DO
CARNAVAL
Episódio Nº 48
- Não é isso. O senhor não conhece as virtudes
do povo brasileiro. O nosso povo só aplaude os que estão na oposição. Nunca
apoiou, por melhor que ele fosse, um governo.
- Virtude, não é? Um povo carnavalesco…
- Sabe, Dr. Rigger, quem parte hoje para o
exílio?
- Não.
- Aquele ex-deputado baiano que eu lhe
apresentei. O Dr. António Ramos.
- Ah, sim! O burríssimo…
- Sim, aquele mesmo… Mas tem uma mulher, o
peste!
- Ela vai para a Europa também, com certeza…
- Não, ela fica.
- Mas parece-me que ela adorava Paris. Porque
não aproveita a ocasião?
- Porque o Rio de Janeiro, sem o marido, é um
paraíso… melhor do que Paris.
O ónibus de José Augusto
vinha lá em
baixo. Combinaram-se encontrar à noite. E o diplomata entrou
no ónibus, a cumprimentar um e outro, mansamente, com a calma de quem fez a
hipocrisia a profissão.
No hotel, Paulo Rigger
encontrou duas cartas. Uma de sua mãe. Recebera o telegrama que lhe passara
dizendo da viagem e reclamava cartas. A outra assinava-a Ricardo Braz. Pedido
de conselhos.
O político da sua terra,
agora no poder com a vitória da revolução, oferecera-lhe uma promotoria numa
cidade do interior do Piauí. Ordenado regular. Mas a vida lá baratíssima.
Viveria perfeitamente com a mulher. (Sim, porque só aceitaria esse emprego para
casar.) E, mesmo, poderia fazer nome como advogado, a promotoria não impedia de
advogar no cível, e ganhar dinheiro.
Com Ruth, a Felicidade
enfim. Que achava Rigger? Só José Lopes e Ticiano não queriam que ele casasse.
“Que seria infeliz… que seria infeliz.”
Depois um Post scriptum:
“Venha embora, Paulo. As coisas aqui
estão cada vez piores. Inevitável um rompimento entre Ticiano e o gomes. José
Lopes já desistiu de evitar. Só mesmo você…”
E Paulo Rigger respondeu à
carta:
…………………………. e, se acha que
isso trará a Felicidade à sua vida, não vacile: case-se. Eu não lhe aconselho o
casamento como meio de resolver o problema da vida. Não o tentei. Sinto, no
entanto, se o tentasse seria infeliz. Tão infeliz como o sou hoje. O meu génio…
os meus ciúmes… A vida passaria a ser um inferno. Para mim e para Ela. Mas se
você tem a certeza que encontrará no amor, no casamento, a finalidade da sua
vida, não ouça conselhos, não dê ouvidos a ninguém. Case-se e vá viver. E se
for infeliz? Uma bala resolve tudo. Resolve todos os problemas da vida.
José Lopes, quando você
lhe mostrar esta carta, dirá que eu lhe ensino um remédio que não qui s tomar. Ticiano sorrirá afirmando que eu estou
vagamente imbecil.
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