço rico com Maria
de Lourdes.
Georgina garantia que, na
escada, presenciava “sem vergonhices” sem conta. E contava às amigas coisas
espantosas.
- Como sabia?
Espiavam, ela e as outras,
por detrás da porta do sótão. Ele chegava, sentava-a ao colo. Beijava-a.
Amassava-lhe os seios. Não sabia em como ela ainda era moça…
- Falta de lugar… rosnava Helena – Essas
sonsas… Essas sonsas…
Maria de Lourdes não dava
ouvidos a essas coisas. A madrinha, tão pouco.
Paulo Rigger, para fechar
a boca do mundo, pediu Maria de Lourdes em casamento.
Ela, vingativa, ofereceu
um chocolate aos moradores do sótão. E gozava os parabéns invejosos.
Mas à noite, quando foi
deitar, a madrinha ouviu que chorava muito. Não lhe perguntou o que fosse.
Felicidade, naturalmente.
Mas só Maria de Lourdes sabia por que chorava!
Não tivera coragem de dizer ao noivo “aquela coisa” que a torturava…
A fita de cinema da vida
de Maria de Lourdes deu reprise em sessão especial parta ela própria. E ficou
vendo aquele tempo em que namorou Osvaldo. Não completara ainda qui nze anos.
Uma garota que só tinha da
vida a noção errada dos bancos colegiais. Osvaldo entrara nos seus dezoito anos
e com eles entrara pela primeira vez na casa de uma rameira. Aprendeu o que era
Carne.
Mas aprendeu às pressas,
sem reflectir. E seu noivado (um noivado de criança) com Maria de Lourdes
começou a tomar outro aspecto. Ela toda ingenuidade, entregava-se-lhe.
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