domingo, maio 05, 2013

Largo do Seminário
Hoje é 

Domingo

(Da minha cidade de Santarém)

Sentimos sobre nós as nuvens negras que pairam e se agravam sobre o nosso país, apenas um pouco piores do que nos restantes países do Sul da Europa, talvez com excepção da Grécia.

 Por vezes, julgamos rasgar-se uma aberta mas logo ela desaparece. Chego a pensar que temos um desígnio marcado ao qual não conseguimos fugir como parte fraca que somos desta ridícula União Europeia.

Parece evidente que a Europa devia repensar-se a si própria nesta separação que ganha caminho entre Sul e Norte mas, na verdade, a ruptura que existe é entre credores e devedores, entre quem tem dinheiro e quem o não tem e, no entanto, são duas faces da mesma moeda porque dependem uns dos outros.

Vive-se num equilíbrio perto da ruptura porque os credores, na tentativa de defenderem os seus interesses, impõem aos países devedores cada vez maiores sacrifícios a bem do pagamento da dívida, e os devedores queixam-se de que asfixiados por esses sacrifícios não conseguem produzir riqueza que lhes permitam pagar.

A interligação entre Economia e Finanças revelou-se mais forte do que os especialistas esperavam porque o desemprego disparou para além do previsto fazendo aumentar as despesas sociais e baixando as receitas.

No mundo egoísta em que vivemos - e eu pergunto se alguma vez houve outro -  não é de esperar seja o que for fruto de um sentimento de solidariedade entre os países. As decisões, infelizmente, tomam-se com lápis e papel na mão se ainda estivéssemos nesse tempo…

 Por isso, a necessidade de reforçar a União Bancária, Fiscal e Orçamental da Comunidade Europeia e é aqui que se nota uma grave indecisão de países que tendo embarcado nesta aventura aliciante agora se mostram temerosos e pouco inteligentes porque o medo e o “tribalismo” retiram o discernimento.

Graves desigualdades sociais, situações de desespero de grupos cada vez maiores de pessoas podem levar a uma agitação incontrolável e ao surgimento de forças políticas extremistas e radicais que se aproveitam da insatisfação que leva à violência. Sempre foi assim…

Não podemos esquecer que os europeus da geração de trinta e quarenta, aqui, neste mesmo espaço geográfico, se mataram aos milhões e em 1945 todo o centro da Europa estava em ruínas passado que foi a ferro e fogo.

O homem é o mesmo e ele não é de fiar… e exactamente porque é assim a União Europeia foi um projecto para a paz.

Quem hoje pensar o futuro da Europa de uma maneira calculista, interesseira e egoísta, vivendo feliz dentro das suas fronteiras porque tem um nível baixo de desemprego e um saldo excedentário da sua balança comercial deve estar atento a todos os sinais.

O mundo progrediu imenso nos últimos trinta, quarenta anos. O pós guerra tem sido um período de prosperidade e de paz e países que há menos de quarenta anos tinham pouca importância no palco internacional são hoje potências mundiais e nós, europeus, ocidentais, temos que pensar que o nosso papel já não pode ser o mesmo mas não o menosprezemos.

A guerra faz-se agora de maneira diferente. A Alemanha manda na Europa e nem exército possui…Substituiu o canhão real pelo canhão financeiro comparando-se os mensageiros da troika aos SS.

A nós, armou-nos uma conspiração e caímos que nem “patinhos”… Entregou-nos dinheiro e crédito barato para nos sobreendividarmos e, de caminho, desmontar as nossas pescas, indústria e agricultura. Quinze ou vinte anos depois o resultado está à vista…

A China, dona de 2/3 da dívida americana, depois de partir do zero, tem já uma rede de auto-estradas maior do que a dos Estados Unidos… O Brasil, que se afundou em petróleo, é ouvido e respeitado…

Será que uma Europa de milhões de novos “pedintes” que ainda há pouco tempo até viviam bem é o que interessa à própria Europa e ao mundo?...

Artur Perez Reverte, jornalista de guerra e escritor espanhol, escreveu um livro com o título “O homem esse hijo da puta” e ele, por tudo o que tinha vivido, sabia do que falava… “dêem-lhe um motivo, um pretenso motivo e ele atira-se ao vizinho e mata-o com requintes de malvadez”.

Atenção ao acumular de ódios que não são bons conselheiros. Empobrecer é um processo muito doloroso e ainda mais quando os partidos políticos não prepararam as pessoas sempre com discursos de promessas, fora da realidade e, acima de tudo, sem darem o exemplo da austeridade e rigor que apregoam.

Em situações de crise, como esta, falar verdade e dar o exemplo explicando a inevitabilidade e o porquê das decisões difíceis é fundamental mas isso só é possível a políticos com prestígio e credibilidade.

Sinceramente, na “arena” política nacional e europeia eles não se descortinam.

Internamente, estamos divididos entre os que querem rasgar o Acordo com a troika e embarcar no abandono do euro e os outros, mais precavidos, menos audaciosos, percebendo os males para o país das actuais políticas restritivas mas entendendo que, apesar de tudo, neste momento, não há outro caminho que não seja o de continuar.

Ficar ou partir do euro… acho que ainda não é o momento de decidir.

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