sexta-feira, maio 24, 2013


JUBIABÁ

Episódio nº 24


No outro dia veio um carro do hospício, dois homens pegaram a velha e a levaram. António Balduíno se agarrou a ela. Não queria deixar que a levassem. Tentava explicar:

 - Não é nada, não. É só dor de cabeça que ela tem. Mas pai Jubiabá cura… Não leva ela…

Luísa cantarolava, indiferente a tudo.

Mordeu a mão do enfermeiro e só a soltou quando o trouxeram à força para casa de Augusta. Então todos foram muito bons para ele.

Zé Camarão veio conversar com ele, falar em violão e capoeira, seu Lourenço da venda lhe deu caramelos, sinhá Augusta dizia “coitadinho, coitadinho”. Veio também Jubiabá que amarrou uma figa no pescoço de António Balduíno:

 - Isso é para você ser forte e corajoso…Eu gosto de você.


Ficou uns dias na casa de Augusta. Uma manhã, porem, ela o vestiu com a melhor roupa e o levou pela mão. Ele perguntou para onde iam.

 - Você agora vai morar numa casa bonita. Vai morar com o conselheiro Pereira. Ele vai-lhe criar…

António Balduíno não disse nada. Mas pensou logo em fugir. Quando já iam perto da ladeira encontraram Jubiabá. António Balduíno beijou a mão do feiticeiro que disse:

 - Quando crescer venha cá. Quando tiver homem.

Os meninos estavam todos parados na rua, espiando. Balduíno deu adeus com tristeza. Desceu.

Lá de baixo ainda viu a figura de Jubiabá, sentado num barranco do morro, o camisu agitado pelo vento., folhas de ervas na mão.


TRAVESSA ZUMBI DOS PALMARES

Velha rua de casas sujas e de sobrados de cor indefinida. Vinha numa recta sem desvios. Os passeios das casas é que eram desencontrados, uns altos, outros baixos, alguns avançando para o centro da rua, outros medrosos de se afastarem do centro da porta. Rua mal calçada de pedras desarrumadas, plantada de capim.

O silêncio e o sossego subiam de tudo e desciam de tudo. Vinham do mar distante, dos montes, lá atrás, das casas sem luz, das luzes mesmo dos raros postes, das pessoas, baixavam do ar sobre a gente e envolviam a rua e as criaturas. Parecia que a noite chegava mais cedo para a Travessa Zumbi dos Palmares que para o resto da cidade.


Nem o mar que batia nas pedras, ao longe, acordava o sono da rua que seria uma velha solteirona à espera de noivo que partira para as capitais distantes e se perdera na confusão dos homens apressados.

A zona era triste. Uma travessia agonizante. A calma da rua pesava com um ar de agonia. Agonizava tudo em redor. As casas, o morro, as luzes. O silêncio era duro e fazia sofrer.

A Travessa Zumbi dos Palmares agonizava. Como estavam velhas as casas, como saltavam as pedras do calçamento!

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