Episódio Nº 13
Um dia um homem chegou de
viajem e se aboletou na casa de dona Daria, uma mulata gorda que diziam estar
enriquecendo às custas dos clientes de Jubiabá.
O homem vinha consultar o
macumbeiro por causa de uma dor antiga e martirizante que tinha na perna
direita. Os médicos já haviam desistido há muito. Falavam nomes complicados e
davam remédios caros. E o homem indo para trás, a perna cada vez pior, ele sem
poder trabalhar de tanta dor.
Então resolveu fazer a
viajem só para vir consultar o pai de santo que curava tudo na sua macumba do
Morro do Capa Negro.
O homem vinha de Ilhéus, a
cidade rica do cacau e quase destrona Zé Camarão e quase destrona Zé Camarão no
lugar de honra que ocupava ante António Balduíno.
É que o homem, tendo-se
curado radicalmente em duas sessões na casa de Jubiabá, veio no Domingo
conversar na porta da velha Luísa.
Todos o tratavam com
grande deferência, pois contavam que ele era homem de dinheiro, homem que
enriquecera no Sul do Estado e dera um conto de réis a Jubiabá. Vestia boa
roupa de caxemira e até uma carta que chegara para sinhá Ricardina levaram para
ele ler.
Porém, ele disse:
- Eu não sei ler, dona…
Era de um irmão dela que
estava morrendo de fome no Amazonas. O homem de Ilhéus deu cem mil réis. Assim
todos ficaram calados quando ele chegou para o grupo que estava na porta de Luísa.
- Se sente à vontade seu Jeremias – Luísa oferecia
uma cadeira com a palhinha furada.
- Obrigado dona.
E como o silêncio
continuasse:
- Estavam conversando de quê?
- Pra falar verdade –
respondeu Luís Sapateiro – a gente estava a falar na fartura que há na sua zona.
No dinheirão que um homem pode ganhar lá…
O homem baixou a cabeça e
só então viram que tinha a carapinha quase branca e grandes rugas no rosto.
Não é tanto assim… Se
trabalha muito e o ganho é pouco…
- Mas o senhor mesmo é homem de muitas posses…
- Nada. Tenho uma rocinha e há trinta anos que
estou naquela zona. Já tomei três tiros. Lá ninguém está livre de uma traição.
- Os homens lá são valentes? – mas ninguém
ouviu António Balduíno.
Pois olhe que havia aqui muito homem que queria ir com o senhor.
- Os homens de lá têm coragem? - António Balduíno
insistiu.
O homem passou a mão na
carapinha do pretinho e falou para os outros:
- Lá é uma terra braba… Terra de tiro e de
morte…
António Balduíno estava
com os olhos fixos no homem, esperando que ele contasse as coisas daquela
terra.
- Lá se mata para fazer aposta… Os homens
apostam como é que um viajante vai cair: se do lado direito, se do lado
canhoto.
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