Baiana do Acarajé |
O PAÍS
DO
CARNAVAL
Episódio Nº 54
Não acredito. Pedro não é
feliz. Garanto que ele sofre uma tragédia intensa. Muito orgulhoso, não conta
nem com os amigos.
- Acho que não. Pedro colocou-se acima de
tudo. Acima da própria vida. É superior. Não sente as alegrias e as dores
quotidianas.
- O homem que não sentisse as alegrias e as
dores quotidianas seria o homem sereno. Mas esse homem ideal não existe.
Ticiano sente também… Principalmente as dores…
- E a felicidade o que é?
- Talvez seja o encontrar uma consolação na
vida…
- Como?
- Um sistema filosófico, uma religião…
- Pode ser. A mim só falta tentar a religião.
- Você fracassará na religião também…
- Por quê?
- Porque a religião só satisfaz quando
chegamos a ela pela filosofia. A não ser assim…
- A não ser assim…
- … pode sentir-se a beleza da religião,
a poesia, mas a gente se saciará como se sacia de uma mulher…
Não conhece as bases, os porquês…
- Entretanto, o povo, os homens ignorantes,
que nem sabem o que seja a filosofia, sentem-se felizes na religião.
- Os ignorantes, sim. Mas você é um homem
superior.
- Que desgraça se ter um pouco de
inteligência! Eu daria toda a minha fortuna em troca da ignorância de um pobre
diabo desses.
- Velha aspiração, meu amigo, de todo o homem
inteligente.
Pediram outro vermute.
José Lopes continuou:
- Eu tenho um romance pronto sobre esse
assunto, Paulo…
- Tem? Quando sai?
- Mas não posso publicá-lo. Cadê dinheiro?
- Eu financio a edição… Mas vamos tratar logo
disso.
Paulo Rigger pagou a
despesa. José Lopes, metido numa roupa surrada, muito magro, era a imagem da
vida de todos eles.
- José Lopes, por que você não vai morar em
minha casa? Eu vou mandar preparar um quarto para você…
- Não Rigger. Deixe-se de trabalhos…
- Vou mandar. E amanhã você se muda.
- Não, senhor. Eu não sei viver em casa de
família. Não vou, decididamente.
- Você…
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