sexta-feira, junho 07, 2013

Baiana do Acarajé
JUBIABÁ

Episódio Nº 36



O mais estranho de todos eles era porém Viriato o Anão. O apelido fora-lhe dado devido a ele ser baixinho, mais baixo mesmo que Filipe apesar de três anos mais velho.

Baixote e pesadão, possuía uma força prodigiosa para a sua idade. Mesmo quando tomava banho dava a impressão de sujeira e de miséria.

Quando o grupo se formou já ele mendigava através das ruas da cidade. A sua cabeça chata metia medo. E para meter mais impressão andava curvo, o que o fazia parecer mais baixo e corcunda. Custava arrancar de Viriato uma palavra. E enquanto os outros riam em gargalhadas soltas ele apenas sorria.

Mas não aborrecia ninguém, nunca reclamava quando o grupo pouco fazia, e se contentava com o que havia para comer e com pontas de cigarro para fumar.

António Balduíno gostava dele, sujeitava à sua opinião muitas resoluções, dava-lhe o maior prestígio.

Durante o dia, Viriato o Anão, pouco se movia com o grupo. Ficava parado na rua Chile, as pernas encolhidas, todo curvo, a cabeça chata acachapada sobre o pescoço. Estendia sem uma palavra o chapéu aos que passavam. Parecia fazer parte da porta onde se sentava como uma escultura trágica, um monstro de igreja.

A sua féria era sempre gorda. Pelo fim da tarde se encontrava com o grupo e depositava nas mãos de António Balduíno o resultado do trabalho do dia.

Depois de feitas as contas e haver recebido a sua parte, ia para um canto, comia, fumava, dormia. Acompanhava os outros nos passeios malandros pelas ruas da cidade, nas caçadas a criadinhas nos areais, nas brigas, nas festas, mas sem nenhum entusiasmo. Acompanhava por acompanhar.

Era o único do grupo dos moleques que mendigava que levava a sério a profissão.


No fim da tarde António Balduíno se sentava no chão, reunia os moleques em torno de si e ia recolhendo o dinheiro ganho durante o dia. Eles remexiam os bolsos das velhas calças, puxavam níqueis e algumas pratas e depositavam na mão do chefe.

 - E você Gordo, quanto?

O Gordo contava o dinheiro:

 - Cinco mil e oitocentos…

 - E o Belo?

Filipe atirava com um gesto de superioridade a sua féria:

 - Dezasseis mil réis…

Não era preciso chamar Viriato:

 - Doze e cem…

Os outros iam chegando. O boné de Balduíno se enchia aos poucos de prata e níqueis. Por último António Balduíno vasculhava os bolsos e juntava a sua féria.

 - Fiz pouco… Sete mil réis…

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