domingo, março 10, 2013


HOJE É
DOMINGO
(Na minha cidade de Santarém) 

A nossa sensibilidade está mais viva, os nossos sentidos mais apurados, percebemos a nossa impotência, o risco que corremos, a incapacidade do País. Discutimos entre nós os “amendoins”, as refeições outros as decidem.

Pergunto a mim próprio se poderia ter sido de outra maneira, se era inevitável termos caído neste “buraco” financeiro, se outro comportamento, outras decisões dos nossos políticos não nos teriam conduzido a praias diferentes.

Lendo José Gil, ouvindo o “senador” da cena política deste país, o Prof. Adriano Moreira, já com 90 anos feitos, vendo o que se passa à nossa volta, por todo este país, na vizinha Espanha, na inevitável Grécia e agora com os espectaculares resultados das eleições em Itália onde Monti, o homem de confiança da Alemanha e da política “séria” dos equilíbrios orçamentais e das economias das despesas do Estado, se afunda nuns míseros 10% de votos e dois outros candidatos, um, velho conhecido dos italianos, que tem dado espectáculo com a sua vida privada escandalosa e de negócios tornando-se uma das maiores fortunas de Itália, dominante em sectores estratégicos do poder, como seja o da Televisão, Jornais e Futebol, há anos a fugir à Justiça que ele controla, e o outro, humorista de profissão, que chega às eleições só para arrasar tudo quanto é político em Itália sem acrescentar nada de construtivo. Tudo isto diz bem do estado de espírito dos italianos.

O filósofo é um personagem triste, os seus pensamentos, provavelmente, marcam-no dessa forma mas o que ele expressou, com sinceridade mesmo, foi medo, medo pelo futuro dele, dos outros e do seu país. Tal como o Prof. Adriano Moreira, medo pelos seus filhos, netos, pelo mundo em que eles irão viver.

Mas como foi possível?

Lembram-se, no início da década de 90 quando a explosão da actividade bancária foi tão forte, de norte a sul do país, que nas praças centrais das nossas cidades pastelarias que eram históricas começaram a fechar para darem lugar a agências bancárias e as acções do BCP haviam de chegar quase aos 4 euros contra os 0,08 que valem hoje?

Começava em grande o negócio do dinheiro que viria a correr muito bem nos vinte e tal anos seguintes: crédito barato, febre consumista, carros, mobília, férias, especulação financeira no mundo virtual da bolsa…

Agora, a banca despede, as agências fecham mas, infelizmente, as pastelarias que elas ocuparam não voltaram.

Os portugueses, de raiva, mandam o Relvas estudar, o Passos Coelho assume aquele ar grave e sério com que nos irá comunicando, regularmente, as medidas de austeridade contestadas pelo PCP e pelo Bloco e PS, indignados pelo sadismo revoltante do primeiro ministro que insiste em fazer sofrer o povo.

O Prof. Universitário Viriato Soromenho Marques continua a insistir, e com toda a razão, na teimosia com que o todo poderoso Banco alemão impede as decisões do Banco Central Europeu que poderiam aliviar a pressão dos mercados sobre as dívida soberanas dos países do Sul esmagados pelas taxas de juro que lhe são cobradas. Parece que eles, os alemães, vivem, ainda hoje, assombrados por causa de uma inflacção que tiveram no passado em que forraram as paredes das casas com notas de marco. Para eles, o euro é como se fosse o seu marco de alguns anos atrás, há que defendê-lo, acima de tudo.

Talvez eles se julguem possuidores de um poder que na realidade não têm neste mundo de hoje, globalizado. Numa entrevista, o Prof. Adriano Moreira deixou entender isso mesmo. Um erro de cálculo da Alemanha relativamente ao seu próprio poder no mundo actual, fora do quadro europeu, poderá ser um erro suicida para eles e toda a Europa.

Motivos de preocupação que justificam os medos do filósofo, do meu antigo professor, e eu pressinto, que de todos nós. Medo que nos retrai, que faz adiar compras que diminui ainda mais o consumo, em suma, agrava a crise que aumenta os motivos de preocupação, que justificam os medos do filósofo, do professor e de todos nós… num círculo vicioso que é preciso quebrar.

Eu confesso-vos a minha grande dúvida:

Ganhamos "mil"  guerras no passado... Fomos invadidos pelos nossos poderosos vizinhos espanhóis e ganhámos. Depois, ainda pelas mais poderosas tropas Napoleónicas e voltámos a ganhar e seguir em frente. 

Agora estamos confrontados com um outro tipo de guerra, sem soldados inimigos, sem tiros, sem emboscadas na curva do caminho. Não, não é a  Dívida propriamente dita... Como todos estão lembrados, o Eng. Sócrates disse, ainda não há muito tempo, de Paris, que as dívidas soberanas não se pagam: geram-se... e gerir significa amortizar, pagar juros.

 Juros de uma dívida que é a terceira mais alta da Europa e que neste ano de 2013 será superior a mais de 7.000 milhões de euros.

 - Será o pagamento deste montante compatível com o futuro do país?

- Quantos mais cortes vão ser ainda necessários fazer na minha reforma quando, 80% delas já não aguentam cortes por serem de miséria?

E quando os reformados, depois de tantos cortes, já não puderem ajudar os filhos e netos desempregados?

E como ninguém responderá a estas perguntas vamos entreter-mo-nos a especular sobre qual será o novo Papa ou, mais importante ainda, saber se o meu Sporting vai conseguir continuar na 1ª Divisão para o próximo ano.


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