quarta-feira, maio 15, 2013


JUBIABÁ

Episódio Nº 16


Foi no morro do Capa Negro que resolveu lutar. Tudo o que fez, depois, foi devido às histórias que ouviu nas noites de lua na porta da casa de sua tia.

Aquelas histórias, aquelas cantigas tinham sido feitas para mostrar aos homens o exemplo dos que se revoltaram. Mas os homens não compreendiam ou já estavam muito escravizados.

Porém alguns ouviam e entendiam. António Balduíno foi destes que entenderam.



Havia uma mulher chamada Augusta das Rendas, que vivia no morro e morava pegada à casa de Luísa. Chamavam-na das Rendas, porque ela passava o dia fazendo rendas que vendia, aos sábados, na cidade.

Quando pensavam que ela estava olhando para uma determinada coisa, ela estava era com os olhos perdidos no céu, numa coisa invisível.

Era das assíduas na macumba de Jubiabá e se bem não fosse negra gozava ante o pai de santo de um grande prestígio. Dava tostões a António Balduíno, tostões que ele gastava comprando queimadas, ou fazendo vaca para comprar de cigarro vagabundo, de sociedade com Zebedeu.

Inventavam histórias sobre a vida de Augusta, pois ela aparecera um dia no morro sem dizer de onde vinha nem para onde ia.

 Ficou, ninguém sabia nada da sua vida. Mas, como ela tinha aquele olhar perdido e um sorriso triste imaginavam coisas sobre ela, histórias de infelicidades amorosas, de aventuras tristes. Ela mesmo quando lhe perguntavam algo sobre a sua vida, dizia somente:

 - Minha vida é um romance… É só escrever…

Quando estava vendendo rendas (e ainda contava os metros por um processo muito rudimentar: juntando a renda e a mão direita por debaixo do queixo) não raro se atrapalhava:

 - Um… dois… três… – parava zangada e agitada – vinte o quê… Quem foi que disse vinte? Eu ainda estou em três…

Olhava para a freguesa e explicava:

 - Ele me atrapalha que a senhora não imagina… Eu estou contando direito e ele começa contando ao meu ouvido depressa que faz medo. Quando eu ainda estou em três já ele está em vinte… Eu não posso com ele.

E fazia súplicas:

 - Vá embora que eu quero vender minhas rendas direito… vá embora…

 - Mas quem é ele, sinhá Augusta?

 - Quem é, tá aí… Quem pode ser? É esse malvado que vive me acompanhando. Nem depois de morto deixa de me perseguir.

Outras vezes o espírito resolvia se divertir e então enlinhavava as pernas de Augusta. Ela parava no meio da rua e com uma paciência imensa começava a tirar as linhas que ele tinha passado nas suas pernas.

 - O que é que está fazendo, sinhá Augusta? – perguntavam

 - Não está vendo? Estou tirando as linhas que aquele desgraçado pôs nas minhas pernas para eu não poder andar e não vender as minhas rendas… Ele quer que eu morra de fome

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