terça-feira, maio 28, 2013

JUBIABÁ

Episódio Nº 27


- Porquê?

 - Acho que foi espírito que deu nela… espírito dos brabos. Não larga tão cedo. Eu conheço muito desse negócio de espírito…

António Balduíno fazia um biquinho de choro. O comendador alisou a sua carapinha e disse:

 - Não tenha medo que ninguém vai lhe comer.

Dona Maria perguntou a Augusta:

 - Por falar em espírito como vai você com o seu?

 - Ah! Dona Maria, nem me fale. Cada vez me persegue mais. Agora deu para ficar bêbado e cai para cima do meu ombro. É um peso tão grande que eu não aguento. Já vivo cansada.

- Por que não vai a uma sessão?

 - Ah! eu vou sim. Todo o sábado vou. Pai Jubiabá tira ele mas ele volta de novo. Sempre foi teimoso…

 - Mas isso é macumba. Você precisa ir é a uma sessão de verdade. Na Ladeira de São Miguel tem uma muito boa.

 - Nada, Dona Maria. Se pai Jubiabá não tira ele, quem é que vai tirar? E eu até nem me importo. Só que ele me atrapalha muito. E agora deu pra beber. Não tá vendo. Eu estou aqui mas estou tão cansada que a senhora não imagina. Ela está trepada no meu cangote, pesado que faz medo…

Virou-se para o comendador.

 - Deus lhe paga, seu comendador, essa caridade que o senhor está fazendo com o menino…Deus lhe paga dando saúde a todos desta casa…

 - Obrigado, sinhá Augusta. Agora leve o menino lá para dentro e diga a Amélia para dar comida a ele.

E o comendador atacou o prato de doces de caju. Dona Maria acrescentou:

 - E você, Augusta, coma alguma coisa.



Na cozinha, Amélia fez uns pratos bem avantajados para eles. E ficaram comendo os três enquanto Augusta contava à cozinheira a história de António Balduíno com grande comoção.

A cozinheira limpava as lágrimas no avental e António Balduíno, quando ouviu falar na loucura da tia, deixou de comer para soluçar.

Após vender rendas, Augusta se despediu de António Balduíno.:

 - De vez em quando eu venho lhe ver.

Só então o negrinho compreendeu que estava separado do morro, que o haviam arrancado do lugar onde nascera e se criara, onde aprendera tanta coisa, e que o haviam jogado, a ele, o mais livre dos moleques do morro, na casa de um senhor.


Desta vez não chorou. Ficou espiando a casa, pensando na fuga.

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