Bahianas no Pelourinho |
O PAÍS
DO
CARNAVAL
Episódio Nº 80
Geração traço de união.
Geração do sofrimento. Estou perdido na noite da dúvida. Desapareço cada vez
mais. Braços invisíveis me apertam. Eu, afinal, tenho necessidade de qualquer
coisa…
- Eu compreendo perfeitamente…
- E sinto que essa serenidade de Pedro Ticiano
e sua não me basta. Talvez só os meus netos resolvam o problema. Toda a geração
que inicia uma luta é uma geração que vai sofrer. Nós iniciamos a luta contra a
dúvida…
O rádio berrava os
milagres de uma Santa que aparecera numa cidade do interior de Minas Gerais.
- Esse povo místico nunca aceitará o seu
sistema político.
- Esse misticismo ajuda.
- Nós, brasileiros de hoje, sentimos milhões
de taras dentro de nós. Nós sofremos por nossos avós e por nossos netos…
- A solução…
- Um suicídio geral…
Paulo Rigger calou-se,
extenuado. Da sua testa larga escorria, frio, o suor. José Lopes, triste,
perdia o olhar no fundo do bar.
- Esta vida…
Abraçou Paulo Rigger. Ia a
casa de um camarada, um sapateiro. E segredou no ouvido do amigo.
- A gente deve arranjar um
princípio, um ideal, para iludir-se, pelo menos. Eu me iludo com esse negócio
do comunismo. Por isso fujo de você. Você me mostra a realidade e me carrega de
tristeza. Eu agora estou até tratando da tuberculose que me qui s pegar… Você vê…Estou ficando calmo… Talvez
fique até burro…
Paulo Rigger acompanhou-o
com o olhar até ao fim da rua. Murmurou como um actor trágico:
- Infeliz…
Bebeu o conhaque.
- Infeliz…
Resolveu voltar para a
Europa. Quando aportara ao Brasil, elegante, céptico, demolidor, carregado de
sonhos, pensara em realizar grandes coisas. Seria escritor conhecido, político
eminente.
Fracassara… Estava apenas
um insatisfeito, infeliz, depois de ter sofrido uma tragédia amorosa e haver
tentado suicidar-se. Voltaria a Paris para esquecer. Quem sabe se ficaria de
novo calmo? Vivia num nervosismo intenso, ultimamente. Tratar-se – ia na
Europa.
Leria muito, talvez
filosofia…
- Bolas…
A sua mãe opôs-se. Tinha
chegado outro dia… Ele conciliou tudo. Ela iria também conhecer o velho mundo.
Passou a manhã a descrever-lhe maravilhas. Ela convenceu-se.
Combinaram que ele iria ao
Rio comprar o necessário e, na passagem do navio pela Bahia, ela embarcaria.
Paulo Rigger, no Rio, sentiu-se mais aliviado. Não se recordava tanto,
na intensidade de vida daquela cidade formidável, da sua tragédia amorosa.
Maria de Lourdes voltava a dormir em seu cérebro. Apenas a dúvida de tudo, a
insatisfação de sempre, a de querer um bem desconhecido.
<< Home