O (meu) Open do Estoril
e a Tenda dos VIPs
Há uns anos atrás, precisamente em 2006, aceitei um
convite do meu genro para me levar à boleia ao Torneio de Ténis do Open do
Estoril.
Todos os jogos começam por ser formas de entretenimento ad
Nunca vi nenhum vaidoso da minha cidade de Santarém entrar no Café numa manhã
de sábado sobraçando um saco de berlindes ou uma simples bola de futebol, mas
já lá os vi a passearem a raquete de ténis debaixo do
braço.
Não fora o 25 de Abril e o Poder Autárqui co
a construir campos de ténis por esse país fora e a tornar acessível a sua
prática ao comum das pessoas, especialmente os jovens e ainda hoje os havíamos
de ver a pavonearem-se com a raquete de ténis transformada em objecto de adorno
as pessoas do costume armadas em “very important pearsons”.
De certa forma a democracia “estragou” o Ténis e agora pouco há fazer para além
de terem que se refugiar no golfe ou no sky na Serra Nevada, na vizinha
Espanha, para já não falar nos Alpes Suíços.
Salvou-se a Tenda dos Vips no Open de Ténis do Estoril, já sem as raquetes
debaixo do braço mas com o mesmo ar de convencidos, pulôvers de marca por cima
dos ombros, displicentemente, taça de champanhe na mão, chegando-se “como quem
não quer a coisa” para junto de algum “mediático” porque com tantos fotógrafos
há sempre a hipótese de ficarem num “boneco”.
E eles lá estavam, os mediáticos: o incontornável, inefável e inevitável
Scolari, com o inseparável e pegajoso do Madaíl, mais os Vilarinhos e os Soares
Francos e o Joaqui m de Almeida, com
o seu novo visual de barbas, enquanto decorria um desfile de moda da Massimo
Dutti acompanhado por um grupo musical que abrilhantava o acontecimento com
música típica do sul de Itália onde entrava o nosso familiar e saudoso acordeão
a fazer lembrar os bailes da minha aldeia nos anos cinquenta.
E os jovens modelos, estilizados, - ou eram marionetas?… - não reparei bem, lá iam desfilando como
autómatos movidos a pilhas, antigamente teria sido a cordas. Passavam a dois
passos de mim, pensei eu que era ao vivo mas estavam tão mortos como quando os
vejo na televisão, nos seus rostos não há expressão, nem humanidade e eu
pergunto a mim próprio se é preciso aqui lo
para vender umas camisolas ou umas calças. Naturalmente… é.
À saída da Tenda (com letra maiúscula porque é dos Vips), num espaço reservado
no lado direito, três senhores, refastelados em três cadeirões tremiam tanto
que mais pareciam acometidos de ataques epilépticos mas, afinal, era apenas um
teste numa máqui na de massagens
daquelas que dispensam o massagista e logo uma jovem, completamente industriada
em curso intensivo, se aproximou para me elucidar das vantagens das massagens. Respondi-lhe
que não estava interessado nos cadeirões apenas tinha parado porque me pareceu
que as pessoas podiam estar a sentirem-se mal tal era a tremedeira…
No que respeita ao “desportivo” propriamente dito, tive oportunidade de assistir
à surpreendente vitória do nosso Gil que é o 200 do Ranking mundial com um
russo de dois metros de altura e serviços a velocidades entre os 200 e 220 de
tal forma que o Gil tinha que ir esperar a bola a mais de três metros da linha
da linha de fundo.
Mas o gigante começou a enervar-se porque o Gil
deslocava-se muito lentamente entre os pontos esgotando todos os segundos
regulamentares e o público começou a mandar “bocas” e ele, em vez de pontos,
começou a somar asneiras.
Os Torneios de Ténis vistos ao vivo são dois espectáculos:
um, que tem a ver com a sociaty e outro, o desportivo, entre as quatro linhas.
Prefiro, naturalmente, este último. Às feiras de
vaidades prefiro antes as feiras da aldeia dos meus avós, quando era miúdo.
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