Episódio Nº 26
Quando Augusta das Rendas
chegou com o negrinho, cansados ambos da caminhada longa do morro do Capa Negro
até à Travessa Zumbi dos Palmares, estavam almoçando na casa do comendador.
A comida de tempero
português cheirava. O comendador Pereira em mangas de camisa, presidia a
familiar festa que era o almoço.
Quando Augusta entrou,
levando pela mão o negrinho, António Balduíno ergueu os olhos e viu logo
Lindinalva.
Na cabeceira da mesa o
comendador era um português de grandes bigodes e grandes garfadas. Ao lado a
esposa, quase tão gorda quanto ele. E Lindinalva numa cadeira à direita da mãe,
magríssima e sardenta, os cabelos vermelhos e a boca pequena, fazia o contraste
mais ridículo do mundo.
Mas António Balduíno que
estava acostumado com as negrinhas sujas do morro, achou Lindinalva parecida
com as figuras das folhinhas que seu Lourenço distribuía entre os fregueses
pelo Natal.
Ela era um pouco mais alta
que o negrinho se bem fosse mais velha três anos. António Balduíno baixou os
olhos e ficou espiando o soalho envernizado, cheio de desenhos complicados.
Dona Maria, a esposa,
convidou:
- Sente, sinhá Augusta.
- Estou bem, dona Maria.
- Já almoçou?
- Inda não…
- Então venha.
- Não, eu depois como na cozinha… - Augusta
sabia o seu lugar e quanto havia de pura gentileza no convite.
Quando o comendador acabou
de mastigar a comida que tinha na boca, arriou o talher em cimo do prato vazio
e gritou para os fundos da casa:
- Traz o doce, Amélia!
Enquanto esperava virou-se
para Augusta:
- Então, Augusta?
- Vim trazer o menino que falei com o senhor…
O comendador, a mulher e a
filha olharam para António Balduíno:
- Ah! é esse…Venha cá Benedito – chamou o
comendador.
António Balduíno se
aproximou medroso, concertando já uma fuga das mãos gordas do homem. Porém o
comendador não lhe queria fazer mal algum. Perguntou:
- Como te chamas?
- Meu nome é António Balduíno…
- É um nome muito grande. De agora em diante
teu nome é Baldo…
- No morro meu apelido era
esse…
Lindinalva ria:
- Baldo parece balde…
Augusta falou para o
comendador:
- Então o senhor fica sempre com ele para
criar?
- Fico, sim.
- É uma caridade tão grande que o senhor faz…
O pobrezinho não tem pai nem mãe… Só tinha um parente que era a tia. Ficou
doida, coitada.
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