quinta-feira, março 07, 2013


O PAÍS
DO
CARNAVAL

Episódio Nº 40

Um dia – doía-lhe a recordação do dia da sua desgraça – ele a levara até ao seu quarto. Ela saíra feliz. Por muito tempo ignorou o que aquilo significava. Só quando foi morar naquele sótão é que soube, pelas conversas de Helena e Georgina, que uma moça que já se deixou possuir por um homem não podia mais casar, pois as leis acham que numa pele intacta reside toda a honra do mundo.

Guardou, silenciosa, o seu segredo. E, quando Paulo Rigger começou a amá-la, ela começou a sofrer. Não tinha coragem de revelar-lhe o terrível segredo. Ele, tão ciumento… De Osvaldo, que já morrera (depois de gastar nas casas de prostitutas os seus pulmões), ele ciumava. Quanto mais se ele soubesse toda a verdade! Mas diria tudo. Ele tinha de saber sempre… Para quê enganá-lo? E Paulo Rigger não conseguia entender a razão da tristeza de Maria de Lourdes…


Nenhum dos seus amigos acreditou no seu noivado. Nem Ricardo Braz… Blague de Paulo. Ele estava brincando… Noivo, ele? Quá, quá, quá!

 - Vocês não acham gozado? – e o Gomes rebentava de rir.

Entretanto, Paulo Rigger estava noivo. E não queria demorar o casamento. Casar-se-ia logo para não deixar fugir a felicidade.

Passaria uns tempos na Europa… Não. Na Europa, não. Ele não voltaria à Europa, onde se aprendia o cepticismo. Agora que resolvera o problema da vida, que chegara à “finalidade”
Não voltaria àquela oficina de indiferentes, de “blasés”… Iria para a roça. A sua lua-de-mel não acabaria jamais… e depois? Depois a felicidade todo o dia. E depois? Essa mesma felicidade.

Paulo Rigger não se saciaria daquela felicidade doméstica? E Pedro Ticiano sorvia aos goles o café.

- Não, Ticiano. Eu, até hoje, não tenho feito outra coisa senão procurar a Felicidade. Encontro-a. Vou então me aborrecer dela?

 - Mas você está mesmo noivo? – inquiria, duvidando, Ricardo Braz.

Estou sim, Ricardo. Já a alguns dias.

 - E quem é a noiva?

- Uma menina que eu encontrei na vida. Muito pobre mas muito boa.

- Uma mulatazinha – emendou José Lopes – de família desconhecida. Nunca pensei que Paulo chegasse a esse grau de estupidez…

 - Olhe, José, vou lhe dizer uma coisa. se você falar outra vez da minha noiva neste modo, nós cortaremos as relações.

Paulo, muito sério, todo zangado, quis levantar-se. Lopes fê-lo sentar-se

 - Seja feita a sua vontade, rapaz. Não se fala mais na sua excelentíssima noiva…

Agora quem se levantava era Ricardo Braz.

 - Onde vai você?

- Vou receber um político eminente da minha terra que chega hoje. Um animal perfeito! E ainda mais oposicionista. Tem prestígio em certa zona. Pode me arranjar qualquer coisa. Eu também me quero casar.

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