sábado, maio 04, 2013

Derrocada da fábrica

Uma Troca Desigual…

Mais de 500 pessoas ficaram soterradas num edifício onde funcionava uma fábrica têxtil que colapsou, ao que dizem, pelo facto da sua estrutura não suportar a trepidação dos motores instalados.
Até ao momento foram detidas nove pessoas, incluindo o dono do edifício. Isto porque na véspera do acidente tinham sido detectadas graves fendas e um técnico que esteve no local recomendou uma evacuação imediata. Mas os alertas foram ignorados.
No domingo, a polícia tinha conseguido deter o proprietário do edifício e antes tinha prendido três donos das fábricas, bem como os engenheiros municipais.
O empresário espanhol David Mayor, director-geral de uma das fábricas, a “Phantom-Tac”, é procurado e encontra-se em paradeiro desconhecido. Mayor e os proprietários de quatro outras sociedades são alvo de um inquérito preliminar por “homicídio por negligência”, crime passível de ser punido com cinco anos de prisão.
As autoridades declararam que os donos das fábricas ignoraram as fendas e obrigaram os trabalhadores a entrar nas instalações. Este acidente voltou a chamar a atenção para as más condições laborais e de segurança dos trabalhadores de empresas têxteis no Bangladesh, que abastecem multinacionais ocidentais. As companhias internacionais que confirmaram a produção em alguma das empresas afectadas foram a irlandesa “Primark”, a espanhola “El Corte Inglés” e Mango, a canadiana “Joe Fresh” e a francesa “Bon Marché”.
O Bangladesh é o país do mundo com os custos de produção mais baixos na indústria têxtil, o que leva empresas de todo o mundo, incluindo da China, a mudar parte da produção para aquele país, de acordo com a organização não-governamental de defesa dos direitos dos trabalhadores têxtis Clean Clothes Campaign (Campanha Roupas Limpas).
Dados da Federação de Trabalhadores do Sector Têxtil do Bangladesh, citados pela Lusa, indicam que nos últimos 15 anos cerca de 600 pessoas morreram e três mil ficaram feridas em acidentes registados em fábricas têxteis (incêndios ou derrocadas) no país.

O cerne da questão, e os números falam por si, reside na situação de pobreza em que aquelas pessoas vivem obrigadas a escolher entre serem exploradas ou não terem mesmo de comer.
Vejamos:
- O custo de produção de uma T-shirt no Bangladesh é 2,80 euros. Nos E.U.A. a mesma T-shirt tem um custo de 10 euros e esta enorme diferença de preços deve-se, principalmente, aos custos com a mão-de-obra.
 - Um trabalhador daquele país asiático recebe 0,16 euros pela produção de uma destas peças de roupa, ou seja, menos 5,44 euros do que um trabalhador nos E.U.
Algumas das grandes marcas de roupa querem retirar a produção daquele país e eu suspeito que não seja por solidariedade com as vítimas e suas famílias e contra as condições de trabalho, mas apenas por uma satisfação hipócrita aos mercados que podem retaliar diminuindo as compras sob o impacto da tragédia.
Não sei se algo se alterará para melhor nas condições de trabalho daquelas pessoas porque a lógica do princípio do máximo lucro é a regra que prevalece num capitalismo selvagem que despreza os valores humanos e o respeito que eles deveriam merecer.

As autoridades do país são as responsáveis por não legislarem na defesa dos interesses dos trabalhadores, os empresários são cúmplices directos.

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