sábado, março 16, 2013


O PAÍS
DO
CARNAVAL

Episódio Nº 48


 - Não é isso. O senhor não conhece as virtudes do povo brasileiro. O nosso povo só aplaude os que estão na oposição. Nunca apoiou, por melhor que ele fosse, um governo.

 - Virtude, não é? Um povo carnavalesco…

 - Sabe, Dr. Rigger, quem parte hoje para o exílio?

 - Não.

 - Aquele ex-deputado baiano que eu lhe apresentei. O Dr. António Ramos.

 - Ah, sim! O burríssimo…

 - Sim, aquele mesmo… Mas tem uma mulher, o peste!

 - Ela vai para a Europa também, com certeza…

 - Não, ela fica.

 - Mas parece-me que ela adorava Paris. Porque não aproveita a ocasião?

 - Porque o Rio de Janeiro, sem o marido, é um paraíso… melhor do que Paris.

O ónibus de José Augusto vinha lá em baixo. Combinaram-se encontrar à noite. E o diplomata entrou no ónibus, a cumprimentar um e outro, mansamente, com a calma de quem fez a hipocrisia a profissão.

No hotel, Paulo Rigger encontrou duas cartas. Uma de sua mãe. Recebera o telegrama que lhe passara dizendo da viagem e reclamava cartas. A outra assinava-a Ricardo Braz. Pedido de conselhos.

O político da sua terra, agora no poder com a vitória da revolução, oferecera-lhe uma promotoria numa cidade do interior do Piauí. Ordenado regular. Mas a vida lá baratíssima. Viveria perfeitamente com a mulher. (Sim, porque só aceitaria esse emprego para casar.) E, mesmo, poderia fazer nome como advogado, a promotoria não impedia de advogar no cível, e ganhar dinheiro.

Com Ruth, a Felicidade enfim. Que achava Rigger? Só José Lopes e Ticiano não queriam que ele casasse. “Que seria infeliz… que seria infeliz.”

Depois um Post scriptum: “Venha embora, Paulo. As coisas aqui estão cada vez piores. Inevitável um rompimento entre Ticiano e o gomes. José Lopes já desistiu de evitar. Só mesmo você…”

E Paulo Rigger respondeu à carta:

…………………………. e, se acha que isso trará a Felicidade à sua vida, não vacile: case-se. Eu não lhe aconselho o casamento como meio de resolver o problema da vida. Não o tentei. Sinto, no entanto, se o tentasse seria infeliz. Tão infeliz como o sou hoje. O meu génio… os meus ciúmes… A vida passaria a ser um inferno. Para mim e para Ela. Mas se você tem a certeza que encontrará no amor, no casamento, a finalidade da sua vida, não ouça conselhos, não dê ouvidos a ninguém. Case-se e vá viver. E se for infeliz? Uma bala resolve tudo. Resolve todos os problemas da vida.

José Lopes, quando você lhe mostrar esta carta, dirá que eu lhe ensino um remédio que não quis tomar. Ticiano sorrirá afirmando que eu estou vagamente imbecil.

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