sábado, maio 11, 2013


JUBIABÁ

Episódio Nº 13


Um dia um homem chegou de viajem e se aboletou na casa de dona Daria, uma mulata gorda que diziam estar enriquecendo às custas dos clientes de Jubiabá.

O homem vinha consultar o macumbeiro por causa de uma dor antiga e martirizante que tinha na perna direita. Os médicos já haviam desistido há muito. Falavam nomes complicados e davam remédios caros. E o homem indo para trás, a perna cada vez pior, ele sem poder trabalhar de tanta dor.

Então resolveu fazer a viajem só para vir consultar o pai de santo que curava tudo na sua macumba do Morro do Capa Negro.

O homem vinha de Ilhéus, a cidade rica do cacau e quase destrona Zé Camarão e quase destrona Zé Camarão no lugar de honra que ocupava ante António Balduíno.

É que o homem, tendo-se curado radicalmente em duas sessões na casa de Jubiabá, veio no Domingo conversar na porta da velha Luísa.

Todos o tratavam com grande deferência, pois contavam que ele era homem de dinheiro, homem que enriquecera no Sul do Estado e dera um conto de réis a Jubiabá. Vestia boa roupa de caxemira e até uma carta que chegara para sinhá Ricardina levaram para ele ler.

Porém, ele disse:

 - Eu não sei ler, dona…

Era de um irmão dela que estava morrendo de fome no Amazonas. O homem de Ilhéus deu cem mil réis. Assim todos ficaram calados quando ele chegou para o grupo que estava na porta de Luísa.

 - Se sente à vontade seu Jeremias – Luísa oferecia uma cadeira com a palhinha furada.

 - Obrigado dona.

E como o silêncio continuasse:

 - Estavam conversando de quê?

- Pra falar verdade – respondeu Luís Sapateiro – a gente estava a falar na fartura que há na sua zona. No dinheirão que um homem pode ganhar lá…

O homem baixou a cabeça e só então viram que tinha a carapinha quase branca e grandes rugas no rosto.

Não é tanto assim… Se trabalha muito e o ganho é pouco…

 - Mas o senhor mesmo é homem de muitas posses…

 - Nada. Tenho uma rocinha e há trinta anos que estou naquela zona. Já tomei três tiros. Lá ninguém está livre de uma traição.

 - Os homens lá são valentes? – mas ninguém ouviu António Balduíno.

Pois olhe que havia aqui muito homem que queria ir com o senhor.

 - Os homens de lá têm coragem? - António Balduíno insistiu.

O homem passou a mão na carapinha do pretinho e falou para os outros:

 - Lá é uma terra braba… Terra de tiro e de morte…

António Balduíno estava com os olhos fixos no homem, esperando que ele contasse as coisas daquela terra.

 - Lá se mata para fazer aposta… Os homens apostam como é que um viajante vai cair: se do lado direito, se do lado canhoto.

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