terça-feira, abril 23, 2013

Bahianas no  Pelourinho

O PAÍS
DO
CARNAVAL

Episódio Nº 80

Geração traço de união. Geração do sofrimento. Estou perdido na noite da dúvida. Desapareço cada vez mais. Braços invisíveis me apertam. Eu, afinal, tenho necessidade de qualquer coisa…

 - Eu compreendo perfeitamente…

 - E sinto que essa serenidade de Pedro Ticiano e sua não me basta. Talvez só os meus netos resolvam o problema. Toda a geração que inicia uma luta é uma geração que vai sofrer. Nós iniciamos a luta contra a dúvida…

O rádio berrava os milagres de uma Santa que aparecera numa cidade do interior de Minas Gerais.

 - Esse povo místico nunca aceitará o seu sistema político.

 - Esse misticismo ajuda.

 - Nós, brasileiros de hoje, sentimos milhões de taras dentro de nós. Nós sofremos por nossos avós e por nossos netos…

 - A solução…

 - Um suicídio geral…

Paulo Rigger calou-se, extenuado. Da sua testa larga escorria, frio, o suor. José Lopes, triste, perdia o olhar no fundo do bar.

 - Esta vida…

Abraçou Paulo Rigger. Ia a casa de um camarada, um sapateiro. E segredou no ouvido do amigo.

- A gente deve arranjar um princípio, um ideal, para iludir-se, pelo menos. Eu me iludo com esse negócio do comunismo. Por isso fujo de você. Você me mostra a realidade e me carrega de tristeza. Eu agora estou até tratando da tuberculose que me quis pegar… Você vê…Estou ficando calmo… Talvez fique até burro…

Paulo Rigger acompanhou-o com o olhar até ao fim da rua. Murmurou como um actor trágico:

 - Infeliz…

Bebeu o conhaque.

 - Infeliz…


Resolveu voltar para a Europa. Quando aportara ao Brasil, elegante, céptico, demolidor, carregado de sonhos, pensara em realizar grandes coisas. Seria escritor conhecido, político eminente.

Fracassara… Estava apenas um insatisfeito, infeliz, depois de ter sofrido uma tragédia amorosa e haver tentado suicidar-se. Voltaria a Paris para esquecer. Quem sabe se ficaria de novo calmo? Vivia num nervosismo intenso, ultimamente. Tratar-se – ia na Europa.

Leria muito, talvez filosofia…

 - Bolas…

A sua mãe opôs-se. Tinha chegado outro dia… Ele conciliou tudo. Ela iria também conhecer o velho mundo. Passou a manhã a descrever-lhe maravilhas. Ela convenceu-se.

Combinaram que ele iria ao Rio comprar o necessário e, na passagem do navio pela Bahia, ela embarcaria.

Paulo Rigger, no Rio, sentiu-se mais aliviado. Não se recordava tanto, na intensidade de vida daquela cidade formidável, da sua tragédia amorosa. Maria de Lourdes voltava a dormir em seu cérebro. Apenas a dúvida de tudo, a insatisfação de sempre, a de querer um bem desconhecido.

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