(Da minha cidade de
Santarém)
Algumas das pessoas que visitam o Memórias
Futuras são compatriotas meus que vivem espalhados pela Europa e pelas Américas
e muitos enviam para Portugal parte das suas economias, as chamadas Remessas
dos Emigrantes. Pois fiquem a saber que em 2012 elas valeram ao país dois mil e
setecentos milhões de euros… e estão a aumentar.
Em termos de Contabilidade Pública
aparecem numa Conta chamada de Invisíveis Correntes e é curioso, irónica,
mesmo, esta denominação porque a entrada deste dinheiro não está relacionada
com a saída de mercadorias ou de serviços mas sim, de pessoas, concidadãos, que
foram “corridos” pelo seu país e se “vingam” ajudando-o pela vida fora a
endireitar as Contas Públicas. Foi assim, no tempo de Salazar e é-o agora.
Portugal é mais um mau padrasto,
“explorador”, do que um pai para os seus filhos e, no entanto, gostam dele, do
local onde nasceram, da escola onde aprenderam a ler, dos caminhos que
percorriam em jovens, dos familiares que por cá deixaram ou que, entretanto,
foram nascendo e, em contraste, não morrem de amores pelos governantes que, justa
ou injustamente. consideram os responsáveis.
Acompanham, através das notícias, o que
por cá se vai passando, vibram com a selecção nacional de futebol e os seus
ídolos, comovem-se quando ela ganha e choram quando ouvem o hino nacional.
Leio com tristeza os números
assustadores do desemprego actual e penso como é penoso, depois das fronteiras
passadas a salto com uma trouxa na mão, para a França, dos portugueses da minha
geração, nos anos sessenta, ver novamente, como quem cumpre uma sina, milhares
de jovens a sair, melhor dizendo, a fugir do país que não tem um futuro para
lhes oferecer.
País de emigrantes, dizem… e, no
entanto, foi muito reconfortante receber, durante alguns anos, muitas centenas
de milhar de pessoas de outros países que nos procuraram para aqui ganharem a vida. É certo que foi sol de pouca
dura, mas enquanto durou constituiu uma experiência inédita, reconfortante para
o nosso ego.
Foi um momento eufórico da nossa vida
colectiva: a Expo 98, o Prémio Nobel do Saramago… mas que iremos agora pagar
com juros e que juros… Os mais atentos perceberam que seria transitório,
passageiro, como a chuva num dia de verão… mal deu para apagar o pó do chão da
história.
Agora, somos um país onde tudo se vende
e nada se compra, de auto-estradas vazias e estradas antigas congestionadas de
carros para fugirem às portagens, de pessoas tristes e olhar medroso,
inexpressivo, de revolta contida, deambulando nas manifestações de protesto
político… sem esperança.
Um país, onde o partido principal do
governo, depois de fustigar durante quase dois anos o povo com a mais drástica
austeridade de que há memória nos tempos recentes, tem apenas três pontos a
menos que o seu rival da oposição, o Partido Socialista, na sondagem de há dois
dias atrás o que diz bem do estado de espírito dos portugueses… “tanto fazem
uns como os outros”.
Que maior prova poderia existir da falta
de esperança e confiança nos políticos?
Os cidadãos já perceberam que a situação
é tão grave que a solução não se encontra em Portugal mas na Europa, em
Bruxelas, nos credores, em todo o lado menos nas mãos dos políticos portugueses
e, sendo assim, até já nem me admiraria, por ironia, que a actual coligação continuasse no
poder após as próximas eleições…
António José Seguro, líder do Partido
Socialista, sem prestígio nem carisma, sem provas dadas em lado nenhum a não
ser junto dos militantes do seu partido que andou a bajular ao ponto de os tratar
pelo nome… não parece vir a convencer os eleitores e os resultados da sondagem divulgada
anteontem assim o dá a entender.
Por outro lado, grande parte da Despesa
Pública que ajudou ao monstro da Dívida foi da responsabilidade dos socialistas
com o seu líder, José Sócrates, nitidamente “em fuga” para Paris logo após
passar a pasta a Passos Coelho que, naturalmente, o derrotou nas eleições mas,
como sempre aconteceu, com falsas promessas.
Estamos escravos… escravos da dívida por
causa dos juros de mais de sete mil milhões que temos de pagar por ela em cada
ano.
Se conseguirmos amealhar esta
importância, com muitos sacrifícios da população, é para os nossos credores que
essa poupança vai…
À custa da diminuição do consumo a nossa
balança comercial, a diferença entre o que compramos e vendemos, está
praticamente equi librada mas com os
credores sentados à mesa do nosso orçamento pouco ganhamos com isso para além
de uma medalha de bons pagadores… e falta de dinamismo da sociedade.
Aumentar a produção do país? – Mas como?
– Onde está o dinheiro para investir? – Onde está o mercado para vender numa
Europa em recessão e num mundo disputado ao milímetro?
Estão a ver a alhada em que estamos
metidos?
Não invejo os actuais governantes. Hoje,
governar Portugal, é um exercício de masoqui smo
com todos a bater forte e feio.
Percebemos já, depois desta sétima
avaliação da troika, que terminou na 6ª Feira, o ar desolado e o aspecto
disfarçadamente compungido de muitos deles, ultrapassados pelos maus
resultados, falhados os compromissos, as metas, as previsões e o desânimo dos
comentadores…
O país surpreendeu-os pela negativa, não
reage, esmorece, acabrunha, foge dos exemplos teóricos estudados nos livros,
nem parece o país celebrado por Camões.
Eles estudaram fora e não perceberam que a
nossa tradição é de aventura, do comércio, de trocar alhos aqui por bugalhos acolá, mas não a de trabalhar
certinhos, organizados, a pensar no futuro…
Além disso, o mundo, que é como quem
diz, a Europa não gosta de nós… Têm inveja das nossas praias, do nosso sol
esplendoroso, do azul do nosso céu, do clima ameno, da qualidade do peixe das
nossas águas, do sabor das nossas comidas e não compreendem, lá no íntimo, como
é que o Cristiano Ronaldo, com todo o seu grau de profissionalismo, não é, pelo
menos, sueco ou austríaco, para já não dizer alemão.
Queridos concidadãos que eventualmente
leiam o Memórias Futuras na América do Norte, na do Sul ou na Europa, nós por
cá estamos e vamos continuar a empobrecer. Não vejo como nos tempos mais
próximos poderá ser de outra forma, eu, e toda a gente, incluindo o próprio
governo que é insuspeito…
Um dia, renasceremos das cinzas como
Fénix, aquele pássaro da mitologia grega que quando morria, entrava em
combustão e, passado algum tempo, renascia das próprias cinzas.
Afonso Henriques, “inventou” Portugal em
1139 e sempre nos conhecemos com os defeitos que temos. Um dia, iremos aprender
com eles e então seremos felizes....
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