segunda-feira, maio 27, 2013

IEMANJÁ
JUBIABÁ

Episódio Nº 26


Quando Augusta das Rendas chegou com o negrinho, cansados ambos da caminhada longa do morro do Capa Negro até à Travessa Zumbi dos Palmares, estavam almoçando na casa do comendador.

A comida de tempero português cheirava. O comendador Pereira em mangas de camisa, presidia a familiar festa que era o almoço.

Quando Augusta entrou, levando pela mão o negrinho, António Balduíno ergueu os olhos e viu logo Lindinalva.

Na cabeceira da mesa o comendador era um português de grandes bigodes e grandes garfadas. Ao lado a esposa, quase tão gorda quanto ele. E Lindinalva numa cadeira à direita da mãe, magríssima e sardenta, os cabelos vermelhos e a boca pequena, fazia o contraste mais ridículo do mundo.

Mas António Balduíno que estava acostumado com as negrinhas sujas do morro, achou Lindinalva parecida com as figuras das folhinhas que seu Lourenço distribuía entre os fregueses pelo Natal.

Ela era um pouco mais alta que o negrinho se bem fosse mais velha três anos. António Balduíno baixou os olhos e ficou espiando o soalho envernizado, cheio de desenhos complicados.

Dona Maria, a esposa, convidou:

 - Sente, sinhá Augusta.

 - Estou bem, dona Maria.

 - Já almoçou?

 - Inda não…

 - Então venha.

 - Não, eu depois como na cozinha… - Augusta sabia o seu lugar e quanto havia de pura gentileza no convite.

Quando o comendador acabou de mastigar a comida que tinha na boca, arriou o talher em cimo do prato vazio e gritou para os fundos da casa:

 - Traz o doce, Amélia!

Enquanto esperava virou-se para Augusta:

 - Então, Augusta?

 - Vim trazer o menino que falei com o senhor…

O comendador, a mulher e a filha olharam para António Balduíno:

 - Ah! é esse…Venha cá Benedito – chamou o comendador.

António Balduíno se aproximou medroso, concertando já uma fuga das mãos gordas do homem. Porém o comendador não lhe queria fazer mal algum. Perguntou:

 - Como te chamas?

 - Meu nome é António Balduíno…

 - É um nome muito grande. De agora em diante teu nome é Baldo…

- No morro meu apelido era esse…

Lindinalva ria:

 - Baldo parece balde…

Augusta falou para o comendador:

 - Então o senhor fica sempre com ele para criar?

 - Fico, sim.

 - É uma caridade tão grande que o senhor faz… O pobrezinho não tem pai nem mãe… Só tinha um parente que era a tia. Ficou doida, coitada.

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