António Balduíno era perito na arte da capoeira... |
JUBIABÁ
Episódio Nº 43
- Vou mandar o Gordo lá…
O Sem Dentes se afrontou:
- Mandar outro? Pra quê? A
gente deve é ir logo rebentando a cara deles… Dá uma lição… Eles vem tirar
nossos pão e você ainda quer fazer paz…Nem devia ter mandado o Belo… A gente
passou vergonha… Vamos logo lá…
- Os outros apoiavam:
- O Sem Dentes falou direito… Vamos lá…
Mas António Balduíno
atalhou:
- Nada disso… Vou mandar o Gordo lá… Quem sabe
se eles não tão passando fome… Se eles qui ser
ficar só com o pedaço da Baixa dos Sapateiros, eu deixo eles em paz…
O Sem Dentes riu:
- Parece que você tá com medo, Baldo…
- Você nem se lembra mais, Sem Dentes, do dia
que a gente pegou você e Cici morrendo de fome na Cidade de Palha… Se a gente qui sesse podia também acabar com vocês… Mas a gente
não qui s…
O Sem Dentes baixou a
cabeça e ficou assobiando baixinho. Não pensava mais nos negros que estavam no
Terreiro, e agora pouco lhe importava que António Balduíno acabasse com eles ou
os deixasse em paz.
Pensava naqueles dias de
fome, seu pai desempregado, bebendo nos botequi ns
o dinheiro que a mãe arranjava lavando roupa.
Se recordava da surra que
levara no dia em que se metera entre a velha e o pai quando este queria tomar o
dinheirinho a pulso. E o choro de sua mãe… O pai que repetia. Merda… merda…
Depois a fuga. Os dias com
fome na cidade. O encontro com António Balduíno e o grupo. E a vida de depois…
Onde andaria sua mãe? E seu pai já teria arranjado trabalho?
Quando ele estava
trabalhando não bebia nem batia na mãe. Era carinhoso e trazia presentes… Mas
havia pouco trabalho e, desempregado, o velho matava as mágoas na garrafa de
cachaça.
O Sem Dentes pensava nisso
tudo. E sentia um nó na garganta e um ódio terrível do mundo e dos homens.
O Gordo foi em comissão
debaixo dos sorrisos de Felipe, o Belo.
- Se eu não arranjei nada quanto mais você…
Viriato, o Anão, murmurou:
- Fale direito, Gordo. A gente não quer brigar…
Quer é cada um viver pra seu lado…
Ficaram esperando na rua
do Tesouro. O Gordo se benzeu e se dirigiu para o Terreiro.
Demorou a voltar. Viriato,
o Anão, disse:
- Não estou gostando…
O Belo riu:
- Ele está numa igreja rezando…
Cici achava que ele estava
acertando as coisas, mas todos estavam desconfiados que algo acontecera ao
embaixador. E acontecera mesmo.
Quando o Gordo voltou
chorava.
- Me pegaram e me deram uma surra… E jogaram
fora o santo que estava no meu pescoço…
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