DO
CARNAVAL
Episódio Nº 40
Um dia – doía-lhe a
recordação do dia da sua desgraça – ele a levara até ao seu quarto. Ela saíra
feliz. Por muito tempo ignorou o que aqui lo
significava. Só quando foi morar naquele sótão é que soube, pelas conversas de
Helena e Georgina, que uma moça que já se deixou possuir por um homem não podia
mais casar, pois as leis acham que numa pele intacta reside toda a honra do
mundo.
Guardou, silenciosa, o seu
segredo. E, quando Paulo Rigger começou a amá-la, ela começou a sofrer. Não
tinha coragem de revelar-lhe o terrível segredo. Ele, tão ciumento… De Osvaldo,
que já morrera (depois de gastar nas casas de prostitutas os seus pulmões), ele
ciumava. Quanto mais se ele soubesse toda a verdade! Mas diria tudo. Ele tinha
de saber sempre… Para quê enganá-lo? E Paulo Rigger não conseguia entender a
razão da tristeza de Maria de Lourdes…
Nenhum dos seus amigos
acreditou no seu noivado. Nem Ricardo Braz… Blague de Paulo. Ele estava
brincando… Noivo, ele? Quá, quá, quá!
- Vocês não acham gozado? – e o Gomes
rebentava de rir.
Entretanto, Paulo Rigger
estava noivo. E não queria demorar o casamento. Casar-se-ia logo para não
deixar fugir a felicidade.
Passaria uns tempos na
Europa… Não. Na Europa, não. Ele não voltaria à Europa, onde se aprendia o
cepticismo. Agora que resolvera o problema da vida, que chegara à “finalidade”
Não voltaria àquela
oficina de indiferentes, de “blasés”… Iria para a roça. A sua lua-de-mel não
acabaria jamais… e depois? Depois a felicidade todo o dia. E depois? Essa mesma
felicidade.
Paulo Rigger não se
saciaria daquela felicidade doméstica? E Pedro Ticiano sorvia aos goles o café.
- Não, Ticiano. Eu, até
hoje, não tenho feito outra coisa senão procurar a Felicidade. Encontro-a. Vou
então me aborrecer dela?
- Mas você está mesmo noivo? – inqui ria, duvidando, Ricardo Braz.
Estou sim, Ricardo. Já a
alguns dias.
- E quem é a noiva?
- Uma menina que eu
encontrei na vida. Muito pobre mas muito boa.
- Uma mulatazinha –
emendou José Lopes – de família desconhecida. Nunca pensei que Paulo chegasse a
esse grau de estupidez…
- Olhe, José, vou lhe dizer uma coisa. se você
falar outra vez da minha noiva neste modo, nós cortaremos as relações.
Paulo, muito sério, todo
zangado, qui s levantar-se. Lopes
fê-lo sentar-se
- Seja feita a sua vontade, rapaz. Não se fala
mais na sua excelentíssima noiva…
Agora quem se levantava
era Ricardo Braz.
- Onde vai você?
- Vou receber um político
eminente da minha terra que chega hoje. Um animal perfeito! E ainda mais oposicionista.
Tem prestígio em certa zona. Pode me arranjar qualquer coisa. Eu também me
quero casar.
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