domingo, abril 14, 2013


HOJE É DOMINGO
(Da minha cidade de Santarém)


Ouvia e nem queria acreditar. Um dos mais conceituados e antigos comentadores políticos, Dr. Pacheco Pereira, oriundo da área da direita, acusava na TV o 1º Ministro e o Ministro das Finanças de traição ao país pela destruição do estado social, grande conquista do pós-guerra nos países europeus e entrega de Portugal às forças liberais capitalistas.

“Não, não se trata de incompetência, é isso mesmo que eles pretendem… São ambos perigosos representantes da troika em Portugal e o ministro Gaspar, uma espécie de guarda avançada do ministro alemão das Finanças, destacado para operar directamente no país.”

Terrível Teoria da Conspiração…

Depois daquele último fim-de-semana incrível, alucinante, com um discurso à nação em que o Chefe do governo não escondeu a sua irritação contra o Tribunal Constitucional, numa falta clara de maturidade política, seguida de uma rápida deslocação ao Presidente da República para procurar apoio, os portugueses perguntaram-se:

 - Mas que fizemos nós de mal para sermos agora tratados com ameaças veladas por este senhor?

 - Se os Juízes o mandaram pagar o subsídio de férias aos funcionários públicos e aos reformados provocando-lhe um rombo de 1.300 milhões no Orçamento, que culpa temos nós?

Era já só o que nos faltava… Instituições contra Instituições, ódios, zangas e invejas e os portugueses na berlinda…

Contra mim falo, quem não gosta de receber subsídio de férias? Mas entendo que era um sacrifício suportável… não suportável era não me pagarem a pensão.

Será que o Tribunal Constitucional proíbe os despedimentos, os salários em atraso, o não pagamento de horas extraordinárias e por aí fora…?

O país não tem dinheiro? – “Isso não é um problema nosso”… responde o Presidente do Tribunal e eu pergunto: em que país é que ele vive…?”

Claro que este problema mergulha numa Constituição que tem 294 Artigos mais os nºs e as alíneas, a 2ª maior do mundo, que é “filha” de uma Revolução que teve na sua origem um regime de ditadura de quase 50 anos e, mais uma vez, lá vamos encontrar o Salazar porque a vida de um país é uma história que se liga e tudo acontece em linha com um passado.

É evidente que o país tem, em ruptura com o passado recente, de aproximar progressivamente as Despesas das Receitas para poder ser sustentável e isso implica sacrifícios, ainda por cima numa época de recessão económica europeia.

 O problema é, portanto, a repartição desses sacrifícios, as opções a fazer nos cortes da despesa, os exemplos e explicações a dar aos cidadãos, quando é legal fugir com o dinheiro para o estrangeiro privando o Estado de impostos e os Bancos de poupanças…

A Drª Manuela Ferreira Leite, antiga ministra das Finanças, derrotada no partido pelo actual 1º Ministro, pensou, talvez cândida e cinicamente, e disse-o em entrevista na TV, que o Chefe do Governo, tirando partido do prestígio das decisões dos Tribunais Constitucionais em todos os países da Europa, nomeadamente na Alemanha, deveria ter ido junto da troika dizer:

 - “Como vêm, meus senhores, nós bem tentámos mas o Tribunal não deixou… Têm que nos ajudar a rever estes nossos compromissos até por que, pior que tudo, vejam o resultado destas medidas na economia de onde vem o dinheiro para vos pagar…”

A Drª F. Leite é insuspeita partidariamente e especialista com experiência feita na função de gerir as finanças do país e arrasou a política do seu parceiro de partido explicando que, no seu tempo, equilibrou o Orçamento com recurso a Receitas Extraordinárias para não prejudicar a economia…

Pois é Drª, mas agora as coisas estão piores, já não há mais receitas extraordinárias e, se as houvesse, como foi o caso da venda da ANA, a Troika não aceita que se equilibre orçamentos dessa forma…

Depois, tivemos (ou não) a remodelação ministerial, que me faz lembrar as mudanças de treinador nas equipas de futebol, as chamadas chicotadas psicológicas. Sejam elas quais forem, como diz a oposição, “a política é a mesma…”.

Entraram dois homens para o lugar de Miguel Relvas, - o tal que quis ser Dr. sem estudar - o que diz tudo sobre a força dos homens do partido…

Um deles, figura já conhecida e respeitada, Marques Guedes e o outro, jovem de 46 anos, tem um currículo notável. Vivia em Florença, onde fica o Instituto Universitário Europeu, instituição académica financiada pela EU e onde participa num estudo sobre a governação europeia do futuro.

Participa, igualmente de forma activa, nos debates sobre a actualidade política e defende “formas de governo comuns e de solidariedade financeira entre os Estados que sejam aceitáveis para os seus próprios povos”.

É um especialista em Direito Comunitário. Foi consultor internacional e ajudou a Islândia a resolver a crise bancária. Nos EUA faz o mesmo, dando aulas em Yale.

Portugal não tem solução sem a solidariedade da Comunidade Europeia de que faz parte e o contributo destes portugueses, e de outras nacionalidades, a pensar a Europa no coração da própria Europa, é fundamental. Lembro aqui também Maria João Rodrigues, do PS, igualmente especialista destas matérias e outros, naturalmente.

A Europa está em construção, é um processo dinâmico e não vale a pena pensar que virá um político, líder de qualidades excepcionais, que vai liderar essa construção e fazer o milagre… Ela faz-se no dia a dia, nesta espécie de corda bamba do cai não cai, vai não vai…

A solução de Portugal está numa Europa política e económica, regulada e pensada a favor de uma União e as coisas não estão a ser fáceis mas tudo o que não for agora essa tentativa é pura aventura… mais para nós mas não só.

Nesta fase, não é Passos Coelho o homem indicado para governar o barco… mas é o que lá está e pelos votos dos portugueses. Mudar, agora, para quê e com que custos?

 As sondagens dizem-nos como tudo está dividido e o Tó Zé do PS não mobiliza ninguém para além dos indefectíveis… Sem maioria absoluta tudo ficaria dependente de arranjos partidários.

Miguel Poiares Maduro, assim se chama o novo Ministro do Desenvolvimento Regional, tem tudo para ser uma boa ajuda para o país, inteligência, sabedoria e ainda outra coisa, é do Sporting…

Vamos ver como ele se aguenta no balanço das águas agitadas da política nacional em que nunca viveu.

É verdade, conseguimos mais 7 anos para pagar a dívida do empréstimo contraído o que significa que a factura dos juros anuais que era de 5.500 milhões passou para 4.300…

E assim vai o meu país. Para a semana logo veremos... 

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