Baiana do Acarajé |
JUBIABÁ
Episódio Nº 36
O mais estranho de todos
eles era porém Viriato o Anão. O apelido fora-lhe dado devido a ele ser
baixinho, mais baixo mesmo que Filipe apesar de três anos mais velho.
Baixote e pesadão, possuía
uma força prodigiosa para a sua idade. Mesmo quando tomava banho dava a
impressão de sujeira e de miséria.
Quando o grupo se formou
já ele mendigava através das ruas da cidade. A sua cabeça chata metia medo. E
para meter mais impressão andava curvo, o que o fazia parecer mais baixo e
corcunda. Custava arrancar de Viriato uma palavra. E enquanto os outros riam em
gargalhadas soltas ele apenas sorria.
Mas não aborrecia ninguém,
nunca reclamava quando o grupo pouco fazia, e se contentava com o que havia
para comer e com pontas de cigarro para fumar.
António Balduíno gostava
dele, sujeitava à sua opinião muitas resoluções, dava-lhe o maior prestígio.
Durante o dia, Viriato o
Anão, pouco se movia com o grupo. Ficava parado na rua Chile, as pernas
encolhidas, todo curvo, a cabeça chata acachapada sobre o pescoço. Estendia sem
uma palavra o chapéu aos que passavam. Parecia fazer parte da porta onde se
sentava como uma escultura trágica, um monstro de igreja.
A sua féria era sempre
gorda. Pelo fim da tarde se encontrava com o grupo e depositava nas mãos de
António Balduíno o resultado do trabalho do dia.
Depois de feitas as contas
e haver recebido a sua parte, ia para um canto, comia, fumava, dormia.
Acompanhava os outros nos passeios malandros pelas ruas da cidade, nas caçadas
a criadinhas nos areais, nas brigas, nas festas, mas sem nenhum entusiasmo.
Acompanhava por acompanhar.
Era o único do grupo dos
moleques que mendigava que levava a sério a profissão.
No fim da tarde António
Balduíno se sentava no chão, reunia os moleques em torno de si e ia recolhendo
o dinheiro ganho durante o dia. Eles remexiam os bolsos das velhas calças,
puxavam níqueis e algumas pratas e depositavam na mão do chefe.
- E você Gordo, quanto?
O Gordo contava o
dinheiro:
- Cinco mil e oitocentos…
- E o Belo?
Filipe atirava com um
gesto de superioridade a sua féria:
- Dezasseis mil réis…
Não era preciso chamar
Viriato:
- Doze e cem…
Os outros iam chegando. O
boné de Balduíno se enchia aos poucos de prata e níqueis. Por último António
Balduíno vasculhava os bolsos e juntava a sua féria.
- Fiz pouco… Sete mil réis…
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