(Da minha cidade de Santarém)
Ouvia e nem queria acreditar. Um dos
mais conceituados e antigos comentadores políticos, Dr. Pacheco
Pereira, oriundo da área da direita, acusava na TV o 1º Ministro e o Ministro
das Finanças de traição ao país pela destruição do estado social, grande conqui sta do pós-guerra nos países europeus e entrega de Portugal às forças liberais capitalistas.
“Não, não se trata de incompetência, é
isso mesmo que eles pretendem… São ambos perigosos representantes da troika em
Portugal e o ministro Gaspar, uma espécie de guarda avançada do ministro alemão
das Finanças, destacado para operar directamente no país.”
Terrível Teoria da Conspiração…
Depois daquele último fim-de-semana
incrível, alucinante, com um discurso à nação em que o Chefe do governo não
escondeu a sua irritação contra o Tribunal Constitucional, numa falta clara de
maturidade política, seguida de uma rápida deslocação ao Presidente da
República para procurar apoio, os portugueses perguntaram-se:
-
Mas que fizemos nós de mal para sermos agora tratados com ameaças veladas por
este senhor?
-
Se os Juízes o mandaram pagar o subsídio de férias aos funcionários públicos e
aos reformados provocando-lhe um rombo de 1.300 milhões no Orçamento, que culpa
temos nós?
Era já só o que nos faltava…
Instituições contra Instituições, ódios, zangas e invejas e os portugueses na
berlinda…
Contra mim falo, quem não gosta de
receber subsídio de férias? Mas entendo que era um sacrifício suportável… não
suportável era não me pagarem a pensão.
Será que o Tribunal Constitucional
proíbe os despedimentos, os salários em atraso, o não pagamento de horas
extraordinárias e por aí fora…?
O país não tem dinheiro? – “Isso não é
um problema nosso”… responde o Presidente do Tribunal e eu pergunto: em que
país é que ele vive…?”
Claro que este problema mergulha numa
Constituição que tem 294 Artigos mais os nºs e as alíneas, a 2ª maior do mundo,
que é “filha” de uma Revolução que teve na sua origem um regime de ditadura de
quase 50 anos e, mais uma vez, lá vamos encontrar o Salazar porque a vida de um
país é uma história que se liga e tudo acontece em linha com um passado.
É evidente que o país tem, em ruptura
com o passado recente, de aproximar progressivamente as Despesas das Receitas
para poder ser sustentável e isso implica sacrifícios, ainda por cima numa
época de recessão económica europeia.
O
problema é, portanto, a repartição desses sacrifícios, as opções a fazer nos
cortes da despesa, os exemplos e explicações a dar aos cidadãos, quando é legal
fugir com o dinheiro para o estrangeiro privando o Estado de impostos e os Bancos
de poupanças…
A Drª Manuela Ferreira Leite, antiga
ministra das Finanças, derrotada no partido pelo actual 1º Ministro, pensou,
talvez cândida e cinicamente, e disse-o em entrevista na TV, que o Chefe do
Governo, tirando partido do prestígio das decisões dos Tribunais
Constitucionais em todos os países da Europa, nomeadamente na Alemanha, deveria
ter ido junto da troika dizer:
-
“Como vêm, meus senhores, nós bem tentámos mas o Tribunal não deixou… Têm que
nos ajudar a rever estes nossos compromissos até por que, pior que tudo, vejam
o resultado destas medidas na economia de onde vem o dinheiro para vos pagar…”
A Drª F. Leite é insuspeita
partidariamente e especialista com experiência feita na função de gerir as
finanças do país e arrasou a política do seu parceiro de partido explicando
que, no seu tempo, equi librou o
Orçamento com recurso a Receitas Extraordinárias para não prejudicar a economia…
Pois é Drª, mas agora as coisas estão
piores, já não há mais receitas extraordinárias e, se as houvesse, como foi o
caso da venda da ANA, a Troika não aceita que se equi libre
orçamentos dessa forma…
Depois, tivemos (ou não) a remodelação
ministerial, que me faz lembrar as mudanças de treinador nas equi pas de futebol, as chamadas chicotadas
psicológicas. Sejam elas quais forem, como diz a oposição, “a política é a
mesma…”.
Entraram dois homens para o lugar de Miguel
Relvas, - o tal que qui s ser Dr. sem
estudar - o que diz tudo sobre a força dos homens do partido…
Um deles, figura já conhecida e
respeitada, Marques Guedes e o outro, jovem de 46 anos, tem um currículo
notável. Vivia em Florença, onde fica o Instituto Universitário Europeu,
instituição académica financiada pela EU e onde participa num estudo sobre a
governação europeia do futuro.
Participa, igualmente de forma activa,
nos debates sobre a actualidade política e defende “formas de governo comuns e
de solidariedade financeira entre os Estados que sejam aceitáveis para os seus
próprios povos”.
É um especialista em Direito Comunitário.
Foi consultor internacional e ajudou a Islândia a resolver a
crise bancária. Nos EUA faz o mesmo, dando aulas em Yale.
Portugal não tem solução sem a
solidariedade da Comunidade Europeia de que faz parte e o contributo destes
portugueses, e de outras nacionalidades, a pensar a Europa no coração da
própria Europa, é fundamental. Lembro aqui
também Maria João Rodrigues, do PS, igualmente especialista destas matérias e
outros, naturalmente.
A Europa está em construção, é um
processo dinâmico e não vale a pena pensar que virá um político, líder de
qualidades excepcionais, que vai liderar essa construção e fazer o milagre… Ela
faz-se no dia a dia, nesta espécie de corda bamba do cai não cai, vai não vai…
A solução de Portugal está numa Europa
política e económica, regulada e pensada a favor de uma União e as coisas não
estão a ser fáceis mas tudo o que não for agora essa tentativa é pura aventura…
mais para nós mas não só.
Nesta fase, não é Passos Coelho o homem
indicado para governar o barco… mas é o que lá está e pelos votos dos
portugueses. Mudar, agora, para quê e com que custos?
As
sondagens dizem-nos como tudo está dividido e o Tó Zé do PS não mobiliza
ninguém para além dos indefectíveis… Sem maioria absoluta tudo ficaria
dependente de arranjos partidários.
Miguel Poiares Maduro, assim se chama o
novo Ministro do Desenvolvimento Regional, tem tudo para ser uma boa ajuda para
o país, inteligência, sabedoria e ainda outra coisa, é do Sporting…
Vamos ver como ele se aguenta no balanço
das águas agitadas da política nacional em que nunca viveu.
É verdade, conseguimos mais 7 anos para
pagar a dívida do empréstimo contraído o que significa que a factura dos juros
anuais que era de 5.500 milhões passou para 4.300…
E assim vai o meu país. Para a semana
logo veremos...
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