sábado, abril 06, 2013

BAHIA

O PAÍS
DO
CARNAVAL

 Episódio Nº 66

 - Paradoxo, agora?

 - Em homenagem a Ticiano.

 - Ah!

O relógio deu horas. E Ticiano reclamou o remédio:

 - Eu, que nunca obedeci a ninguém, sou obrigado, no fim da vida, a obedecer a um relógio…


 - Quero apresentá-lo ao meu amor.

 - Sim, Jerónimo. Você deve libertar-se de Ticiano. Ele lhe estima. Pensou fazer aquilo tudo em seu benefício. Como se enganou…Você deve aspirar à Felicidade acima de tudo,

Ticiano como adora a insatisfação e a dor, pensou fazer de você um novo Ele. Você seria eternamente infeliz. Ticiano é um tipo de excepção. Veio de outra época. Ele não sente a necessidade que sentimos nós outros, homens de hoje, de procurar a Felicidade, o fim da existência. Ele vive porque nasceu. Não quer realizar, não quer vencer.

- Pode-se até dizer, não quis…

 - É verdade. Está à morte, Grande Ticiano… Homens como ele vivem poucos em cada século… E morrem na miséria.

 - Nasceu no Brasil…

 - Neste País do Carnaval só as máscaras comuns sobem… Ele foi muito superior a nós todos. Conseguiu vencer a insatisfação. Não precisou de solucionar o problema da sua existência. Colocou-se sobre a vida. Espectador…

- Mas nós…

- Nós temos que viver. E procurar não fracassar. Tentar a Felicidade. Para não ficar vivendo a miséria minha e de José Lopes… Você precisa, deve, tem obrigação de ser feliz…

 - Eu o serei, Paulo.

XIV

Tomou o automóvel às pressas. Aquele telefonema tirara-lhe a calma. Pedro Ticiano estava à morte. Vivia os últimos instantes de uma existência agitadíssima.

O filho acabara de chamar Paulo Rigger pelo telefone. O relógio grande, dependurado na parede, gritou com voz rouca as onze horas da noite.

Paulo Rigger desceu para acordar o chofer. Empurrou a porta do quarto. Na cama de solteiro, apertadinhos, o chofer e a copeira dormiam o sono inocente dos que têm os instintos satisfeitos.

Despertou-os. Confusão de desculpas. A criada a tapar o rosto, envergonhada, em vez de tapar as outras partes que exibia, opulentas.

 - Vamos, Augusto. Isso não tem importância. Podem dormir juntos quando quiserem. Não me interessa. Preciso é sair agora mesmo. Tire logo o carro…

Chovia muito. Quis fazer uma frase e disse uma tolice:

 - Parece que o céu chora o desaparecimento de Ticiano. A Bahia e os maus escritores do Brasil é que gozarão. São capazes de dar um baile

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