domingo, março 17, 2013


Hoje é Domingo
(Da minha cidade de Santarém)

Algumas das pessoas que visitam o Memórias Futuras são compatriotas meus que vivem espalhados pela Europa e pelas Américas e muitos enviam para Portugal parte das suas economias, as chamadas Remessas dos Emigrantes. Pois fiquem a saber que em 2012 elas valeram ao país dois mil e setecentos milhões de euros… e estão a aumentar.

Em termos de Contabilidade Pública aparecem numa Conta chamada de Invisíveis Correntes e é curioso, irónica, mesmo, esta denominação porque a entrada deste dinheiro não está relacionada com a saída de mercadorias ou de serviços mas sim, de pessoas, concidadãos, que foram “corridos” pelo seu país e se “vingam” ajudando-o pela vida fora a endireitar as Contas Públicas. Foi assim, no tempo de Salazar e é-o agora.

Portugal é mais um mau padrasto, “explorador”, do que um pai para os seus filhos e, no entanto, gostam dele, do local onde nasceram, da escola onde aprenderam a ler, dos caminhos que percorriam em jovens, dos familiares que por cá deixaram ou que, entretanto, foram nascendo e, em contraste, não morrem de amores pelos governantes que, justa ou injustamente. consideram os responsáveis.

Acompanham, através das notícias, o que por cá se vai passando, vibram com a selecção nacional de futebol e os seus ídolos, comovem-se quando ela ganha e choram quando ouvem o hino nacional.

Leio com tristeza os números assustadores do desemprego actual e penso como é penoso, depois das fronteiras passadas a salto com uma trouxa na mão, para a França, dos portugueses da minha geração, nos anos sessenta, ver novamente, como quem cumpre uma sina, milhares de jovens a sair, melhor dizendo, a fugir do país que não tem um futuro para lhes oferecer.

País de emigrantes, dizem… e, no entanto, foi muito reconfortante receber, durante alguns anos, muitas centenas de milhar de pessoas de outros países que nos procuraram para aqui ganharem a vida. É certo que foi sol de pouca dura, mas enquanto durou constituiu uma experiência inédita, reconfortante para o nosso ego.

Foi um momento eufórico da nossa vida colectiva: a Expo 98, o Prémio Nobel do Saramago… mas que iremos agora pagar com juros e que juros… Os mais atentos perceberam que seria transitório, passageiro, como a chuva num dia de verão… mal deu para apagar o pó do chão da história.

Agora, somos um país onde tudo se vende e nada se compra, de auto-estradas vazias e estradas antigas congestionadas de carros para fugirem às portagens, de pessoas tristes e olhar medroso, inexpressivo, de revolta contida, deambulando nas manifestações de protesto político… sem esperança.

Um país, onde o partido principal do governo, depois de fustigar durante quase dois anos o povo com a mais drástica austeridade de que há memória nos tempos recentes, tem apenas três pontos a menos que o seu rival da oposição, o Partido Socialista, na sondagem de há dois dias atrás o que diz bem do estado de espírito dos portugueses… “tanto fazem uns como os outros”.

Que maior prova poderia existir da falta de esperança e confiança nos políticos?

Os cidadãos já perceberam que a situação é tão grave que a solução não se encontra em Portugal mas na Europa, em Bruxelas, nos credores, em todo o lado menos nas mãos dos políticos portugueses e, sendo assim, até já nem me admiraria, por ironia, que a actual coligação continuasse no poder após as próximas eleições…

António José Seguro, líder do Partido Socialista, sem prestígio nem carisma, sem provas dadas em lado nenhum a não ser junto dos militantes do seu partido que andou a bajular ao ponto de os tratar pelo nome… não parece vir a convencer os eleitores e os resultados da sondagem divulgada anteontem assim o dá a entender.

Por outro lado, grande parte da Despesa Pública que ajudou ao monstro da Dívida foi da responsabilidade dos socialistas com o seu líder, José Sócrates, nitidamente “em fuga” para Paris logo após passar a pasta a Passos Coelho que, naturalmente, o derrotou nas eleições mas, como sempre aconteceu, com falsas promessas.

Estamos escravos… escravos da dívida por causa dos juros de mais de sete mil milhões que temos de pagar por ela em cada ano.

Se conseguirmos amealhar esta importância, com muitos sacrifícios da população, é para os nossos credores que essa poupança vai…

À custa da diminuição do consumo a nossa balança comercial, a diferença entre o que compramos e vendemos, está praticamente equilibrada mas com os credores sentados à mesa do nosso orçamento pouco ganhamos com isso para além de uma medalha de bons pagadores… e falta de dinamismo da sociedade.

Aumentar a produção do país? – Mas como? – Onde está o dinheiro para investir? – Onde está o mercado para vender numa Europa em recessão e num mundo disputado ao milímetro?

Estão a ver a alhada em que estamos metidos?

Não invejo os actuais governantes. Hoje, governar Portugal, é um exercício de masoquismo com todos a bater forte e feio.

Percebemos já, depois desta sétima avaliação da troika, que terminou na 6ª Feira, o ar desolado e o aspecto disfarçadamente compungido de muitos deles, ultrapassados pelos maus resultados, falhados os compromissos, as metas, as previsões e o desânimo dos comentadores…

O país surpreendeu-os pela negativa, não reage, esmorece, acabrunha, foge dos exemplos teóricos estudados nos livros, nem parece o país celebrado por Camões.

 Eles estudaram fora e não perceberam que a nossa tradição é de aventura, do comércio, de trocar alhos aqui por bugalhos acolá, mas não a de trabalhar certinhos, organizados, a pensar no futuro…

Além disso, o mundo, que é como quem diz, a Europa não gosta de nós… Têm inveja das nossas praias, do nosso sol esplendoroso, do azul do nosso céu, do clima ameno, da qualidade do peixe das nossas águas, do sabor das nossas comidas e não compreendem, lá no íntimo, como é que o Cristiano Ronaldo, com todo o seu grau de profissionalismo, não é, pelo menos, sueco ou austríaco, para já não dizer alemão.

Queridos concidadãos que eventualmente leiam o Memórias Futuras na América do Norte, na do Sul ou na Europa, nós por cá estamos e vamos continuar a empobrecer. Não vejo como nos tempos mais próximos poderá ser de outra forma, eu, e toda a gente, incluindo o próprio governo que é insuspeito…

Um dia, renasceremos das cinzas como Fénix, aquele pássaro da mitologia grega que quando morria, entrava em combustão e, passado algum tempo, renascia das próprias cinzas.

Afonso Henriques, “inventou” Portugal em 1139 e sempre nos conhecemos com os defeitos que temos. Um dia, iremos aprender com eles e então seremos felizes....

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