Episódio nº 24
No outro dia veio um carro do hospício,
dois homens pegaram a velha e a levaram. António Balduíno se agarrou a ela. Não
queria deixar que a levassem. Tentava explicar:
-
Não é nada, não. É só dor de cabeça que ela tem. Mas pai Jubiabá cura… Não leva
ela…
Luísa cantarolava, indiferente a tudo.
Mordeu a mão do enfermeiro e só a soltou
quando o trouxeram à força para casa de Augusta. Então todos foram muito bons
para ele.
Zé Camarão veio conversar com ele, falar
em violão e capoeira, seu Lourenço da venda lhe deu caramelos, sinhá Augusta
dizia “coitadinho, coitadinho”. Veio também Jubiabá que amarrou uma figa no
pescoço de António Balduíno:
-
Isso é para você ser forte e corajoso…Eu gosto de você.
Ficou uns dias na casa de Augusta. Uma
manhã, porem, ela o vestiu com a melhor roupa e o levou pela mão. Ele perguntou
para onde iam.
-
Você agora vai morar numa casa bonita. Vai morar com o conselheiro Pereira. Ele
vai-lhe criar…
António Balduíno não disse nada. Mas
pensou logo em fugir.
Quando já iam perto da ladeira encontraram Jubiabá. António
Balduíno beijou a mão do feiticeiro que disse:
-
Quando crescer venha cá. Quando tiver homem.
Os meninos estavam todos parados na rua,
espiando. Balduíno deu adeus com tristeza. Desceu.
Lá de baixo ainda viu a figura de
Jubiabá, sentado num barranco do morro, o camisu agitado pelo vento., folhas de
ervas na mão.
TRAVESSA ZUMBI DOS PALMARES
Velha rua de casas sujas e de sobrados
de cor indefinida. Vinha numa recta sem desvios. Os passeios das casas é que
eram desencontrados, uns altos, outros baixos, alguns avançando para o centro
da rua, outros medrosos de se afastarem do centro da porta. Rua mal calçada de
pedras desarrumadas, plantada de capim.
O silêncio e o sossego subiam de tudo e
desciam de tudo. Vinham do mar distante, dos montes, lá atrás, das casas sem
luz, das luzes mesmo dos raros postes, das pessoas, baixavam do ar sobre a
gente e envolviam a rua e as criaturas. Parecia que a noite chegava mais cedo
para a Travessa Zumbi dos Palmares que para o resto da cidade.
Nem o mar que batia nas pedras, ao
longe, acordava o sono da rua que seria uma velha solteirona à espera de noivo
que partira para as capitais distantes e se perdera na confusão dos homens
apressados.
A zona era triste. Uma travessia
agonizante. A calma da rua pesava com um ar de agonia. Agonizava tudo em redor. As casas, o
morro, as luzes. O silêncio era duro e fazia sofrer.
A Travessa Zumbi dos Palmares agonizava.
Como estavam velhas as casas, como saltavam as pedras do calçamento!
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